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PLANO DIRETOR
Versão aprovada na Câmara regulariza as Operações Interligadas, julgadas inconstitucionais pelo Tribunal de Justiça
Artigo legaliza 263 projetos irregulares
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O Plano Diretor, aprovado na
sexta-feira pela Câmara Municipal, regulariza a situação de 263
empreendimentos imobiliários
paralisados na cidade. São prédios projetados acima do que permite a Lei de Zoneamento graças
às chamadas Operações Interligadas, e que tiveram as obras suspensas a partir de 1998, por decisão da Justiça.
Pelas regras das Operações Interligadas, bastava o construtor
pagar à prefeitura para ganhar a
permissão de construir além do
que o zoneamento permitia ou
instalar comércio onde era irregular. No ano passado, o Tribunal de
Justiça considerou que as operações violavam a Constituição estadual. Elas estavam suspensas
desde 1998 graças a uma liminar.
A regularização das obras foi incluída no Plano Diretor durante a
tramitação do projeto na Câmara.
O artigo 304 do texto aprovado
diz que "ficam assegurados os direitos de alvarás de aprovação e
execução concedidos" e "os direitos de construção em certidões
expedidas" das Operações Interligadas e de outras operações.
"Regularizar as obras é uma espécie de anistia", afirmou o promotor João Lopes Guimarães Jr.,
autor da ação civil pública que levou as Operações Interligadas ao
julgamento do TJ. "Assim como
as alterações pontuais de zoneamento no Plano Diretor, essa
questão deveria ser objeto de um
projeto de lei autônomo."
O vereador e urbanista Nabil
Bonduki (PT), relator do projeto
aprovado na Câmara, afirmou
que o artigo não foi incluído com
o propósito de regularizar a situação das obras, e sim de demonstrar "segurança jurídica" nas relações entre a prefeitura e o mercado imobiliário. "Se regulariza, não
era o propósito da proposta."
Segundo a Secretaria Municipal
do Planejamento Urbano (Sempla), que responde pelos 588 projetos das operações aprovados pela prefeitura entre 1995 e 1998, 263
ficaram pendentes por causa da
decisão judicial. A prefeitura não
sabe quantos desses tiveram as
obras efetivamente iniciadas.
Outros 247 foram indeferidos
por extrapolarem os próprios limites das Operações Interligadas.
No total, a Sempla recebeu 835
projetos de construtoras. "Eram
geralmente prédios altíssimos, na
divisa com bairros Z1 [de casas
baixas", com vista desimpedida.
Caso da rua Morás, na Vila Madalena [zona oeste"", disse o promotor Guimarães.
Os desembargadores do TJ consideraram que as Operações Interligadas feriam a Constituição
do Estado de São Paulo porque as
obras feitas por meio delas mexiam pontualmente no zoneamento da cidade, sem aprovação
da Câmara.
O caso chegou à Justiça após
protestos de associações de bairro, que tentaram evitar a violação
do zoneamento urbano. Em 1998,
os projetos foram paralisados.
"Houve um prejuízo enorme.
Há construtoras que pagaram a
contrapartida exigida pelos projetos e não ergueram nada", disse o
vice-presidente do Secovi (sindicato das imobiliárias e construtoras) Cláudio Bernardes.
Para Bernardes, a regularização
das obras pendentes não será feita
pelo Plano Diretor, e sim pela Justiça. O Secovi e a prefeitura recorreram da decisão ao Superior Tribunal de Justiça, que ainda não se
pronunciou.
As Operações Interligadas foram criadas em 1988 no Plano Diretor do ex-prefeito Jânio Quadros, aprovado sem debate quando a Câmara descumpriu o prazo
para votá-lo. Em 1995, o então
prefeito Paulo Maluf enviou um
projeto de lei à Câmara que facilitava a utilização do instrumento.
O projeto de Maluf, aprovado
pelos vereadores, tornou desnecessária a votação de cada operação na Câmara. Bastaria a aprovação da Comissão Normativa da
Legislação Urbana (CNLU), que
funciona na Sempla.
O erro maior, segundo a Justiça,
foi justamente esse. Para alterar o
zoneamento -algo que tem influência no preço dos imóveis e
nas características dos bairros-,
é preciso que a Câmara convoque
pelo menos duas audiências abertas à sociedade. Com o simples
procedimento burocrático na
Sempla, esse requisito legal foi
descumprido.
Irregularidade
Em outubro do ano passado, a
Câmara instalou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI)
para investigar as Operações Interligadas.
Pela lei das operações, o dinheiro arrecadado das construtoras
deveria financiar a construção de
moradia popular na cidade de São
Paulo. O relatório da CPI, no entanto, concluiu que cerca de US$
78 milhões dos US$ 122 milhões
arrecadados não chegaram nem a
ser repassados para o fundo criado para isso.
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