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ATENDIMENTO PRECÁRIO
Ela foi operada somente ontem; hospital diz que procedimento é correto
Mulher fica 11 dias com bala no braço
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A dona-de-casa Luzinete Abílio da Silva, 57, passou os últimos 11 dias com uma bala alojada no braço esquerdo. Atingida
por um tiro em uma favela carioca, só ontem ela foi operada.
Eram 11h40 do dia 18 quando
Silva saiu de casa, na favela Parque Alegria (Caju, zona norte),
com uma neta de 11 anos e dois
sobrinhos, de 15 e 17, para pagar
a prestação da compra de um
colchão. No trajeto, houve um
tiroteio e ela foi baleada.
Levada por PMs para o Hospital Geral de Bonsucesso (a cerca
de 2 km da favela), ela foi atendida sentada no chão da emergência da unidade, que é do governo federal. Feito um raio-X e
um curativo, foi mandada para
casa, com a recomendação de
tomar antiinflamatório. Ao chegar ao ponto de ônibus, minutos depois, o ferimento começou a "sangrar muito", segundo
ela, que voltou ao hospital. "Fiquei horas esperando para ser
atendida. Depois, tomei soro, fizeram outro curativo e me mandaram voltar três dias depois.
No dia 21, o médico mandou
que eu retornasse em uma semana para fazer a operação."
Com a consulta marcada para
ontem, ela chegou às 7h10. Esperou até as 12h, quando foi levada ao centro cirúrgico. A operação para a retirada da bala durou 20 minutos. O local do ferimento havia inflamado, segundo médicos que a atenderam.
Ela foi liberada em seguida.
Silva disse que não planeja
processar o hospital ou o governo.O marido, o pedreiro Sebastião Alfredo da Silva, 64, ainda
tem a esperança de convencê-la
a voltar à terra natal deles, Campina Grande (PB). "Além do
susto do tiro, temos de enfrentar
o sistema de saúde, que parece
não tratar os pobres direito."
O coordenador de cirurgia da
emergência do Hospital Geral
de Bonsucesso, Antônio Paulo,
disse que não é de praxe operar
se a bala "não causar incapacidade vital". Segundo ele, às vezes, se a operação for feita imediatamente, "pode-se causar
uma lesão ou um sangramento
maior desnecessário". "Se o tiro
não atingiu nenhum órgão, articulação ou não for próximo a
terminações nervosas, não há
necessidade de retirar a bala.
Muitos convivem com um projétil no corpo a vida inteira."
O diretor do Hospital Quinta
D'Or, Rodrigo Gavina, disse
que, "apesar de parecer absurdo, o procedimento pode estar
correto". "A cirurgia tem de ser
avaliada caso a caso."
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