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POLÍCIA FORA DA LEI
Preso que trabalhou infiltrado para a PM diz que teve contato com assessor e não com secretário
Ex-agente do Gradi muda versão de carta
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O preso Ronny Clay Chaves, 27,
ex-agente do serviço de inteligência da Polícia Militar de São Paulo,
afirmou ontem não ter mantido
contato diretamente com o secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho,
mas com um assessor dele, que
participava de reuniões periódicas na sede do Gradi (Grupo de
Repressão e Análise dos Delitos
de Intolerância), na capital.
As operações desse setor da PM
estão sob investigação, por abuso
de autoridade, homicídios e tortura. O Tribunal de Justiça apura a
participação do secretário, a
quem o Gradi estava subordinado, e dois juízes que davam suporte às ações, Maurício Lemos
Porto Alves e Octávio Augusto
Machado de Barros Filho.
A declaração do detento a deputados da Comissão de Segurança
Pública e da CPI do Sistema Prisional da Assembléia, ontem, no
presídio onde se encontra, corrigiu uma informação que constava
da carta atribuída a ele, de que
Abreu Filho participava de reuniões do planejamento do Gradi,
como a que resultou na morte de
12 supostos integrantes do PCC
(Primeiro Comando da Capital),
em Sorocaba, em março passado.
O preso não forneceu o nome
completo do assessor, mas disse
ter condições de reconhecê-lo.
""Essa pessoa se dizia secretário do
secretário nas reuniões", disse o
deputado Wagner Lino (PT), relator da CPI do Sistema Prisional.
O ex-agente do Gradi confirmou as outras informações que
constam da carta, como o caso em
que PMs teriam extorquido dinheiro de uma quadrilha de sequestradores, sem libertar os reféns, que seriam crianças, e que a
unidade teria fornecido armas
com munição de festim ao grupo
surpreendido em Sorocaba.
Chaves integrava o grupo de
quatro presos mais atuantes do
Gradi, utilizados ilegalmente em
infiltrações. ""Não há grandes contradições entre a versão que os
quatro presos contam, mesmo estando separados", disse o deputado Renato Simões (PT).
Segundo o preso, não foi ele
quem escreveu a carta divulgada
pela OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil), mas um outro
condenado a partir de informações que ele forneceu. Chaves teria feito isso como medida de segurança, afirmaram deputados.
O secretário da Segurança Pública tem afirmado que desconhecia as operações do Gradi.
Além dos deputados, o procurador de Justiça Antonio Visconti
e o advogado José Luiz de Oliveira, que representa um dos juízes
investigados pelo TJ, acompanharam as seis horas de depoimento.
A novidade foi a revelação do
preso de que o Gradi teria grampeado telefones de políticos ligados ao PT de Santo André, ao PL
de Campinas, um outro de Ribeirão Preto e um político ligado ao
PSDB, conhecido como Valter.
De acordo com deputados, o
preso disse que esses acompanhamentos geravam relatórios para a
PM sobre a ligação dos políticos
com movimentos populares.
O monitoramento era feito com
a ajuda de aparelhos israelenses,
fornecidos ao Gradi, disse o preso,
por empresários da capital.
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