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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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URBANIDADE

Ilustração Vincenzo Scarpellini
RUA FLORIANO PEIXOTO A cúpula e a torre em cima do edifício Rolim dominam a praça da Sé, o Pátio do Colégio e o parque Dom Pedro. Na Grécia antiga, um lugar assim teria atraído divindades. Manuel Olímpio, esse é o nome do atual habitante, proclama-se o zelador mais feliz da Terra e conta que, em outras épocas, para controlar os movimentos dos mortais, a torre era usada como guarita. (VINCENZO SCARPELLINI)


Mulher ensina homem a pilotar

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Tânia Marques tem seis irmãos homens que se apaixonaram pela velocidade das motos. Nenhum deles escapou da fatalidade: dois morreram e os demais sofreram acidentes. Um deles submeteu-se, recentemente, a uma transfusão de sangue. Apesar de testemunharem os perigos, os sobrinhos contaminaram-se da paixão pelo motociclismo. "Não sei se alguém no mundo já sentiu tanto ódio das motos como eu."
Ela seria uma das últimas pessoas a ganharem dinheiro com motocicletas -afinal, nenhuma invenção lhe trouxe tantas desgraças. Mas está conseguindo -e cada vez mais.
Depois que seus dois irmãos morreram -um dos quais vítima de uma mulher que dirigia um automóvel enquanto conversava ao celular-, Tânia desenvolveu a raiva da moto e, ao mesmo tempo, a compaixão pelo motociclista. Andar pelas ruas e presenciar a acrobacia selvagem dos motoboys significa para ela a lembrança permanente da catástrofe familiar.
Da mistura de raiva com compaixão, nasceu um negócio: ela lançou neste ano a profissão de "motogirl". "Talvez algum psicólogo me ajude a entender por que abri esse negócio." As "motogirls" são obrigadas a respeitar as normas do trânsito, estão proibidas de fazer acrobacias e devem vestir-se com elegância. Ganham, no mínimo, R$ 900 mensais. Como devem cuidar da aparência, recebem ajuda para ir ao cabeleireiro ou para comprar produtos de beleza.
Apostando na civilidade urbana, o marketing feminino, pelo jeito, pegou. A empresa começou com dez motogirls e pretende, até o fim do ano, quadruplicar o número de funcionárias. Mesmo sendo o slogan da empresa "rapidez com um toque feminino", homens se candidatam a trabalhar lá. "Eles saem daqui revoltados porque não aceitamos homens. Mas, se entrar um aqui, acho que estraga."
Além da satisfação financeira, Tânia comemora o fato de, até agora, não ter ocorrido nenhum acidente com suas funcionárias. Quem sabe esteja aí a sua motivação psicológica. Pelo menos em sua empresa, ao contrário do que ocorre em sua família, ela consegue colocar ordem nos motociclistas.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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