São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

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UNIVERSIDADE

Na Unesp de Franca, número de docentes caiu 29%; defasagem ameaça pesquisas e compromete ensino

Ribeirão Preto tem mais alunos e menos professores

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

CLAYTON FREITAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

As universidades públicas da região de Ribeirão Preto (314 km de SP) tiveram crescimento de até 100% no número de vagas nos últimos anos, mas esse índice não foi acompanhado pela quantidade de servidores e professores contratados. Em alguns casos, houve redução de até 29,16% no quadro de funcionários.
Na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), por exemplo, enquanto o número de alunos cresceu 100,25% nos últimos dez anos, o de docentes chegou a apenas 6,25%. Em 1991, eram 512 professores para 2.747 alunos, em 16 cursos de graduação. Hoje, são 544 docentes para 5.474 estudantes, divididos em 27 cursos.
No campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Franca, o número de docentes efetivos vem caindo nos últimos cinco anos. Dos 120 docentes de 1996, restaram hoje trabalhando 85 (redução de 29,16%) -sem alteração no número de alunos.
Por conta desse déficit, docentes estão assumindo disciplinas para as quais não são especializados e há, ainda, ameaça ao prosseguimento de algumas pesquisas.
A situação se agrava no caso da UFSCar, onde os docentes estão em greve há 36 dias.
Em Franca, há casos, por exemplo, de um professor especializado em medicina legal que acumula aulas de filosofia do direito. Outro nem terminou o mestrado, mas já dá aula.
Para o diretor da Unesp de Franca, Luiz Antonio Soares Hentz, 48, isso ocorre porque as leis trabalhistas obrigam o professor a lecionar oito horas por dia e, consequentemente, a acumular disciplinas fora de sua área. "Isso é altamente prejudicial."
Na USP (Universidade de São Paulo) de São Carlos, o maior déficit ocorre na escola de engenharia, onde já chega a 15%. Para o diretor Eugenio Foresti, 56, o grande número de profissionais que se aposentaram nos últimos anos e o lento processo de reposição ameaçam o prosseguimento de pesquisas. "Temos um caso: de nove professores de um grupo de pesquisa, cinco aposentaram."
Para tentar amenizar esse déficit, as universidades têm contratado professores temporários. Na UFSCar, além dos 544 docentes, há 114 substitutos.
Essas contratações têm, porém, um caráter emergencial, já que os docentes nessa situação não participam de grupos de pesquisas. "Eles [professores substitutos" não se envolvem porque são temporários, não desenvolvem pesquisa nem extensão. Só dão aulas", afirmou o reitor da UFSCar, Oswaldo Baptista Duarte Filho.
Para os alunos, as políticas adotadas pelos governos estadual e federal têm provocado um sucateamento no ensino superior público, numa campanha velada de privatização das universidades.
"Eles querem que a opinião pública chegue à conclusão que, pela crise do ensino público, é melhor privatizar", disse o coordenador-geral do Centro Acadêmico da Faculdade de Direto da Unesp de Franca, Marcos Rogério de Souza.



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