|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PALANQUE DE MASSA
Maioria das propostas, geralmente sem conexão com outras políticas públicas, não resistiu à troca de gestão
Mundo real desafia promessa de campanha
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem se lembra dos ônibus vermelhinhos de dois andares de Jânio Quadros, semelhantes aos que
rodam em Londres? E das carteirinhas do PAS, o plano de saúde
de Paulo Maluf (PP) que prometia
levar os paulistanos ao primeiro
mundo da saúde pública?
Pois esses projetos com grande
repercussão na propaganda dos
ex-prefeitos que prometiam ser a
panacéia que resolveria os problemas da cidade não sobreviveram
ao teste da realidade. Por inviabilidade econômica, como o Dose-dupla de Jânio, ou suspeitas de irregularidades, no caso do programa malufista seguido por Celso
Pitta, eles foram extintos pelos
prefeitos que os sucederam.
E não foram os únicos. A Folha
selecionou as principais bandeiras de campanha ou de início de
governo dos últimos cinco prefeitos e quatro governadores de São
Paulo e verificou o que aconteceu.
Muitos nem saíram do papel.
Como a Casa da Criança, substituta da Febem, e os Cieps prometidos pelo ex-governador Orestes
Quércia, escolões inspirados no
modelo de Leonel Brizola. O peemedebista ganhou a eleição, mas
não os implantou. Hoje nem lembra ao certo o que foi prometido.
Há casos pitorescos que causaram barulho no início das gestões,
como os decretos de Jânio que
proibiam skates, bicicletas e biquínis no parque Ibirapuera, depois revogados. Mais recentemente, houve os psicodramas
propostos pela prefeita Marta Suplicy, terapia grupal que reuniu
8.000 pessoas para dramatizar a
relação com a cidade. Na segunda
"sessão", só 500 apareceram.
Mais visíveis, as grandes obras
de engenharia contam parte dessa
história. Marta, candidata à reeleição, assumiu a continuidade do
Fura-Fila, caso recente mais emblemático da influência do marketing nas gestões. Criação do
marqueteiro Duda Mendonça,
hoje em diversas campanhas do
PT, inclusive na de Marta, o projeto foi o maior destaque na eleição
que levou Celso Pitta à prefeitura.
A previsão era que começasse a
funcionar em 1998, mas, depois
de oito anos e de mais de R$ 400
milhões, ainda está em construção. Marta promete o primeiro
trecho para dezembro.
Já o Rodoanel, encampado pelo
governador Mário Covas, do
PSDB do também candidato José
Serra, previa a construção de um
anel viário de mais de 170 km ao
redor da região metropolitana de
São Paulo. Passados dez anos, só o
trecho oeste (32 km) ficou pronto.
Em comum à maioria desses
projetos há o fato de terem sido
apresentados isoladamente, sem
conexões com outras políticas públicas. "As complexas políticas
urbanas se reduzem a questões de
marketing nas eleições. Parecem
simples ao eleitor, mas não têm
viabilidade", observa o professor
de história do urbanismo Nestor
Goulart Reis Filho, da USP (Universidade de São Paulo).
Para ele, o divórcio entre quem
faz os projetos e quem os aplica é
trágico. "Projetos sem conexão
com um plano de governo multidisciplinar acabam retalhando as
administrações."
O urbanista acredita que as soluções mais eficazes geralmente
são aquelas que aplicam o conhecimento técnico já consolidado e
apostam em programas de longo
prazo. "Propostas que parecem
sair da cartola devem ser vistas
com cautela pelo eleitor."
Reis Filho cita como exemplo
positivo o IPPUC, instituto autônomo criado em 1965 em Curitiba
que ajuda prefeitos a planejarem
o desenvolvimento da cidade.
Texto Anterior: Há 50 anos: Alemanha assina tratado com EUA Próximo Texto: Eleitos esclarecem fim de projetos Índice
|