São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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ENTREVISTA

Nova droga faz diminuir casos de demência

DA REPORTAGEM LOCAL

Quase um terço dos pacientes que sofrem um primeiro AVC (acidente vascular cerebral) acaba desenvolvendo algum tipo de demência ou sofrendo declínio importante da função cognitiva. Até agora, quase nada havia a fazer para impedir essa evolução.
Na quarta-feira passada, na 19ª reunião da Sociedade Internacional de Hipertensão, realizada em Praga, um estudo mostrou que o uso da droga perindopril pode fazer grande diferença. Pela pesquisa, o uso desse anti-hipertensivo consegue evitar 34% dos casos de demência e 45% das ocorrências de perda cognitiva severa.
Os resultados representam a segunda fase do Progress, sigla em inglês para "estudo da proteção do perindopril contra o AVC recorrente". A primeira fase dessa pesquisa de quatro anos, que acompanhou 6.105 pacientes em dez países e terminou no ano passado, concluiu que o uso do perindopril reduziu em 26% a ocorrência de um segundo derrame.
O emprego de anti-hipertensivo beneficiou tanto pacientes com pressão arterial elevada como pacientes com pressão normal. Até então, só as vítimas de AVC com hipertensão é que tomavam drogas para reduzi-la.
"Agora estamos diante de novos resultados importantes", disse Décio Mion Jr, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe da unidade de hipertensão do Hospital das Clínicas. Abaixo, trechos da entrevista que concedeu de Praga, por telefone.
(AURELIANO BIANCARELLI)

Folha - Qual a importância das conclusões dessa fase do Progress?
Décio Mion Jr
- As pessoas que têm um primeiro AVC passam a ter de cinco a nove vezes mais risco de sofrer de demência. Até recentemente, não tínhamos nada a fazer para impedir essa evolução. Agora temos. Não significa o controle da doença, mas o emprego desse anti-hipertensivo, o perindopril, leva a uma redução de 34% dos casos, como mostrou o estudo. É um ganho importante.

Folha - Qual a situação da demência hoje no mundo?
Mion Jr
- A demência já é um grave problema de saúde pública, que afeta seriamente a vida do paciente e de seus familiares. Em 1997, estimava-se que nos EUA havia 2,3 milhões de pessoas vítimas da demência. Em 2047, devem ser 8,6 milhões. Cerca de 25% das pessoas acima de 85 anos têm a doença. Acima dos 95 anos, o número chega a 50%. A maior parte dessa demência é devida ao derrame cerebral.

Folha - Como evitar o derrame??
Mion Jr
- A hipertensão e o colesterol elevados estão entre as principais causas, mas diabetes, cigarro, sedentarismo, estresse e o histórico familiar também pesam. Cada vez mais, os consensos internacionais pregam uma redução da pressão considerada normal. Os limites, que antes estavam em 14 por 9, hoje são 12 por 8. Níveis acima já merecem cuidados. O AVC é a causa de morte mais frequente entre aquelas provocadas por doenças cardiovasculares. A cada cinco segundos ocorre um caso de derrame no mundo.


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