São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2007

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Denúncia por morte de filho surpreende pai, diz advogado

Biólogo que esqueceu o bebê dentro do carro esperava a suspensão do processo

Denunciado por homicídio culposo pelo Ministério Público, ele poderá pegar até 3 anos de prisão; caso ocorreu em 12 de abril deste ano


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O biólogo Ricardo César Garcia, 31, que em abril esqueceu o filho no carro durante quase quatro horas, causando a morte da criança, ficou surpreso ao saber que foi denunciado pelo Ministério Público por homicídio culposo (sem intenção) e que agora irá ao banco dos réus.
Segundo seu advogado, Johnni Flávio Brasilino Alves, ele estava tenso com a espera da decisão e tinha esperança de receber a suspensão condicional do processo -como ocorreu com Carlos Alberto Legal Filho, que em 12 de abril de 2006 esqueceu o filho no carro, levando a criança à morte.
"O Ricardo não esperava ser denunciado pelo homicídio do próprio filho, ele ficou surpreso", afirmou Alves. "Eu, como advogado, sei que o posicionamento do Ministério Público é imprevisível, mas esperava que o Estado tivesse um pouco de sensibilidade nesse caso. Foi uma tragédia."
O promotor do caso, Ricardo Manuel Castro, poderia oferecer ao acusado a suspensão condicional do processo, mas optou por oferecer denúncia por achar que não havia razão para isso (leia entrevista nesta página). Se for considerado culpado, o biólogo pode pegar de um a três anos de reclusão.
Alves afirma que a estratégia da defesa, por enquanto, não será pedir perdão judicial -quando a Justiça reconhece que houve crime mas que as conseqüências deste foram tão severas que não é necessária uma pena. "Vamos pedir a absolvição porque ele não quis matar o filho." O advogado aguarda que a Justiça marque a data do interrogatório, que deve ser realizado daqui a dois ou três meses.
Na manhã do dia 12 de abril, o biólogo esqueceu o filho de 1 ano e 4 meses dentro do carro da família, em Guarulhos (Grande São Paulo), por quase quatro horas. Ao se lembrar do garoto, encontrou-o desacordado e foi para o hospital. A criança, porém, chegou morta, com parada cardiorrespiratória e temperatura acima dos 40 C.
Garcia estava nos primeiros dias de férias e teve sua rotina alterada, fatos que, segundo alguns psicólogos, podem explicar o esquecimento.
De acordo com o advogado, Garcia não está dando entrevistas porque não tem condições emocionais. "Ele e a esposa estão tendo acompanhamento psiquiátrico e tomando medicamentos, mas Ricardo voltou a trabalhar."
Desde a morte do filho, porém, o casal Garcia não retornou ao apartamento onde morava em Guarulhos. Assim como o imóvel, o carro da família também está à venda. Amigos do casal contam que os dois ainda não começaram a se recuperar da perda do filho e que a mãe da criança passa boa parte do dia dormindo.


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