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70% das faculdades públicas já adotam cotas ou bônus
Em 77% dos casos, decisão de adotar política partiu da própria instituição
Levantamento feito por pesquisadores do Rio mostra que estudantes de escolas públicas são os mais beneficiados
ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Mesmo sem lei federal que
as obrigue a isso, sete em cada dez universidades públicas no Brasil já adotam algum critério de ação afirmativa, seja ele cota ou bônus no
vestibular para alunos de escolas públicas, negros, indígenas e outros grupos.
O levantamento foi feito
pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, ligado
à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
De 98 universidades federais e estaduais, 70 adotam
ação afirmativa (71%). Em
77% dos casos, a decisão de
adotar cotas ou bônus surgiu
da própria universidade.
Em apenas 16 instituições,
a ação foi motivada por uma
lei estadual. Não há lei federal -um projeto tramita no
Congresso- que obrigue estabelecimentos da União a
adotar cotas ou bônus.
O trabalho mostra também
que são alunos de escolas
públicas os mais beneficiados e que as cotas são mais
utilizadas do que os bônus.
No caso das universidades
que trabalham com cotas raciais, o critério utilizado para
definir quem é negro ou indígena é quase sempre (85%
dos casos) a autodeclaração.
Nos demais, há exigência
de fotografias ou comissões
de verificação, métodos polêmicos por barrar candidatos
que se consideram negros.
Para João Feres Júnior, um
dos pesquisadores, em quase
todas as 40 universidades
que beneficiam negros, há
preocupação de evitar que as
vagas sejam ocupadas pelos
de maior renda -o candidato
deve comprovar carência ou
estudo em escola pública.
DEBATE
Para ele, o crescimento de
instituições que, sem a obrigação legal, adotam ações
afirmativas reflete o amadurecimento do debate sobre a
desigualdade racial no país.
Ele diz que, quando coordenou o Diretório Central de
Estudantes da Unicamp, em
1986, o tema não era discutido nem nas ciências sociais.
"Não passava pelas nossas
mentes discutir a pauta."
Mesmo quem se beneficiou do avanço nas políticas
de ação afirmativa aponta a
falta de debate. É o caso de
Wellington Oliveira dos Santos, 25, que se formou em psicologia em 2009 na Universidade Federal do PR, onde ingressou na cota para negros.
Santos reclama que, na
época de sua graduação, não
houve debates em seu curso
sobre os motivos que estão
levando as universidade públicas à adoção das cotas.
Colaborou DIMITRI DO VALLE,
de Curitiba
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