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Preso no lugar de homônimo ganha ação contra o Estado
"João negro" passou dez meses a mais na cadeia no lugar do homônimo "João branco"
Decisão que determina o
pagamento de R$ 70 mil é de
primeira instância -pedido
inicial era de R$ 300 mil;
Estado recorreu da medida
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
João Pereira da Silva, 35, o
"João negro", ladrão que passou dez meses a mais na cadeia
cumprindo por engano a pena
de "João branco", seu homônimo, também criminoso, processou o Estado e ganhou em
primeira instância o direito a
uma indenização de R$ 70 mil.
Em agosto do ano passado, a
Folha mostrou a história de
"João negro": após ser condenado a um ano de prisão por ter
furtado uma carteira com R$
10, João Pereira da Silva não
conseguiu mais ser solto. Um
homônimo, que tinha os mesmos nomes de pai e mãe que
ele, mas era branco, também
havia sido condenado à prisão
por três anos e meio por roubar, com uma arma, R$ 162.
"João branco" passou seis meses na penitenciária e fugiu. Em
seu lugar, ficou "João negro",
confundido pela Justiça.
Sem carteira de identidade,
foram necessários meses para o
exame datiloscópico (registro
das impressões digitais) que
provava a diferença entre os
homônimos ser aceito. "João
negro" só deixou a penitenciária de Franco da Rocha (Grande SP), onde estava, quando a
reportagem foi publicada.
Um mês após estar em liberdade, ele conseguiu ser readmitido no açougue onde trabalhava antes, mas não pôde ser registrado até maio, conta, porque seus documentos não estavam regularizados. "Demorou
para que tudo ficasse certo. Eu
não podia ser contratado porque ainda constava a pena do
outro João para mim."
Situação organizada, ele foi
transferido para um açougue
em Osasco, onde trabalha 15
horas por dia e ganha R$ 800.
Mas continua morando em um
albergue da prefeitura, no centro de São Paulo.
"Só agora é que estou, aos
poucos, conseguindo juntar dinheiro", afirma. "Com a indenização, vou comprar uma casa."
Falta só escolher o local: em
Osasco ou na Bahia, onde tem
parentes. "Meu sonho é ter um
canto para morar e ficar em
paz. Ainda tenho muito medo
de ser confundido com o outro
João e ir para a cadeia de novo."
Foi por conta dos danos morais que os advogados da Pastoral Carcerária, que ajudam
João há dois anos, entraram
com uma ação indenizatória
contra o Estado por erro judiciário. "Ele precisa ter algum tipo de compensação. Dez meses
a mais na cadeia não é pouca
coisa", afirma Cezar Augusto
Foganholo, um dos advogados.
O pedido de indenização era
de R$ 300 mil, mas o juiz Ronaldo Frigini, da 1ª Vara da Fazenda Pública, deu a sentença
no dia 7 de agosto condenando
o Estado a pagar R$ 70 mil. "Vamos entrar com uma apelação
para tentar aumentar o valor,
até porque, como a ação é contra o Estado, automaticamente
ele recorre da sentença", afirma Foganholo. Não há previsão
para o fim do processo. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do governo
estadual informou que é praxe
entrar com recurso.
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