São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2007

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Aprovado com benefício vai melhor na universidade

Aluno beneficiado por pontos no vestibular da Unicamp tem notas mais altas na graduação

Levantamento da Uerj mostra que cotistas possuem notas melhores e abandonam menos que os demais universitários

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Novos estudos do desempenho acadêmico de beneficiados por políticas de ações afirmativas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostram que esses estudantes conseguiram reduzir, igualar ou até superar a diferença que os separava dos demais no vestibular.
Na Unicamp -que já havia divulgado resultados sobre o desempenho nos dois primeiros semestres letivos- os dados referentes aos quatro primeiros semestres mostram que os beneficiados com pontos extras no vestibular por serem da rede pública têm médias melhores que os demais no curso.
Essa situação, que já havia sido identificada no primeiro estudo, aconteceu tanto nas carreiras de alta relação candidato/vaga quanto nas de baixa.
No caso de beneficiados por se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas, pela primeira vez a Unicamp pôde analisar seu rendimento e verificar que a distância que existia no vestibular diminuiu, mas não o suficiente para que eles superassem os demais.
Os dados da Uerj -onde, diferentemente da Unicamp, há reserva de vagas no vestibular- são da Diretoria de Informática da universidade e foram obtidos e analisados pela ONG Educafro, que defende cotas.

Rendimento
Eles mostram que, quando se avalia o CR (Coeficiente de Rendimento) médio de todos os estudantes que ingressaram na universidade por cotas desde 2003, os beneficiados pela cota racial (para autodeclarados negros) ou pela reserva de vagas para a rede pública se saem melhor do que os demais alunos e apresentam taxas de evasão menores.
A comparação foi feita também levando em conta a média simples, comparação menos precisa por não levar em conta o peso das disciplinas.
Uma disciplina de cálculo em engenharia, por exemplo, costuma ter mais horas de aula e peso muito maior no cálculo do CR do que uma simples disciplina optativa, com carga horária menor.
No cálculo da média simples, no entanto, pouco importa o peso. Nesse caso, o resultado se inverte, com desempenho favorável aos não-cotistas.
Em ambos os casos -CR ou média simples-, no entanto, a diferença entre os grupos não passa de 5,4%, seja a favor dos cotistas, seja dos não-cotistas.

Hipóteses
O coordenador do vestibular da Unicamp, Leandro Tessler, levanta duas hipóteses -que ainda precisam ser investigadas- para explicar por que alunos oriundos da rede pública conseguem superar os demais na universidade, enquanto o mesmo não acontece com os autodeclarados pretos, pardos ou indígenas.
A primeira é que o nível socioeconômico desses alunos que foram beneficiados pelo critério racial pode ser menor do que o dos demais estudantes, o que acaba interferindo no seu desempenho.
A segunda hipótese é que possa estar havendo algum efeito discriminatório na avaliação desses estudantes.
"São apenas hipóteses. O importante, na minha opinião, é que essa diferença não compromete a qualidade do curso e é largamente compensada pelo fato de a gente trazer diversidade para a universidade", diz Leandro Tessler.

Uerj
No caso da Uerj, o pesquisador do IBGE José Luis Petruccelli, que ajudou a ONG Educafro a analisar os dados, destaca que em dois terços dos 48 cursos onde é possível fazer a comparação do CR, a média dos cotistas é maior.
O pesquisador também afirma que, em quase todas as áreas, a diferença entre os grupos é inferior a 5%.
Para o fundador da Educafro, frei Davi Santos, os resultados da Uerj mostram que a política de cotas foi acertada.
Ele afirma que os estudantes de classe média que tiveram suas oportunidades diminuídas por causa da reserva de vagas acharam outros caminhos e estão no ensino superior.
No entanto, o mesmo não acontecia com os alunos que, antes das cotas, não conseguiam passar no vestibular.
"Que todos aprendamos a lição das cotas: o vestibular é extremamente injusto e só beneficia quem faz cursinhos", diz.


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