São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/PROTESTO

Passeata pelas vítimas reúne 6.000 sob frio de 7°C

Homenagem aos mortos no vôo 3054 da TAM percorreu 4 km na zona sul

Protesto levou parentes, amigos, desconhecidos e até secretário do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; cartazes criticavam Lula

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Familiares andaram cerca de
4 km do Ibirapuera a Congonhas


ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Sobre a cabeça, aviões fazem barulho em Congonhas. Sobre o asfalto, em frente ao prédio da TAM Express, um tapete de flores brancas, envolto em faixas de protesto contra autoridades e companhias aéreas e mensagens de despedida às vítimas da maior tragédia da aviação brasileira.
Era esse o cenário de encerramento da caminhada em homenagem aos mortos em acidentes aéreos e pela solução da crise no setor que vem se arrastando há cerca de dez meses.
A passeata começou ontem, por volta das 9h40, próximo ao Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera (zona sul de SP).
Seguiu um percurso aproximado de 4 km até chegar à avenida Washington Luís, por volta das 11h50, em frente ao prédio da TAM Express contra o qual se chocou o Airbus-A320 da empresa, provocando 199 mortes no dia 17 de julho.
Nem garoa, frio de 7C e vento cortante esfriaram o ânimo dos paulistanos. Parte deles vestia camiseta preta, com flores e fotos de familiares mortos nas mãos. A maioria usava nariz de palhaço.
Cartazes escuros com letras brancas traziam mensagens de "solidariedade às famílias", "respeito", "cansei", "basta" e críticas ao presidente ("Fora Lula") e à ministra do Turismo, Marta Suplicy. A TAM, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Anac e até o Metrô também foram lembrados nas faixas e no protesto.

Adesão
Estimativas da Guarda Civil Metropolitana, da Defesa Civil e dos organizadores do evento calculavam que entre 5.000 e 6.000 pessoas participaram da caminhada, que começou de forma tímida, com cerca de mil presentes e foi ganhando adesão conforme se aproximava do local da tragédia.
A PM se recusou a dar um "chutômetro" em relação ao número de participantes. Não foram registrados incidentes durante todo o trajeto.
Nem todos os participantes eram parentes das vítimas de acidentes aéreos. A tradutora Patrícia Abib, 39, ficou sabendo do manifesto pela internet. Carregando uma placa onde se lia "Respeito aos cidadãos", ela disse ter ido ao evento em solidariedade. "Acho fundamental que a manifestação seja apartidária. Não podemos misturar as coisas. Seria desrespeito à dor dos familiares das vítimas."
Casais com crianças, jovens e idosos se emocionaram na hora de jogar as flores em frente ao prédio destruído da TAM. Naquele momento final, eles se cumprimentavam, se abraçavam e choravam muito.

Hino Nacional
Numa mão, a aposentada Terezinha Machado, 65, carregava um vaso de flores. Na outra, um rosário. Bastante emocionada, ela disse que não poderia ficar diante da TV, num domingo frio, imune à manifestação.
Os participantes rezaram um Pai Nosso, cantaram o Hino Nacional, fizeram um minuto de silêncio e, sob aplausos, gritaram palavras como "corajosos" e "heróis" para os bombeiros. Na etapa final da manifestação, três aeronaves pousaram em Congonhas, uma delas da TAM, o que provocou vaias e gritaria entre os presentes.
Emocionado, Roberto Gomes, 51, irmão do empresário Mário Gomes, 49, morto na tragédia da TAM, foi um dos manifestantes que cumprimentou os bombeiros. Ele acha que a passeata revela que "está na hora de a sociedade se mobilizar e mostrar aos governantes que eles não são imperadores".
"A classe política não pode continuar a tratar o povo como se fosse de segunda ou terceira categoria. Terceira categoria são eles, com seus atos omissos e corruptos", disse Gomes.
Floriano Pesaro, secretário de Assistência e Desenvolvimento Social do governo Kassab (DEM), contou que estava lá, discursando em cima do caminhão que conduzia a passeata, como integrante do Cria (Cidadão, Responsável, Informado e Atuante) Brasil e como "paulistano indignado".
"Essa passeata é apartidária", disse Floriano. "Viajo de avião com freqüência. Estamos sujeitos a pegar um vôo e não voltar para casa. Não vamos mais tolerar a inércia do Estado. Vamos protestar, entrar na Justiça."


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