|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOCO
Professora traduz filmes pornográficos
Bico eleva renda de docente que gasta cerca de 10 horas semanais com serviço
MÁRCIO PINHO
DE SÃO PAULO
À tarde, Giovana dá aulas
de inglês para alunos de até
11 anos em São Paulo. Na escola, ninguém desconfia que
pelas manhãs a professora
tem uma missão bem diferente: traduzir filmes pornôs.
São em média dez horas de
vídeos eróticos assistidos por
semana em seu notebook.
O ambiente de trabalho é o
próprio quarto, por onde dois
gatos passeiam e uma almofada em formato de coração
repousa sobre a cama. Sua
maior preocupação é que o filho de 12 anos veja alguma
imagem pornográfica.
Nesse mesmo quarto, a
professora de 28 anos, formada em letras, recebeu a Folha
e contou a experiência de traduzir filmes pornôs -sim, há
algumas falas. Ela pediu para não ter o nome divulgado.
"Só havia assistido filmes
"softporn" [mais leves, pouco
explícitos] e logo no primeiro
filme que traduzi vi várias
pessoas fazendo sexo na neve", conta ela, que antes traduzia filmes históricos e desenhos como "Betty Boop".
Desde então, já se passaram três anos. Com três filmes traduzidos por semana,
ela recebe até R$ 1.800 por
mês, mais que o salário de
professora, contribuindo para a renda total de R$ 2.500.
Hoje, já não se surpreende
com o que assiste. Diz até que
as cenas e falas dos filmes
ajudam a apimentar suas relações com o marido, que a
trouxe para o ramo -ele trabalha na edição de vídeos.
LÍNGUA
Giovana teve de desenvolver uma linguagem específica para esses filmes. "Achei
que ia ser moleza. Só gemidos, muito yes, yes e fuck,
fuck, mas às vezes é mais do
que isso", afirma.
Seus velhos e tradicionais
dicionários pouco ajudam.
Pesquisas na internet e conversas com o amigo que morou nos EUA são mais eficazes para decifrar os "termos
técnicos" da área.
Precisou ainda melhorar
seus conhecimentos nas esferas mais vulgares do português. "Quem assiste não gosta de textos bobinhos, não é
mesmo?".
Nas primeiras traduções,
chegou a telefonar para o
marido para perguntar como
escrever este ou aquele palavrão. Sua maior dificuldade
hoje são os filmes pornográficos em que "rappers" americanos atuam como atores e
ainda cantam.
Giovana diz que não se tornou uma fã incondicional
dos filmes pornôs. Quando
acha uma imagem muito forte, minimiza a tela do computador e fica escutando. Reabre apenas quando há falas.
Enquanto isso navega na
internet ou no MSN, tomando cuidado para não escrever
para um amigo uma tradução do filme, por engano.
O que mais mexe com o
imaginário de Giovana é algo
que os fãs que leem suas legendas não imaginam. Seu
hobby é admirar as mansões
que servem de cenário para
as produções americanas.
Inspirada nelas, já trouxe
ideias de decoração para seu
apartamento.
Texto Anterior: No Rio, edifícios recorrem à blindagem Próximo Texto: Frase Índice
|