São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2001

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SÃO PAULO

Atividades predatórias causaram esgotamento de recursos, fazendo pescadores e agricultores abandonarem o extrativismo

Escassez da natureza muda hábito no litoral

CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

O esgotamento dos recursos naturais obrigou comunidades de pescadores e agricultores do litoral norte de São Paulo a substituir o extrativismo pela produção de espécies em risco, como mariscos e palmito, além de mudar o manejo dos recursos florestais.
Com a pesca predatória desde a colonização, por volta do século 16, pelo menos 16 espécies marinhas já não são encontradas com facilidade pelos pescadores, segundo a USP (Universidade de São Paulo), o Instituto de Pesca e os caiçaras. Extrativismo é a utilização de recursos naturais, como fauna e flora, sem preocupação com a renovação.
Em Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba e Ilhabela existem pelo menos 67 fazendas de cultivo de mariscos de propriedade de pescadores. Árvores caídas da mata atlântica transformam-se em canoas nas mãos dos caiçaras.
Com a orientação e o apoio logístico do Instituto de Pesca, do Instituto Florestal e das prefeituras, famílias e comunidades se organizam para buscar formas de aproveitar melhor sua produção.
"Há uns dez anos a gente viajava 30 minutos e pegava toneladas de peixe. Hoje, tem que navegar quatro ou cinco horas", diz Tirso da Rocha Neves, 50, vice-presidente da Associação dos Pescadores e Maricultores da Praia da Cocanha, em Caraguá.
Segundo o Instituto de Pesca, projetos, como o de cultivo de mexilhões em fazendas, têm o objetivo de fixar o pescador no seu local de origem.
De acordo com o Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), a produção de pescado cai 20% ao ano. O segredo é reduzir perdas. Para valorizar a mercadoria, 60 mulheres de pescadores de São Sebastião têm uma cooperativa de beneficiamento de peixes.
Em Ubatuba, o Projeto Tamar, com apoio oficial e do grupo Pão de Açúcar, coordena o projeto de fabricação da unidade de beneficiamento de pescado, o "fishburguer", no Camburi. A unidade vai aproveitar peixes de pouco valor no mercado que vão para o lixo, como a sardinha mole, para fabricar bolinhos e hambúrgueres.
Para acabar com o extrativismo vegetal, cinco famílias do sertão de Ubatumirim, em Ubatuba, mantêm a produção agroecológica. Juntam ao cultivo da banana e da mandioca o plantio de espécies da mata atlântica.
Uma dessas propriedades em Ubatumirim pode ser a primeira do litoral norte a ter um plano de manejo sustentável de palmito juçara, que consiste em planejar a extração da palmeira naquela determinada área.



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