São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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SEGURANÇA

Bangu 5 teve o mais longo motim do ano; presos ligados ao CV exigiram presença de jornalistas para liberar reféns

Rebelião no Rio é encerrada após 21 horas

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Encerrada no início da tarde de ontem, após 21 horas de duração, a rebelião na Casa de Custódia Bangu 5 (zona oeste do Rio) foi a mais longa do ano nas prisões fluminenses.
Os 500 amotinados, ligados à facção criminosa CV (Comando Vermelho), só libertaram os quatro reféns depois de receber da PM (Polícia Militar) a promessa de que 30 presos condenados e 11 vinculados ao TC (Terceiro Comando) seriam transferidos.
Não houve feridos, mas um refém chegou a ser algemado próximo a um bujão de gás.
Segundo o comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM), Sérgio Meinicke, que participou das negociações, os presos tinham uma pistola, um revólver, uma granada, facas artesanais e pedaços de ferro. Ele disse que vai apurar como as armas entraram na unidade.
Os presos permaneceram o tempo todo no teto da cadeia, onde exibiram uma bandeira vermelha com as siglas CV e PCC (Primeiro Comando da Capital).
Para evitar fugas, a unidade foi cercada por PMs do Bope, do Grupamento Tático-Móvel, do Batalhão de Choque e do 14º Batalhão. Além das transferências, os presos exigiram a presença de jornalistas para soltar os reféns. Os jornalistas entraram na unidade por volta das 10h.
Alguns presos debocharam das equipes de reportagem ao perguntar sobre Tim Lopes, repórter da TV Globo morto por traficantes no dia 2 de junho.
As negociações foram atrapalhadas por um bate-boca entre o comandante do Bope e o pastor evangélico Marcos Pereira, chamado pelos presos. Ele acusou a polícia de truculência e chegou a deixar a unidade. "Ele não tem competência", rebateu Meinicke.
Os presos entregaram um documento à direção de Bangu 5 com 21 reivindicações. Eles reclamam da alimentação, do tratamento dispensado às visitas e da falta de atendimento médico.
O diretor do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário), Edson Oliveira Rocha, disse que a transferência dos presos começaria a ser providenciada ontem.

Tiros
O diretor das Casas de Custódia de Bangu, major Dayser Corpas, disse que a rebelião começou após uma tentativa frustrada de fuga. Como não conseguiram escapar, os presos fizeram a advogada Maria Helena Santos refém e depois capturaram um policial militar, um agente penitenciário e duas funcionárias da cantina.
De acordo com ele, houve troca de tiros entre amotinados e os policiais de plantão na unidade.
Segundo Corpas, a advogada foi libertada após o início do motim porque desmaiou. Ele disse que a ação dos presos foi facilitada porque as celas estão com as portas empenadas há mais de um mês. "Os presos passam o dia inteiro circulando pelos corredores. As celas não fecham", disse.
Após serem libertados, os reféns foram atendidos no Hospital Central da PM, no Estácio (zona central). Nenhum deles apresentava ferimentos.


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