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URBANIDADE
Ilustração Vincenzo Scarpellini
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RUA FLORIANO PEIXOTO A cúpula e a torre em cima do edifício Rolim dominam a praça da Sé, o Pátio do Colégio e o parque Dom Pedro. Na Grécia antiga, um lugar assim teria atraído divindades. Manuel Olímpio, esse é o nome do atual habitante, proclama-se o zelador mais feliz da Terra e conta que, em outras épocas, para controlar os movimentos dos mortais, a torre era usada como guarita. (VINCENZO SCARPELLINI)
Mulher ensina homem a pilotar
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Tânia Marques tem seis
irmãos homens que se apaixonaram pela velocidade das
motos. Nenhum deles escapou
da fatalidade: dois morreram e
os demais sofreram acidentes.
Um deles submeteu-se, recentemente, a uma transfusão de sangue. Apesar de testemunharem
os perigos, os sobrinhos contaminaram-se da paixão pelo motociclismo. "Não sei se alguém no
mundo já sentiu tanto ódio das
motos como eu."
Ela seria uma das últimas pessoas a ganharem dinheiro com
motocicletas -afinal, nenhuma
invenção lhe trouxe tantas desgraças. Mas está conseguindo
-e cada vez mais.
Depois que seus dois irmãos
morreram -um dos quais vítima de uma mulher que dirigia
um automóvel enquanto conversava ao celular-, Tânia desenvolveu a raiva da moto e, ao
mesmo tempo, a compaixão pelo
motociclista. Andar pelas ruas e
presenciar a acrobacia selvagem
dos motoboys significa para ela
a lembrança permanente da catástrofe familiar.
Da mistura de raiva com compaixão, nasceu um negócio: ela
lançou neste ano a profissão de
"motogirl". "Talvez algum psicólogo me ajude a entender por
que abri esse negócio." As "motogirls" são obrigadas a respeitar
as normas do trânsito, estão
proibidas de fazer acrobacias e
devem vestir-se com elegância.
Ganham, no mínimo, R$ 900
mensais. Como devem cuidar da
aparência, recebem ajuda para
ir ao cabeleireiro ou para comprar produtos de beleza.
Apostando na civilidade urbana, o marketing feminino, pelo
jeito, pegou. A empresa começou
com dez motogirls e pretende,
até o fim do ano, quadruplicar o
número de funcionárias. Mesmo
sendo o slogan da empresa "rapidez com um toque feminino",
homens se candidatam a trabalhar lá. "Eles saem daqui revoltados porque não aceitamos homens. Mas, se entrar um aqui,
acho que estraga."
Além da satisfação financeira,
Tânia comemora o fato de, até
agora, não ter ocorrido nenhum
acidente com suas funcionárias.
Quem sabe esteja aí a sua motivação psicológica. Pelo menos
em sua empresa, ao contrário do
que ocorre em sua família, ela
consegue colocar ordem nos
motociclistas.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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