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Mestres se veem na berlinda diante de novo ambiente escolar
Como a tecnologia, a violência e as doenças do aprendizado mudam as salas de aulas, trazendo desafios e provocando a discussão sobre o papel do professor
OCIMARA BALMANT
LETÍCIA DE CASTRO
DA REVISTA DA FOLHA
Em uma escola na periferia
da zona sul de São Paulo, mais
de 2.000 alunos gritam ao mesmo tempo que querem ser dispensados para assistir ao jogo
de futebol. Não são atendidos e
colocam fogo em carteiras.
No colégio de classe média na
zona norte, um aluno de 12
anos diz à professora que é ele
quem paga o salário dela e que
deve fazer tudo o que ele quer.
Perto do parque Ibirapuera, a
professora é avisada pela coordenadora de que um dos seus
alunos foi mal na prova, mas
não pode ser reprovado porque
há um laudo atestando que sofre de déficit de atenção.
Os episódios ilustram alguns
dos desafios que os docentes
enfrentam nas salas de aula. Há
problemas antigos, como a violência, e outros bem atuais, como a concorrência com equipamentos eletrônicos ou as doenças do aprendizado.
Geração on-line
A lousa está repleta depois da
aula de português. O adolescente não copia uma sentença:
basta pegar o celular e registrar
tudo com a câmera. O episódio
foi no colégio Santa Maria, zona sul. Não houve broncas.
"A tecnologia é matéria-prima, objeto de estudo. Não posso dizer que não presta ou proibir", explica Elizabeth Fantauzzi, 47, responsável por disciplinas como web design e fotografia digital.
A praga do laudo
Depois de uma discussão
com um aluno, a professora Silvia Barbára, 49, coloca o estudante de 16 anos para fora da
sala de aula. Ele sai, mas a xinga
de "puta". A coordenadora da
escola explica que o mau comportamento se deve a uma troca de medicamentos. A professora vive esbarrando em diagnósticos de déficit de atenção.
Segundo a psicóloga da Unicamp Cecília Collares, que estuda a "patologização da educação", o fenômeno causa reação
em cadeia. Os pais reagem como se fosse uma fatalidade, a
escola se isenta, e o professor se
vê desvalorizado.
Discriminação e violência
B.C., 49, professor da rede estadual há 29 anos ficou uma semana na UTI depois de ter a
diabetes descontrolada. O motivo: preconceito. Uma dupla
de alunas pediu o afastamento
do professor homossexual.
Para a educadora da Unicamp Angela Soligo, casos de
agressão física e de depredação
são decorrentes do processo de
sucateamento a que a escola
pública foi submetida.
Outra questão é a falta de diálogo e a incapacidade da escola
de assimilar a nova cultura juvenil. Soligo defende que poder
público, professores, gestores,
alunos e pais se envolvam para
discutir o problema.
Onde está a família?
Diante de uma turma com dificuldade de aprendizado, a
professora Margarida Costa, da
Escola Municipal Oliveira Viana, no Jardim Ângela, avisa:
quem não terminar não vai
brincar no intervalo. Ninguém
terminou o exercício a tempo.
A classe inteira optou por ficar sob a tutela de um adulto no
recreio. "A carência de atenção
é tão grande que a possibilidade
de usufruir de um tempo ao lado do professor deixou a turminha de crianças animada", explica Margarida.
Na escola da periferia da zona sul, a estratégia que a diretora, Jucileide Mauger, encontrou foi ampliar o diálogo com
os alunos e abrir-se para a comunidade. Abrir espaço para a
família participar das decisões
é um dos segredos, no Jardim
Angela ou no Alto de Pinheiros.
No Oliveira Viana, pais de alunos ocuparam as salas de aula
para um encontro de casais. No
colégio Vera Cruz, há desde
2005 a Organização de Pais Solidários, com palestras sobre
drogas, infância e sociedade.
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