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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO
Para pilotos, o projeto do Airbus também deve ser investigado
Colegas amenizam possível falha de comandante no acidente com avião da TAM
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA SUCURSAL DO RIO
Pilotos e entidades da categoria afirmam que um erro no
manuseio dos manetes (alavancas de aceleração) no momento do pouso pode ter sido a
causa do acidente com o avião
da TAM, no último dia 17, em
São Paulo, mas dizem que é
prematuro responsabilizar o
comandante da aeronave.
Segundo eles, a automação
do Airbus, que diminui a autonomia dos pilotos, e as características dos manetes são fatores
que devem ser considerados
para explicar por que o aeronave não desacelerou ao pousar.
De acordo com o chefe do Cenipa (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), brigadeiro Jorge Kersul Filho, um
provável erro dos pilotos ao
manipular os manetes pode ter
contribuído para o acidente.
Um dos reversos (equipamentos usados para ajudar na
frenagem) do avião estava travado e uma das alavancas estaria em posição errada -em aceleração, quando deveria estar
em "marcha lenta".
Segundo Carlos Camacho,
diretor de segurança de vôo do
Sindicato Nacional dos Aeronautas, o manuseio dos manetes do Airbus é mais complicado que o de outras aeronaves,
como o Boeing. O comando conhecido como "marcha lenta",
segundo ele, exige que a alavanca esteja na posição exata.
"Se passar uma ponta de lápis, a turbina pode continuar
acelerando. E o piloto tem de
colocar o manete na posição
certa em três segundos, quando
o avião estiver para tocar o solo", disse. Segundo ele, uma pista pequena como a de Congonhas e a ausência de uma área
de segurança de final de pista
colaboram na pressão ao piloto.
Para Célio Eugênio de Abreu
Filho, assessor de segurança de
vôo do sindicato, a automação
do Airbus tem de ser considerada. "Essa automação tem de ser
investigada. O piloto pode ter
dado uma ordem, mas o motor
respondeu de modo diferente."
Segundo ele, o final da investigação pode apontar para mudanças no projeto da aeronave.
Sem se identificar, um piloto
que já voou por companhias diferentes afirmou que as alavancas do Airbus trazem mais risco
desse erro ocorrer. Na maioria
dos outros aviões, as posições
de aceleração e ponto morto
são fixas, evitando problemas
de posicionamento da alavanca, segundo ele.
O presidente da Appa (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves), George William César de Araripe Sucupira, acredita que a falha no uso
dos manetes tenha sido a principal causa do acidente. "Com a
análise da caixa-preta e das
conversas na cabine, vamos ter
uma resposta."
A reportagem encaminhou e-mails para a assessoria da Airbus, mas não houve resposta.
O chefe do Cenipa se reunirá
hoje com os especialistas que
acompanharam as transcrições
da caixa-preta. A possibilidade
de que o reverso travado tenha
confundido os pilotos depende
de confirmação e de confronto
com outros dados, como as vozes da cabine registradas pela
outra caixa-preta, cuja análise é
feita nos Estados Unidos.
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