São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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FOCO

Professora traduz filmes pornográficos

Bico eleva renda de docente que gasta cerca de 10 horas semanais com serviço

MÁRCIO PINHO
DE SÃO PAULO

À tarde, Giovana dá aulas de inglês para alunos de até 11 anos em São Paulo. Na escola, ninguém desconfia que pelas manhãs a professora tem uma missão bem diferente: traduzir filmes pornôs.
São em média dez horas de vídeos eróticos assistidos por semana em seu notebook.
O ambiente de trabalho é o próprio quarto, por onde dois gatos passeiam e uma almofada em formato de coração repousa sobre a cama. Sua maior preocupação é que o filho de 12 anos veja alguma imagem pornográfica.
Nesse mesmo quarto, a professora de 28 anos, formada em letras, recebeu a Folha e contou a experiência de traduzir filmes pornôs -sim, há algumas falas. Ela pediu para não ter o nome divulgado.
"Só havia assistido filmes "softporn" [mais leves, pouco explícitos] e logo no primeiro filme que traduzi vi várias pessoas fazendo sexo na neve", conta ela, que antes traduzia filmes históricos e desenhos como "Betty Boop".
Desde então, já se passaram três anos. Com três filmes traduzidos por semana, ela recebe até R$ 1.800 por mês, mais que o salário de professora, contribuindo para a renda total de R$ 2.500.
Hoje, já não se surpreende com o que assiste. Diz até que as cenas e falas dos filmes ajudam a apimentar suas relações com o marido, que a trouxe para o ramo -ele trabalha na edição de vídeos.

LÍNGUA
Giovana teve de desenvolver uma linguagem específica para esses filmes. "Achei que ia ser moleza. Só gemidos, muito yes, yes e fuck, fuck, mas às vezes é mais do que isso", afirma.
Seus velhos e tradicionais dicionários pouco ajudam. Pesquisas na internet e conversas com o amigo que morou nos EUA são mais eficazes para decifrar os "termos técnicos" da área.
Precisou ainda melhorar seus conhecimentos nas esferas mais vulgares do português. "Quem assiste não gosta de textos bobinhos, não é mesmo?".
Nas primeiras traduções, chegou a telefonar para o marido para perguntar como escrever este ou aquele palavrão. Sua maior dificuldade hoje são os filmes pornográficos em que "rappers" americanos atuam como atores e ainda cantam.
Giovana diz que não se tornou uma fã incondicional dos filmes pornôs. Quando acha uma imagem muito forte, minimiza a tela do computador e fica escutando. Reabre apenas quando há falas.
Enquanto isso navega na internet ou no MSN, tomando cuidado para não escrever para um amigo uma tradução do filme, por engano.
O que mais mexe com o imaginário de Giovana é algo que os fãs que leem suas legendas não imaginam. Seu hobby é admirar as mansões que servem de cenário para as produções americanas. Inspirada nelas, já trouxe ideias de decoração para seu apartamento.


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