São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2010

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Em 17 anos, servidores da USP pararam por 388 dias

Período equivale a 2 anos letivos; paralisação afeta serviços como creches

Greves se tornaram mais frequentes na USP nos últimos anos; hoje, servidores deverão se reunir com a reitoria

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Nos últimos 17 anos, funcionários da USP, maior universidade da América Latina, ficaram praticamente dois anos letivos em greve, segundo levantamento da Folha.
Por 388 dias, o acesso a bibliotecas, laboratórios, creches, bandejões e ônibus foi prejudicado pelas 11 paralisações do período, que duraram, em média, 35 dias.
Nos últimos anos, as paralisações têm se tornado mais frequentes e longas. Segundo o sindicato, é reflexo da "intransigência da reitoria".
Entre 1997 e 1999, por exemplo, não houve nenhuma greve. Já entre 2004 e 2010, só não houve paralisação em um ano, 2008.
Já no ano passado, ficaram parados por 57 dias. Queriam 16% de reajuste, mais R$ 200. Receberam 6,05%.
"A cada ano que passa, a situação fica pior. Em muitas situações, a negociação demora muito", diz Anibal Cavali, do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP).
"Se houvesse intransigência na negociação, os funcionários não teriam salários tão altos", afirma o reitor João Grandino Rodas.
As greves costumam paralisar setores da universidade que mais afetam os alunos.
Os bandejões, onde a refeição completa custa R$ 1,90, são um exemplo. Na greve deste ano, iniciada em 5 de maio, os quatro que existem na USP estão parados.
Uma refeição no campus custa, em média, R$ 10 nos restaurantes a quilo que não são subsidiados pela USP.
"Eu fico a maior parte do tempo no campus. Muitas vezes, acabo optando por um lanche rápido, para não gastar muito nos restaurantes", diz Maurício Trotta, 31, mestrando de medicina.
Anteontem, ele foi prejudicado novamente pela paralisação: a creche onde deixava o filho foi fechada por um piquete; agora, está em casa para cuidar da criança. "É um tempo que não posso dedicar ao meu mestrado", diz.

NEGOCIAÇÃO
Hoje, os funcionários em greve terão uma reunião de negociação com a reitoria.
A proposta dos servidores é que todos ganhem uma referência na carreira -ou seja, um reajuste de 5% como se todos subissem de cargo.
A cada progresso de nível, os funcionários são reajustados em 5%.
A questão foi discutida na semana passada, na última reunião de negociação, mas não houve acordo com a reitoria, que já reajustou o salário dos servidores em 6%.
Os funcionários dizem que, se o impasse não acabar, eles bloquearão as entradas do CCE (Centro de Computação Eletrônica), o que afetaria todos os serviços burocráticos informatizados, além do acesso à internet.
Grande parte dos alunos está em época de provas.
Para impedir o bloqueio, oito carros de PMs estão desde anteontem à porta do CCE.
Os servidores já invadiram a reitoria, onde estão desde 8 de junho, e mantêm piquetes nos prédios da prefeitura do campus e da antiga reitoria, onde fica parte da administração e outros serviços, como a Edusp (Editora da USP).


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