São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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POLÍCIA FORA DA LEI

Preso que trabalhou infiltrado para a PM diz que teve contato com assessor e não com secretário

Ex-agente do Gradi muda versão de carta

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O preso Ronny Clay Chaves, 27, ex-agente do serviço de inteligência da Polícia Militar de São Paulo, afirmou ontem não ter mantido contato diretamente com o secretário da Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, mas com um assessor dele, que participava de reuniões periódicas na sede do Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância), na capital.
As operações desse setor da PM estão sob investigação, por abuso de autoridade, homicídios e tortura. O Tribunal de Justiça apura a participação do secretário, a quem o Gradi estava subordinado, e dois juízes que davam suporte às ações, Maurício Lemos Porto Alves e Octávio Augusto Machado de Barros Filho.
A declaração do detento a deputados da Comissão de Segurança Pública e da CPI do Sistema Prisional da Assembléia, ontem, no presídio onde se encontra, corrigiu uma informação que constava da carta atribuída a ele, de que Abreu Filho participava de reuniões do planejamento do Gradi, como a que resultou na morte de 12 supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), em Sorocaba, em março passado.
O preso não forneceu o nome completo do assessor, mas disse ter condições de reconhecê-lo. ""Essa pessoa se dizia secretário do secretário nas reuniões", disse o deputado Wagner Lino (PT), relator da CPI do Sistema Prisional.
O ex-agente do Gradi confirmou as outras informações que constam da carta, como o caso em que PMs teriam extorquido dinheiro de uma quadrilha de sequestradores, sem libertar os reféns, que seriam crianças, e que a unidade teria fornecido armas com munição de festim ao grupo surpreendido em Sorocaba.
Chaves integrava o grupo de quatro presos mais atuantes do Gradi, utilizados ilegalmente em infiltrações. ""Não há grandes contradições entre a versão que os quatro presos contam, mesmo estando separados", disse o deputado Renato Simões (PT).
Segundo o preso, não foi ele quem escreveu a carta divulgada pela OAB/SP (Ordem dos Advogados do Brasil), mas um outro condenado a partir de informações que ele forneceu. Chaves teria feito isso como medida de segurança, afirmaram deputados.
O secretário da Segurança Pública tem afirmado que desconhecia as operações do Gradi.
Além dos deputados, o procurador de Justiça Antonio Visconti e o advogado José Luiz de Oliveira, que representa um dos juízes investigados pelo TJ, acompanharam as seis horas de depoimento.
A novidade foi a revelação do preso de que o Gradi teria grampeado telefones de políticos ligados ao PT de Santo André, ao PL de Campinas, um outro de Ribeirão Preto e um político ligado ao PSDB, conhecido como Valter.
De acordo com deputados, o preso disse que esses acompanhamentos geravam relatórios para a PM sobre a ligação dos políticos com movimentos populares.
O monitoramento era feito com a ajuda de aparelhos israelenses, fornecidos ao Gradi, disse o preso, por empresários da capital.


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