São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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USP terá "beijaço" após casal gay ser expulso de festa

Rapazes dizem que foram retirados com "empurrões e pontapés" de festa após se beijarem

"Atitude não foi contra o beijo gay e sim contra os excessos", dizem alunos da veterinária", organizadora da festa, em nota oficial

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um beijo gay numa festa universitária, seguido de agressões e xingamentos, virou caso de polícia nesta semana e é motivo para uma manifestação com beijo coletivo entre pessoas do mesmo sexo e performance dos atores do Espaço dos Satyros amanhã, no curso de veterinária do campus da USP.
Estudantes de letras, Jarbas Rezende Lima, 25, e José Eduardo Góes,18, que afirmam ser apenas amigos, contam ter sido expulsos por "empurrões e pontapés" depois de um beijo no palco de um baile funk promovido por alunos de veterinária na sexta-feira.
Segundo a versão deles, entre demais beijos de casais mistos, o DJ da festa interrompeu a música, acendeu as luzes e apontou para Lima e Góes. Mesmo constrangidos, os dois continuaram a se beijar até que foram empurrados para o chão por outro aluno. Na troca de insultos, os dois foram expulsos. Em dois tempos, a festa acabou.
"Toda a exposição já foi uma agressão. Fomos expulsos a empurrões e pontapés. A USP sempre foi um espaço aberto. Pessoas contrárias existem em qualquer lugar. O susto foi exatamente por isso. Nos agrediram sem perguntar absolutamente nada", diz Lima.
O casal registrou queixa por constrangimento ilegal e lesão corporal na Decradi, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Um inquérito foi aberto e, segundo a Secretaria da Segurança Pública, o caso será investigado.
O episódio causou consternação entre os demais alunos da USP, que planejam fazer um "beijaço" justamente na sede do centro acadêmico Moacyr Rossi Nilsson, do curso de veterinária, organizador da festa.

Excessos
A reitoria da USP não quis comentar o caso. Procurados pela reportagem, os alunos do centro acadêmico não responderam aos pedidos de entrevista. Em nota, negam a agressão e afirmam que há gays entre os membros da gestão.
"Os estudantes Jarbas e Eduardo não estavam apenas se beijando. Era uma troca de carícias muito mais explícita, o que acabou provocando certo desconforto em alguns dos poucos presentes, não por conta de ser um casal homossexual, mas sim porque a demonstração exacerbada estava ocorrendo no local mais visível do evento", diz a nota do centro acadêmico de veterinária.
O protesto com beijo gay coletivo está programado para amanhã à noite, justamente em mais uma das festas dos alunos de veterinária.
"Queremos fazer uma intervenção e colocar todo mundo se beijando. É um absurdo o que aconteceu. A USP está virando a universidade dos aiatolás. Alguns atores vão lá e vamos ver se o pessoal perde essa atitude histérica", afirma Rodolfo García Vázquez, diretor do Espaço dos Satyros.
Segundo Lima, ele e Góes freqüentam há um bom tempo as festas dos colegas de veterinária, realizadas às sextas-feiras, e já viram outros casais gays se beijando. "Mas naquele dia só tínhamos nós dois de gays e havia menos gente, a maioria alunos da veterinária." Num certo momento, diz, empolgados pelo funk, decidiram se beijar como "uma curtição do momento, nada para provocar".
Em nota, os alunos de veterinária dizem ainda que "freqüentemente há casais gays por lá, inclusive beijando-se na pista de dança, e nunca foram reprimidos". "A atitude não foi contra o "beijo" gay e sim contra os excessos", dizem.
"É lamentável que tenha ocorrido numa instituição como a USP. A universidade está aí para instruir e para formar opinião. É preciso uma política para acabar com a intolerância", diz Gustavo Menezes, da Associação da Parada GLBT. A Secretaria de Justiça diz que o centro pode ser multada.


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