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USP terá "beijaço" após casal gay ser expulso de festa
Rapazes dizem que foram retirados com "empurrões e pontapés" de festa após se beijarem
"Atitude não foi contra o beijo gay e sim contra os excessos", dizem alunos da veterinária", organizadora da festa, em nota oficial
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um beijo gay numa festa universitária, seguido de agressões
e xingamentos, virou caso de
polícia nesta semana e é motivo
para uma manifestação com
beijo coletivo entre pessoas do
mesmo sexo e performance dos
atores do Espaço dos Satyros
amanhã, no curso de veterinária do campus da USP.
Estudantes de letras, Jarbas
Rezende Lima, 25, e José
Eduardo Góes,18, que afirmam
ser apenas amigos, contam ter
sido expulsos por "empurrões e
pontapés" depois de um beijo
no palco de um baile funk promovido por alunos de veterinária na sexta-feira.
Segundo a versão deles, entre
demais beijos de casais mistos,
o DJ da festa interrompeu a
música, acendeu as luzes e
apontou para Lima e Góes.
Mesmo constrangidos, os dois
continuaram a se beijar até que
foram empurrados para o chão
por outro aluno. Na troca de insultos, os dois foram expulsos.
Em dois tempos, a festa acabou.
"Toda a exposição já foi uma
agressão. Fomos expulsos a
empurrões e pontapés. A USP
sempre foi um espaço aberto.
Pessoas contrárias existem em
qualquer lugar. O susto foi exatamente por isso. Nos agrediram sem perguntar absolutamente nada", diz Lima.
O casal registrou queixa por
constrangimento ilegal e lesão
corporal na Decradi, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos
de Intolerância. Um inquérito
foi aberto e, segundo a Secretaria da Segurança Pública, o caso
será investigado.
O episódio causou consternação entre os demais alunos
da USP, que planejam fazer um
"beijaço" justamente na sede
do centro acadêmico Moacyr
Rossi Nilsson, do curso de veterinária, organizador da festa.
Excessos
A reitoria da USP não quis
comentar o caso. Procurados
pela reportagem, os alunos do
centro acadêmico não responderam aos pedidos de entrevista. Em nota, negam a agressão e
afirmam que há gays entre os
membros da gestão.
"Os estudantes Jarbas e
Eduardo não estavam apenas
se beijando. Era uma troca de
carícias muito mais explícita, o
que acabou provocando certo
desconforto em alguns dos
poucos presentes, não por conta de ser um casal homossexual, mas sim porque a demonstração exacerbada estava
ocorrendo no local mais visível
do evento", diz a nota do centro
acadêmico de veterinária.
O protesto com beijo gay coletivo está programado para
amanhã à noite, justamente em
mais uma das festas dos alunos
de veterinária.
"Queremos fazer uma intervenção e colocar todo mundo
se beijando. É um absurdo o
que aconteceu. A USP está virando a universidade dos aiatolás. Alguns atores vão lá e vamos ver se o pessoal perde essa
atitude histérica", afirma Rodolfo García Vázquez, diretor
do Espaço dos Satyros.
Segundo Lima, ele e Góes freqüentam há um bom tempo as
festas dos colegas de veterinária, realizadas às sextas-feiras, e
já viram outros casais gays se
beijando. "Mas naquele dia só
tínhamos nós dois de gays e havia menos gente, a maioria alunos da veterinária." Num certo
momento, diz, empolgados pelo funk, decidiram se beijar como "uma curtição do momento, nada para provocar".
Em nota, os alunos de veterinária dizem ainda que "freqüentemente há casais gays por
lá, inclusive beijando-se na pista de dança, e nunca foram reprimidos". "A atitude não foi
contra o "beijo" gay e sim contra
os excessos", dizem.
"É lamentável que tenha
ocorrido numa instituição como a USP. A universidade está
aí para instruir e para formar
opinião. É preciso uma política
para acabar com a intolerância", diz Gustavo Menezes, da
Associação da Parada GLBT. A
Secretaria de Justiça diz que o
centro pode ser multada.
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