São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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OUTRO LADO

Cotação menor surpreende Emurb

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Maurício Faria e Sérgio Marin de Oliveira, respectivamente presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) e coordenador do Departamento de Paisagismo e Meio Ambiente do órgão, as cotações feitas pela Folha de palmeiras até quase cinco vezes mais baratas que as adquiridas pela prefeitura para o projeto paisagístico das avenidas Faria Lima e Hélio Pellegrino foram "uma grande surpresa".
"É impossível que haja preços mais baixos [do que os que estão nos contratos]. Pode ligar para qualquer empresa. No mercado sério, você não encontra uma palmeira de dez metros por menos de R$ 4.000", disse inicialmente Oliveira, ao ser informado da diferença nos valores cobrados.
Depois que ficou sabendo em quais empresas os preços haviam sido pesquisados, entretanto, ele mudou de posicionamento.
"Na Flora Campineira? Eu fico surpreso, realmente não sabia e vou querer verificar. Mas os valores colocados por nós nos contratos não incluem apenas a muda e o seu transporte. Implicam também o plantio e cuidados especiais, adubo e solo específico", justificou o arquiteto, que chefiou a elaboração do projeto paisagístico da prefeitura tão criticado por especialistas da área.
Segundo Oliveira, o critério para a determinação do preço máximo na licitação foi técnico.
"Fizemos orçamentos em vários viveiristas. Os valores cobrados por determinadas espécies variavam dependendo da época", disse o coordenador.
Tanto Oliveira como Faria defenderam a "importação" de palmeiras de outros Estados como uma forma de dar à cidade de São Paulo uma maior "biodiversidade" e de refletir o caráter cosmopolita da capital.
"Mas fizemos isso sabendo que era possível encontrar as espécies por um preço viável e computando todas as dificuldades", afirma Sérgio Marin de Oliveira.

As "velas do bolo"
"E o projeto não trata só de palmeiras. Elas são até a menor parte num todo que prevê outros tipos de vegetação também. São as "velinhas bonitas do bolo", mas foram colocadas primeiro porque muitas delas precisam ser plantadas no verão", argumenta Faria.
Além disso, sustenta o presidente da Emurb, as palmeiras têm uma grande força simbólica, sendo sempre associadas ao Brasil.
"Artificial não é ter palmeiras em São Paulo; artificial é terem sumido com elas e colocado ficos em seu lugar", completou.
Os ficos são árvores comuns na cidade, mas que geralmente causam prejuízos às calçadas e à pavimentação, porque suas raízes crescem muito.
A escolha das palmeiras foi baseada também, afirmam ambos, na decisão de marcar visualmente grandes avenidas da cidade, criando uma referência visual.
"Mas a vegetação já existente não foi ignorada. Procurou-se incorporar a maior parte, menos os ficos pequenos", completa o presidente da Emurb.
Os caminhos no meio dos canteiros são justificados por ambos como uma forma de tornar mais segura e agradável a sua utilização pelos pedestres.
Isso porque, de acordo com Oliveira, evitaria que eles usassem a faixa do canteiro próxima à rua, como já é feito hoje.

Exageros
Sobre a maior probabilidade de as palmeiras adultas morrerem, Oliveira diz que não há razão para acreditar nisso; que é "um exagero dos especialistas". Segundo ele, já foram plantadas em torno de 400 das 600 palmeiras previstas, e só 10% delas não resistiram.
Para garantir a sobrevivência das plantas, a Emurb recorre a cuidados especiais, como exigir que o torrão seja maior, para aguentar o peso da árvore, que as raízes sejam "sangradas" (preparadas para absorver imediatamente os nutrientes do solo), que haja uma adubação especial e que as plantas tenham retentores de água, a fim de garantir a possibilidade de buscar água no solo mesmo em períodos de estiagem (como é o inverno paulistano) ou quando a manutenção não é feita.
"E a nossa estratégia foi plantar árvores adultas mesmo, para termos um impacto verde mais rápido e a revalorização imediata do espaço público. Mas acho que muitas críticas são baseadas em questões de gosto, então fica muito difícil de resolver", declarou o presidente da Emurb.
Faria e Oliveira defendem que o projeto foi desenvolvido segundo os princípios ambientais.
"A diretoria do Depave [Departamento de Parques e Áreas Verdes, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente" conhece o projeto e está de acordo com ele ", sustenta Oliveira.
Não é bem isso, porém, o que diz a secretária do Meio Ambiente, Stela Goldenstein. Segundo ela, o projeto, embora já esteja sendo colocado em prática, ainda passa por análise na secretaria.
A secretária municipal do Meio Ambiente, porém, faz uma ponderação. "O projeto de arrumar os canteiros centrais estava previsto como compensação no estudo de impacto ambiental da ampliação da avenida Brigadeiro Faria Lima, mas ficou parado durante anos. Por isso a sua concretização tem um mérito grande. É fácil criticar; difícil é fazer", afirmou a secretária.


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