|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UNIVERSIDADE
Na Unesp de Franca, número de docentes caiu 29%; defasagem ameaça pesquisas e compromete ensino
Ribeirão Preto tem mais alunos e menos professores
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
CLAYTON FREITAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
As universidades públicas da região de Ribeirão Preto (314 km de
SP) tiveram crescimento de até
100% no número de vagas nos últimos anos, mas esse índice não
foi acompanhado pela quantidade de servidores e professores
contratados. Em alguns casos,
houve redução de até 29,16% no
quadro de funcionários.
Na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), por exemplo, enquanto o número de alunos cresceu 100,25% nos últimos
dez anos, o de docentes chegou a
apenas 6,25%. Em 1991, eram 512
professores para 2.747 alunos, em
16 cursos de graduação. Hoje, são
544 docentes para 5.474 estudantes, divididos em 27 cursos.
No campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Franca, o número de docentes efetivos
vem caindo nos últimos cinco
anos. Dos 120 docentes de 1996,
restaram hoje trabalhando 85 (redução de 29,16%) -sem alteração no número de alunos.
Por conta desse déficit, docentes
estão assumindo disciplinas para
as quais não são especializados e
há, ainda, ameaça ao prosseguimento de algumas pesquisas.
A situação se agrava no caso da
UFSCar, onde os docentes estão
em greve há 36 dias.
Em Franca, há casos, por exemplo, de um professor especializado em medicina legal que acumula aulas de filosofia do direito. Outro nem terminou o mestrado,
mas já dá aula.
Para o diretor da Unesp de
Franca, Luiz Antonio Soares
Hentz, 48, isso ocorre porque as
leis trabalhistas obrigam o professor a lecionar oito horas por dia e,
consequentemente, a acumular
disciplinas fora de sua área. "Isso
é altamente prejudicial."
Na USP (Universidade de São
Paulo) de São Carlos, o maior déficit ocorre na escola de engenharia, onde já chega a 15%. Para o diretor Eugenio Foresti, 56, o grande número de profissionais que se
aposentaram nos últimos anos e o
lento processo de reposição
ameaçam o prosseguimento de
pesquisas. "Temos um caso: de
nove professores de um grupo de
pesquisa, cinco aposentaram."
Para tentar amenizar esse déficit, as universidades têm contratado professores temporários. Na
UFSCar, além dos 544 docentes,
há 114 substitutos.
Essas contratações têm, porém,
um caráter emergencial, já que os
docentes nessa situação não participam de grupos de pesquisas.
"Eles [professores substitutos"
não se envolvem porque são temporários, não desenvolvem pesquisa nem extensão. Só dão aulas", afirmou o reitor da UFSCar,
Oswaldo Baptista Duarte Filho.
Para os alunos, as políticas adotadas pelos governos estadual e
federal têm provocado um sucateamento no ensino superior público, numa campanha velada de
privatização das universidades.
"Eles querem que a opinião pública chegue à conclusão que, pela
crise do ensino público, é melhor
privatizar", disse o coordenador-geral do Centro Acadêmico da Faculdade de Direto da Unesp de
Franca, Marcos Rogério de Souza.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Reitor nega "sucateamento" de universidade Índice
|