São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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Tema de livros, seqüestro deve inspirar filme

DO ENVIADO AO CANADÁ

O seqüestro de Abilio Diniz daria um filme, já se disse. E dará. O jornalista brasileiro Breno Altman já tem o argumento de seu "A Última Operação" (título provisório) comprado por uma produtora, que por enquanto pede sigilo quanto ao nome, por razões jurídicas, mas que deve lançar o longa pelo menos nos países envolvidos no caso -ou seja, Brasil, Argentina, Canadá e Chile.
O argumento de Altman é tirado de seu próprio livro, ainda inacabado, que tem o mesmo título provisório e que ele entrega em 30 de abril do ano que vem à editora (que, também por razões jurídicas, pede sigilo quanto ao nome -é um caso cheio de sigilos).
Segundo o autor, livro e filme centram-se mais no antes e durante seqüestro, julgamento e prisão e param onde esta reportagem começou, ou seja, na volta dos envolvidos a seus países de origem. Como pano de fundo, um panorama da esquerda de então. Christine e David aparecem, mas aparentemente sem o mesmo destaque dos latino-americanos.
Mas o casal está lá. Como, por exemplo, na cena "Centro de Observação Criminológica, 20 de novembro de 1998", a que a Folha teve acesso, que conta o primeiro encontro dos dois canadenses depois de oito anos e 11 meses separados pela cadeia. Acompanhe a chegada de Christine ao setor do Carandiru onde está o namorado:
"O percurso levou 70 minutos. Às 19h20, os veículos da PF chegaram ao Carandiru. Parecia um filme americano: armas em punho, corpos para fora, pneus cantando. O inconveniente é que os federais brasileiros não são a Swat [grupo de elite da polícia dos EUA]. O primeiro carro do séquito estava com as pastilhas de freio gastas, não parou quando devia e atropelou quatro pessoas. Os atingidos tiveram ferimentos leves. No tumulto, uma metralhadora foi atirada ao chão, mas não disparou."
"A Última Operação", filme e livro, vem se juntar às duas obras já escritas sobre o assunto, ambas de jornalistas canadenses, algo antagônicas. A de mais repercussão, tanto no Brasil quanto no Canadá, é "Uma Questão de Justiça" (Editora Record, 1995, "See no Evil", ou "não vejo mal nenhum"), de Isabel Vincent.
Na época chefe da sucursal latino-americana de "The Globe and Mail", ela acompanhou o caso in loco. Vincent tenta derrubar a tese de que Christine e David seriam dois inocentes úteis preocupados com a desigualdade social no mundo que entraram de gaiatos numa operação da esquerda guerrilheira latino-americana.
Essa versão, usada pela defesa dos canadenses no julgamento, também é descartada por outra jornalista canadense, Caroline Mallan, autora de "Wrong Time, Wrong Place" ("na hora errada, no lugar errado", Key Porter Books, 1995), à época enviada especial de "The Toronto Star" para cobrir o caso em São Paulo.
Esta poupa o comportamento chauvinista do governo e de parte da imprensa canadense no caso, diferentemente de Vincent. (SD)


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