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Aprovado com benefício vai melhor na universidade
Aluno beneficiado por pontos no vestibular da Unicamp tem notas mais altas na graduação
Levantamento da Uerj mostra que cotistas possuem notas melhores e abandonam menos que os demais universitários
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Novos estudos do desempenho acadêmico de beneficiados
por políticas de ações afirmativas na Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) e na
Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro) mostram
que esses estudantes conseguiram reduzir, igualar ou até superar a diferença que os separava dos demais no vestibular.
Na Unicamp -que já havia
divulgado resultados sobre o
desempenho nos dois primeiros semestres letivos- os dados referentes aos quatro primeiros semestres mostram que
os beneficiados com pontos extras no vestibular por serem da
rede pública têm médias melhores que os demais no curso.
Essa situação, que já havia sido identificada no primeiro estudo, aconteceu tanto nas carreiras de alta relação candidato/vaga quanto nas de baixa.
No caso de beneficiados por
se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas, pela primeira
vez a Unicamp pôde analisar
seu rendimento e verificar que
a distância que existia no vestibular diminuiu, mas não o suficiente para que eles superassem os demais.
Os dados da Uerj -onde, diferentemente da Unicamp, há
reserva de vagas no vestibular- são da Diretoria de Informática da universidade e foram
obtidos e analisados pela ONG
Educafro, que defende cotas.
Rendimento
Eles mostram que, quando se
avalia o CR (Coeficiente de
Rendimento) médio de todos
os estudantes que ingressaram
na universidade por cotas desde 2003, os beneficiados pela
cota racial (para autodeclarados negros) ou pela reserva de
vagas para a rede pública se
saem melhor do que os demais
alunos e apresentam taxas de
evasão menores.
A comparação foi feita também levando em conta a média
simples, comparação menos
precisa por não levar em conta
o peso das disciplinas.
Uma disciplina de cálculo em
engenharia, por exemplo, costuma ter mais horas de aula e
peso muito maior no cálculo do
CR do que uma simples disciplina optativa, com carga horária menor.
No cálculo da média simples,
no entanto, pouco importa o
peso. Nesse caso, o resultado se
inverte, com desempenho favorável aos não-cotistas.
Em ambos os casos -CR ou
média simples-, no entanto, a
diferença entre os grupos não
passa de 5,4%, seja a favor dos
cotistas, seja dos não-cotistas.
Hipóteses
O coordenador do vestibular
da Unicamp, Leandro Tessler,
levanta duas hipóteses -que
ainda precisam ser investigadas- para explicar por que alunos oriundos da rede pública
conseguem superar os demais
na universidade, enquanto o
mesmo não acontece com os
autodeclarados pretos, pardos
ou indígenas.
A primeira é que o nível socioeconômico desses alunos
que foram beneficiados pelo
critério racial pode ser menor
do que o dos demais estudantes, o que acaba interferindo no
seu desempenho.
A segunda hipótese é que
possa estar havendo algum
efeito discriminatório na avaliação desses estudantes.
"São apenas hipóteses. O importante, na minha opinião, é
que essa diferença não compromete a qualidade do curso e é
largamente compensada pelo
fato de a gente trazer diversidade para a universidade", diz
Leandro Tessler.
Uerj
No caso da Uerj, o pesquisador do IBGE José Luis Petruccelli, que ajudou a ONG Educafro a analisar os dados, destaca
que em dois terços dos 48 cursos onde é possível fazer a comparação do CR, a média dos cotistas é maior.
O pesquisador também afirma que, em quase todas as
áreas, a diferença entre os grupos é inferior a 5%.
Para o fundador da Educafro,
frei Davi Santos, os resultados
da Uerj mostram que a política
de cotas foi acertada.
Ele afirma que os estudantes
de classe média que tiveram
suas oportunidades diminuídas por causa da reserva de vagas acharam outros caminhos e
estão no ensino superior.
No entanto, o mesmo não
acontecia com os alunos que,
antes das cotas, não conseguiam passar no vestibular.
"Que todos aprendamos a lição das cotas: o vestibular é extremamente injusto e só beneficia quem faz cursinhos", diz.
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