São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Médicos defendem piso no setor público

Categoria reivindica criação de plano de carreira e aprovação de projeto na Câmara que prevê piso de R$ 7.000 no setor público

Carga horária de quase 1/3 dos profissionais ultrapassa 60 horas semanais; por lei, em um só local de trabalho, limite é de 35 horas, diz advogada


DA REPORTAGEM LOCAL

A carga horária de quase um em cada três médicos que atuam no Estado de São Paulo é superior a 60 horas semanais e a média salarial dos que atendem no SUS (Sistema Único de Saúde) é de R$ 1.916,58 por 20 horas semanais trabalhadas.
Os dados foram apresentados ontem pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em evento que reuniu as principais entidades médicas do país em São Paulo e culminou com manifestação na avenida Paulista.
Segundo a advogada trabalhista Sonia Mascaro, a lei prevê que um médico empregado em um local trabalhe cinco horas por dia, podendo somar no máximo duas horas extras. Isso dá 35 horas semanais -caso atue como plantonista, está sujeito a um modelo diferente.
Os números do conselho buscam dar força às reivindicações da categoria. A principal delas é a aprovação de um projeto de lei que tramita na Câmara prevendo piso de R$ 7.000 aos médicos que atendem no setor público.
A criação de um plano de carreira e a ampliação dos procedimentos cobertos pelo SUS também estão entre os pedidos.
Em um dos levantamentos, feito em 55 cidades no Estado em 2008, o Cremesp constatou que o salário inicial chega a R$ 1.048 no município de Bocaina (305 km de São Paulo) -sem contar bonificação.
Para médicos ouvidos pela Folha, isso contribui para uma queda na qualidade de atendimento e reflete os dados obtidos em outra pesquisa apresentada pelo Cremesp, sobre as condições de trabalho dos médicos. Realizada pelo Datafolha em 2007, ela diz, por exemplo, que aproximadamente 32% desses profissionais no Estado têm quatro ou mais empregos.

Piora no atendimento
Para João Ladislau Rosa, primeiro-secretário do Cremesp, os baixos salários e o grande número de horas trabalhadas prejudicam o atendimento.
"Se está em início de carreira, acaba dando plantão durante a semana, pois não consegue cobrir seus gastos. A rotina é cansativa e estressante."
Ele afirma ainda que, com o que ganha, esse profissional não consegue bancar uma atualização periódica.
O oftalmologista Carlos Izzo, 52, diz ser um exemplo disso. O médico conta que trabalha seguramente mais de 60 horas semanais em seus quatro trabalhos. "Sou médico do trabalho em unidades de saúde em São Paulo e em Diadema e ainda atendo em uma empresa e em meu consultório. Quem sai mais prejudicado com esse tipo de rotina é a população", diz.
Quem também critica as atuais condições de trabalho é o presidente da Associação Paulista de Medicina, Jorge Curi.
"O salário é muito defasado e os médicos são itinerantes, de um emprego para o outro em estado de estafa, estresse. Eles fazem um esforço sobre-humano para dar um atendimento bom. Aí se reclama que o médico não está conversando, que está atendendo rápido", afirma.
Anteontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, foi ao evento das entidades médicas. "É necessário que repactuemos e dignifiquemos as condições de trabalho de todos os médicos", disse, sem anunciar apoio específico aos valores pedidos. (MÁRCIO PINHO)


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