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SÃO PAULO
Atividades predatórias causaram esgotamento de recursos, fazendo pescadores e agricultores abandonarem o extrativismo
Escassez da natureza muda hábito no litoral
CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
O esgotamento dos recursos naturais obrigou comunidades de
pescadores e agricultores do litoral norte de São Paulo a substituir
o extrativismo pela produção de
espécies em risco, como mariscos
e palmito, além de mudar o manejo dos recursos florestais.
Com a pesca predatória desde a
colonização, por volta do século
16, pelo menos 16 espécies marinhas já não são encontradas com
facilidade pelos pescadores, segundo a USP (Universidade de
São Paulo), o Instituto de Pesca e
os caiçaras. Extrativismo é a utilização de recursos naturais, como
fauna e flora, sem preocupação
com a renovação.
Em Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela existem
pelo menos 67 fazendas de cultivo
de mariscos de propriedade de
pescadores. Árvores caídas da
mata atlântica transformam-se
em canoas nas mãos dos caiçaras.
Com a orientação e o apoio logístico do Instituto de Pesca, do
Instituto Florestal e das prefeituras, famílias e comunidades se organizam para buscar formas de
aproveitar melhor sua produção.
"Há uns dez anos a gente viajava
30 minutos e pegava toneladas de
peixe. Hoje, tem que navegar quatro ou cinco horas", diz Tirso da
Rocha Neves, 50, vice-presidente
da Associação dos Pescadores e
Maricultores da Praia da Cocanha, em Caraguá.
Segundo o Instituto de Pesca,
projetos, como o de cultivo de
mexilhões em fazendas, têm o objetivo de fixar o pescador no seu
local de origem.
De acordo com o Ceagesp
(Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São
Paulo), a produção de pescado cai
20% ao ano. O segredo é reduzir
perdas. Para valorizar a mercadoria, 60 mulheres de pescadores de
São Sebastião têm uma cooperativa de beneficiamento de peixes.
Em Ubatuba, o Projeto Tamar,
com apoio oficial e do grupo Pão
de Açúcar, coordena o projeto de
fabricação da unidade de beneficiamento de pescado, o "fishburguer", no Camburi. A unidade vai
aproveitar peixes de pouco valor
no mercado que vão para o lixo,
como a sardinha mole, para fabricar bolinhos e hambúrgueres.
Para acabar com o extrativismo
vegetal, cinco famílias do sertão
de Ubatumirim, em Ubatuba,
mantêm a produção agroecológica. Juntam ao cultivo da banana e
da mandioca o plantio de espécies
da mata atlântica.
Uma dessas propriedades em
Ubatumirim pode ser a primeira
do litoral norte a ter um plano de
manejo sustentável de palmito juçara, que consiste em planejar a
extração da palmeira naquela determinada área.
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