São Paulo, sexta-feira, 30 de agosto de 2002

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PLANO DIRETOR

Para Rui Falcão (Governo), PSDB pode usar nome de vereadores do PT que pediram veto a emendas em ato eleitoral

Secretário teme que carta tenha uso político

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário municipal de Governo, Rui Falcão, afirmou que a carta que pede o veto de emendas ao Plano Diretor que foram aprovadas, preparada por vereadores do PSDB e assinada por alguns parlamentares do PT, pode ser utilizada como "manobra política". Para ele, alguns vereadores "não devem ter entendido" o teor das emendas e do Plano Diretor.

Folha - Como o Executivo avaliou a aprovação do Plano Diretor?
Rui Falcão -
Viu com alegria, porque é a materialização de um dos nossos projetos mais importantes para a cidade.

Folha - As emendas apresentadas pelos vereadores foram discutidas com o governo? O sr. participou dessas discussões?
Falcão -
O plano foi substancialmente alterado no Legislativo. Ele articula um conjunto de interesses políticos, sociais e econômicos. O importante é que, no global, sirva ao interesse público.

Folha - O vereador Nabil Bonduki (PT) disse que o maior articulador das emendas foi José Mentor (PT), que não é mais líder do governo.
Falcão -
Quando ele era o líder do governo, já havia uma comissão em andamento. Como se decidiu pela troca do líder do governo, ele [Mentor" fez a transição: a liderança passou para o [Arselino" Tatto e o Tatto o nomeou para compor a comissão com o Nabil. Por isso, em conjunto com o Tatto e o Nabil, ele articulou essa fase final do plano.

Folha - O Nabil também disse que a liderança do governo pressionou para mudar o zoneamento. Essa pressão se deu em conjunto com o governo ou foi uma pressão pontual da liderança?
Falcão -
Eu me reuni com o Nabil no dia da votação, à tarde. Ele me apresentou um texto, que disse ser praticamente o texto final. Eu sugeri uma série de mudanças, que ele acolheu. Ele me disse que, caso o plano fosse votado naquele dia e necessitasse de uma manifestação do governo, ele ligaria para minha casa.

Folha - E o senhor dormiu a madrugada toda?
Falcão -
Dormi sem saber se iria ser votado ou não. Depois o Tatto me disse: "Foi aprovado, está uma beleza".

Folha - Houve várias discussões sobre o plano, inclusive com audiências na Câmara e com a apresentação de sugestões. Essas emendas apresentadas e o plano aprovado não descaracterizam as propostas das audiências?
Falcão -
Várias sugestões não foram acatadas. Outras foram. Não se pode dizer que, se a maior parte foi acatada, o plano é bom, se não foi, é mau.

Folha - Essa carta dos vereadores, que pede para que a prefeita vete as emendas, como vocês avaliam isso? Ela vai vetar?
Falcão -
Como é coisa do PSDB, é preciso muita cautela para que o pedido não seja usado como manobra eleitoral. Ademais, é inusitado que vereadores que votaram a favor do projeto se dirijam à prefeita pedindo veto. A prefeita, contrariamente a alguns vereadores, que aparentam não ter lido as emendas antes de votar, verá todo o projeto antes de sancioná-lo.

Folha - O sr. está afirmando que os vereadores não conheciam o projeto?
Falcão -
Acho que conheciam, porque as emendas foram apresentadas e lidas e eles votaram. A única hipótese para pedir veto agora é que não tenham tido conhecimento do que votaram. Leram e não entenderam.

Folha - O sr. chegou a ler as emendas depois? Elas beneficiam setores da construção civil?
Falcão
Em várias áreas da cidade há quem ganha e há quem perca.

Folha - Quanto à carta, a prefeita vai analisar?
Falcão -
Primeiro, é preciso tomar cuidado para que não se crie uma confusão institucional na cidade; segundo, para que essa confusão não resulte em manobra eleitoral, em que pessoas do PT, que tenham subscrito isso de boa-fé, possam, sem querer, ser objeto de manipulação para o PSDB.

Folha - Do jeito que o sr. fala, dá a impressão de que esses vereadores do PT que assinaram a carta são ingênuos e os outros que não assinaram são mais inteligentes.
Falcão -
Não, não estou fazendo juízo de valor. O que estou dizendo é que a maior parte do PT não está associada a isso. Não houve nenhum questionamento regimental. O próprio presidente da Casa, que por dever de ofício tem de conhecer o regimento e, independentemente disso, é um regimentalista renomado, poderia ter invocado a necessidade de audiências públicas prévias à votação das emendas, mas não o fez. Tendo eles se associado a um movimento encabeçado por vereadores do PSDB, há o risco de, nessa confusão institucional que se criou, ocorrer alguma manobra de cunho eleitoral.


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