São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2005

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SEGURANÇA

Praia teve 36 imóveis invadidos; ranking abrange costa sul da cidade, área mais nobre do litoral de São Paulo

Boiçucanga é lider em furto em S. Sebastião

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO

A praia de Boiçucanga é a campeã em número de furtos e roubos a moradias na costa sul de São Sebastião (214 km de São Paulo), aponta um levantamento obtido pela Folha, com base em registros feitos pela polícia. Entre maio e setembro, foram 36 casos (24 furtos e 12 roubos a casas do bairro).
A costa sul de São Sebastião, no litoral norte do Estado, é considerada hoje o trecho de maior valorização imobiliária no litoral de São Paulo. A região tem 45 km de extensão e abrange 16 praias onde existem cerca de 50 mil imóveis, com condomínios luxuosos e casas de veraneio, responsáveis por 30% (R$ 6,9 milhões) de todo o IPTU arrecadado pela cidade.
Quem já sofreu um assalto na região relata momentos de terror. Muitos, traumatizados pela experiência, colocaram a casa à venda, alegando falta de segurança.
Em segundo lugar na lista, está a praia de Maresias, com 35 casos registrados no período, dos quais 23 foram furtos e 12 foram roubos a residências. Juqueí vem logo atrás, com 15 imóveis furtados e outros 14 roubados ao longo dos cinco meses (29 no total). O quarto colocado é Boracéia, com seis furtos e 11 roubos a casas.
Segundo veranistas e representantes de associações de moradores, esses crimes são mais freqüentes durante a baixa temporada, que vai de março a novembro. Nesse período, o movimento de turistas é baixo e não há reforço no policiamento. É quando os criminosos aproveitam para agir.
O levantamento mostra que a maioria dos roubos (85,5%) ocorreu entre sexta e domingo, principalmente aos sábados (47,6%), dias em que os veranistas costumam estar nas casas. Já a maior parte dos furtos (55,6%) foi realizada entre segunda e quinta-feira, quando a casa de veraneio costuma estar fechada.
Para a secretária do Conseg (Conselho de Segurança) de Boiçucanga, Éder Ávila Castanho Monteiro, os números refletem a necessidade de mais policiais militares e carros para o patrulhamento das praias. "Não podemos fugir da realidade. O número de roubos e furtos é preocupante e a estrutura da Polícia Militar na costa sul não é suficiente para fazer a segurança da região. Durante a alta temporada, as coisas ficam mais tranqüilas, porque recebemos a Operação Verão e temos polícia para todos os lados. O problema é na baixa temporada."
No início de setembro, um estudante paulistano de 19 anos foi morto com dois tiros ao reagir a um assalto à casa de veraneio da família, em Barra do Una. A avó dele foi atingida, mas sobreviveu.
O corretor de seguros Cláudio Santos, 44, que vive em Santo André e tem uma casa em Boiçucanga, colocou o imóvel da praia à venda. No último dia 15, ele e o sócio foram surpreendidos por dois assaltantes dentro da moradia.
Depois de muitas ameaças e de terem atirado no cão de Santos, a dupla fugiu levando dinheiro, celulares e um computador portátil. "Foi como num filme de terror, não sabia se estava acordado ou sonhando. Quero vender a casa."
A rua Athaíde Isidoro dos Santos, em Juqueí, é uma amostra de como a violência mudou a rotina de veranistas. A via é a que mais registrou roubos e furtos nos cinco meses: foram seis casos.
A dona-de-casa Cristina (nome fictício) colocou à venda a casa de veraneio que possui no local. Motivo: os três assaltos a mão armada e diversos furtos sofridos por ela e pela família nos últimos três anos. "Em um dos assaltos, um dos ladrões chegou a colocar uma escopeta na boca do meu marido. Meu filho de 11 anos está traumatizado, passou por tratamento psicológico, mas até hoje não consegue ficar sozinho." Segundo ela, no último dos roubos, em setembro, a polícia só chegou ao local três horas depois de ser chamada.
O coronel Sérgio Teixeira Alves, 63, comandante da Polícia Militar no Vale do Paraíba e litoral norte de São Paulo, disse que até o fim do ano os batalhões de Maresias e Barra do Una, que atendem a costa sul de São Sebastião, terão um aumento de policiais e de carros para o patrulhamento. Ele não quis, porém, antecipar quantos policiais e carros novos serão destinados ao local. Segundo ele, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deverá fazer o anúncio.
Alves diz não acreditar que o reforço no policiamento diminua a incidência de furtos e roubos a moradia na costa sul, números que ele considera "razoáveis". O efetivo na região é suficiente para o policiamento preventivo, diz. "O problema é mais complexo. Trata-se de uma questão social. A PM, sozinha, não tem como resolver o problema da criminalidade em toda a comunidade."
Para o coronel, o principal fator de crescimento da criminalidade na região é a ocupação irregular. "Não sou contra favela. Mas é evidente que a falta de condições de moradia, de saúde, de educação e de dignidade leva à violência."
Ele diz que a geografia da região dificulta o deslocamento, atrapalha no patrulhamento e impede uma maior presença da polícia, mas que há projetos para melhorar a situação, como a realização de Termos Circunstanciados (registro de crimes de menor potencial ofensivo) por policiais no próprio local da ocorrência -antes era preciso ir até a delegacia- e a implantação do projeto Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas).
O delegado Múcio Mattos, responsável pelas duas delegacias da costa sul (Juqueí e Boiçucanga), considera o número de roubos a casas na região preocupante. Segundo ele, a polícia identificou três grupos responsáveis por parte dos roubos e furtos a moradias. Esses grupos, diz, são formados por ladrões que agem sem planejamento, aproveitando descuidos das vítimas para realizar os assaltos. Assaltantes da zona leste de São Paulo e da Baixada Santista (Santos e São Vicente) também costumam agir na região, afirma.
Mattos diz que o principal problema da polícia para prender os criminosos é que a maioria das vítimas não quer fazer o reconhecimento dos criminosos. "Elas ficam com medo, mas só assim é possível prender essas pessoas."


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