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SAÚDE NA UTI
Agência federal promete saída "em 48 horas" para a crise no plano de saúde, sob intervenção desde outubro
Cliente da Interclínicas fica sem garantias
FABIANE LEITE
FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) ainda não definiu uma solução para garantir o
atendimento aos mais de 100 mil
associados do plano de saúde Interclínicas, que opera principalmente em São Paulo.
Ontem o órgão determinou que
a empresa, que estava sob direção
fiscal -tipo de intervenção-
desde o dia 18 de outubro, venda
sua carteira de clientes a outra
operadora. A alienação compulsória foi a saída encontrada pela
ANS diante do grave quadro econômico-financeiro da operadora,
que prejudica os usuários.
Alfredo Cardoso, diretor de
normas e habilitação da agência,
afirmou ontem que tanto a Interclínicas como o órgão governamental apresentarão solução para
os usuários "em 48 horas". Ele indicou a quem estiver sem atendimento avisar a ANS pelo 0800-7019656. Ou procurar a Justiça.
Cardoso não quis fornecer dados sobre o endividamento da
operadora (alegou ser assunto da
empresa). "Não me sinto confortável." A assessoria da Interclínicas disse que não se manifestaria.
Cardoso diz que "os problemas
econômicos e financeiros eram de
solução impossível", principalmente as dívidas de curto prazo
com fornecedores. Segundo o diretor, a empresa ainda não foi liquidada, mas isso poderá ocorrer
no curso da análise do órgão.
Cardoso disse que a operadora
tem 15 dias para que outra empresa assuma a carteira. Caso isso
não ocorra, a agência faz espécie
de leilão, compulsoriamente.
Sem atendimento
Segundo a assessoria da ANS, o
último processo semelhante ao da
Interclínicas ocorreu em 2001,
com a Unimed paulistana. Das
2.174 empresas em operação no
setor, 29 estão em direção fiscal. A
Interclínicas assumiu no mês passado o primeiro lugar no ranking
de reclamações recebidas pela
agência sobre operadoras de
grande porte.
Tradicional no setor, a empresa
perdeu 30 mil clientes nos últimos
15 dias, disse Cardoso.
Com diagnóstico de câncer da
mama, a aposentada Maria de
Lourdes Lacerda, 73, espera há
um mês por uma solução. Recebeu recomendação para ser operada imediatamente, pois o tumor já é metástase -ela já havia
retirado uma mama há alguns
anos. Mas o hospital e o cirurgião
disseram não poder fazer a operação porque estão sem receber da
Interclínicas, diz a filha de Lacerda, Jorgina Lacerda Silva, 50.
"Sou associada há 23 anos e não
me explicaram nada, absolutamente nada", afirma Silva, que
mantém a mãe como sua dependente pagando R$ 800 por mês.
A jornalista Renata Noschesi,
30, disse que também não foi avisada sobre o descredenciamento
de serviços. Deixou o plano porque nenhum dos três hospitais
que usava na zona sul atendem
mais a Interclínicas. Relata que ligou várias vezes para a empresa
para pedir explicações e nada.
Entidades de defesa do consumidor alertam que o consumidor
que quiser mudar de plano de
saúde antes da alienação da Interclínicas por uma outra empresa
deve verificar junto à ANS se a
empresa escolhida não está também sob processo de direção fiscal. É necessário também estar
atento ao prazo de carência.
A Interclínicas não pode negar
atendimento a quem continuar
no plano. Caso isso aconteça, o
consumidor deve procurar o Juizado Especial Cível e os órgãos de
defesa do consumidor.
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