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SEGURANÇA
Praia teve 36 imóveis invadidos; ranking abrange costa sul da cidade, área mais nobre do litoral de São Paulo
Boiçucanga é lider em furto em S. Sebastião
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO SEBASTIÃO
A praia de Boiçucanga é a campeã em número de furtos e roubos a moradias na costa sul de São
Sebastião (214 km de São Paulo),
aponta um levantamento obtido
pela Folha, com base em registros
feitos pela polícia. Entre maio e
setembro, foram 36 casos (24 furtos e 12 roubos a casas do bairro).
A costa sul de São Sebastião, no
litoral norte do Estado, é considerada hoje o trecho de maior valorização imobiliária no litoral de
São Paulo. A região tem 45 km de
extensão e abrange 16 praias onde
existem cerca de 50 mil imóveis,
com condomínios luxuosos e casas de veraneio, responsáveis por
30% (R$ 6,9 milhões) de todo o
IPTU arrecadado pela cidade.
Quem já sofreu um assalto na
região relata momentos de terror.
Muitos, traumatizados pela experiência, colocaram a casa à venda,
alegando falta de segurança.
Em segundo lugar na lista, está a
praia de Maresias, com 35 casos
registrados no período, dos quais
23 foram furtos e 12 foram roubos
a residências. Juqueí vem logo
atrás, com 15 imóveis furtados e
outros 14 roubados ao longo dos
cinco meses (29 no total). O quarto colocado é Boracéia, com seis
furtos e 11 roubos a casas.
Segundo veranistas e representantes de associações de moradores, esses crimes são mais freqüentes durante a baixa temporada, que vai de março a novembro.
Nesse período, o movimento de
turistas é baixo e não há reforço
no policiamento. É quando os criminosos aproveitam para agir.
O levantamento mostra que a
maioria dos roubos (85,5%) ocorreu entre sexta e domingo, principalmente aos sábados (47,6%),
dias em que os veranistas costumam estar nas casas. Já a maior
parte dos furtos (55,6%) foi realizada entre segunda e quinta-feira,
quando a casa de veraneio costuma estar fechada.
Para a secretária do Conseg
(Conselho de Segurança) de Boiçucanga, Éder Ávila Castanho
Monteiro, os números refletem a
necessidade de mais policiais militares e carros para o patrulhamento das praias. "Não podemos
fugir da realidade. O número de
roubos e furtos é preocupante e a
estrutura da Polícia Militar na
costa sul não é suficiente para fazer a segurança da região. Durante a alta temporada, as coisas ficam mais tranqüilas, porque recebemos a Operação Verão e temos
polícia para todos os lados. O problema é na baixa temporada."
No início de setembro, um estudante paulistano de 19 anos foi
morto com dois tiros ao reagir a
um assalto à casa de veraneio da
família, em Barra do Una. A avó
dele foi atingida, mas sobreviveu.
O corretor de seguros Cláudio
Santos, 44, que vive em Santo André e tem uma casa em Boiçucanga, colocou o imóvel da praia à
venda. No último dia 15, ele e o sócio foram surpreendidos por dois
assaltantes dentro da moradia.
Depois de muitas ameaças e de
terem atirado no cão de Santos, a
dupla fugiu levando dinheiro, celulares e um computador portátil.
"Foi como num filme de terror,
não sabia se estava acordado ou
sonhando. Quero vender a casa."
A rua Athaíde Isidoro dos Santos, em Juqueí, é uma amostra de
como a violência mudou a rotina
de veranistas. A via é a que mais
registrou roubos e furtos nos cinco meses: foram seis casos.
A dona-de-casa Cristina (nome
fictício) colocou à venda a casa de
veraneio que possui no local. Motivo: os três assaltos a mão armada e diversos furtos sofridos por
ela e pela família nos últimos três
anos. "Em um dos assaltos, um
dos ladrões chegou a colocar uma
escopeta na boca do meu marido.
Meu filho de 11 anos está traumatizado, passou por tratamento
psicológico, mas até hoje não consegue ficar sozinho." Segundo ela,
no último dos roubos, em setembro, a polícia só chegou ao local
três horas depois de ser chamada.
O coronel Sérgio Teixeira Alves,
63, comandante da Polícia Militar
no Vale do Paraíba e litoral norte
de São Paulo, disse que até o fim
do ano os batalhões de Maresias e
Barra do Una, que atendem a costa sul de São Sebastião, terão um
aumento de policiais e de carros
para o patrulhamento. Ele não
quis, porém, antecipar quantos
policiais e carros novos serão destinados ao local. Segundo ele, o
governador Geraldo Alckmin
(PSDB) deverá fazer o anúncio.
Alves diz não acreditar que o reforço no policiamento diminua a
incidência de furtos e roubos a
moradia na costa sul, números
que ele considera "razoáveis". O
efetivo na região é suficiente para
o policiamento preventivo, diz.
"O problema é mais complexo.
Trata-se de uma questão social. A
PM, sozinha, não tem como resolver o problema da criminalidade
em toda a comunidade."
Para o coronel, o principal fator
de crescimento da criminalidade
na região é a ocupação irregular.
"Não sou contra favela. Mas é evidente que a falta de condições de
moradia, de saúde, de educação e
de dignidade leva à violência."
Ele diz que a geografia da região
dificulta o deslocamento, atrapalha no patrulhamento e impede
uma maior presença da polícia,
mas que há projetos para melhorar a situação, como a realização
de Termos Circunstanciados (registro de crimes de menor potencial ofensivo) por policiais no próprio local da ocorrência -antes
era preciso ir até a delegacia- e a
implantação do projeto Rocam
(Rondas Ostensivas com Apoio
de Motocicletas).
O delegado Múcio Mattos, responsável pelas duas delegacias da
costa sul (Juqueí e Boiçucanga),
considera o número de roubos a
casas na região preocupante. Segundo ele, a polícia identificou
três grupos responsáveis por parte dos roubos e furtos a moradias.
Esses grupos, diz, são formados
por ladrões que agem sem planejamento, aproveitando descuidos
das vítimas para realizar os assaltos. Assaltantes da zona leste de
São Paulo e da Baixada Santista
(Santos e São Vicente) também
costumam agir na região, afirma.
Mattos diz que o principal problema da polícia para prender os
criminosos é que a maioria das vítimas não quer fazer o reconhecimento dos criminosos. "Elas ficam com medo, mas só assim é
possível prender essas pessoas."
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