São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Autoras dos planos originais das avenidas Paulista e Hélio Pellegrino apontam "erros grosseiros" nas mudanças

Paisagistas criticam projeto da Faria Lima

DA REPORTAGEM LOCAL

O palmeiral plantado nas avenidas Faria Lima e Hélio Pellegrino, zonas oeste e sul de São Paulo, mobilizou duas paisagistas da cidade. Rosa Grena Kliass, uma das mais conceituadas, e Saide Kahtoumi Proost de Souza enviaram cartas à prefeita Marta Suplicy alertando sobre o "mau gosto" do projeto paisagístico, que, segundo elas, comete erros grosseiros.
Saide é autora do projeto original da Hélio Pellegrino, feito em 1992, e desfeito agora para dar lugar às palmeiras. Segundo a planilha de custos da licitação, serão plantadas 1.250 espécies, entre árvores, arbustos e palmeiras, no canteiro central das vias. Dessas, 525 são palmeiras -macaúbas, jerivás e 39 imperiais.
A licitação, com custo previsto em R$ 1,87 milhão, foi vencida pela empresa de obras públicas Consladel de São Paulo, segundo o critério de menor preço, por R$ 1,39 milhão. A empresa venceu ainda outras duas das sete concorrências, duas das quais com projeto em execução.

Pouca qualidade
"Não se questiona o dinheiro. Aplicar verba em paisagismo, em uma cidade como São Paulo, é admirável. Mas como gastar tanto em tão pouca qualidade?", questiona Rosa Kliass.
Os erros, dizem, começam no conceito. Ciclovia ou pista para caminhada em canteiro central de via expressa fere recomendação do DSV (Departamento de Operações do Sistema Viário). "É inclusive arriscado. Há cruzamentos que interrompem o caminho e são perigosos", diz Saide.
Os artigos 94 e 106 do Plano Diretor, enviado à Câmara Municipal pela prefeitura, também desaconselham equipamentos em canteiros de vias expressas.
Além disso, a região é um fundo de vale, portanto sujeita a inundações. Impermeabilizar o canteiro, segundo as paisagistas, atenta contra a qualidade ambiental.
"São tantos os erros que chega a constranger", afirma Saide, que chama a atenção para o paliteiro formado pelas palmeiras. "Elas só aumentam a poluição visual já intensa do local, cheio de postes e sinalização de tráfego. As palmeiras exigem espaço para a contemplação porque são altas. Dali, só se vê os troncos", considera Saide.
Introduzidas por dom João 6º no Brasil, no século 19, as palmeiras imperiais são usadas para pontuar edifícios monumentais. Pela altura, eram plantadas diante de igrejas para identificar a localização à distância. Também costumam ser dispostas em fileiras nas entradas de palácios.
"Aquele canteiro tem uma variedade enorme de largura. Há trechos com menos de um metro, e que têm duas, três palmeiras. Não sei como vai ficar", diz Saide.

Sem democracia
Para Katia Rodrigues de Almeida, engenheira agrônoma especializada em paisagismo em Londres, Inglaterra, o processo de transformação da Faria Lima foi "lamentável". "Em se tratando de uma avenida importante e com profissionais tão renomados quanto os nossos, o mínimo a esperar seria um concurso de projetos", considera Katia.
No caso da Hélio Pellegrino, na avaliação de Saide, houve desrespeito a uma obra com autoria. "Um projeto paisagístico leva tempo para ser concluído. Quando o meu começava a se configurar, foi dilapidado", diz.
Mesmo problema diz enfrentar Rosa Kliass com a avenida Paulista. O projeto, da década de 70, é de sua autoria. Na semana passada, a prefeita Marta Suplicy fez uma "eleição" para escolher o novo piso da avenida. A opção vencedora foi trocar o mosaico português, desenhado por Rosa há 30 anos, por blocos de concreto coloridos.
"Não é só desrespeito, é burrice dos nossos governantes, que não sabem nem tirar proveito político disso", afirma Rosa Kliass. "O que a população sabe sobre qualidade de um piso? Gestão participativa não exclui especialistas." (SD)

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