São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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SAÚDE NA UTI

Agência federal promete saída "em 48 horas" para a crise no plano de saúde, sob intervenção desde outubro

Cliente da Interclínicas fica sem garantias

FABIANE LEITE
FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ainda não definiu uma solução para garantir o atendimento aos mais de 100 mil associados do plano de saúde Interclínicas, que opera principalmente em São Paulo.
Ontem o órgão determinou que a empresa, que estava sob direção fiscal -tipo de intervenção- desde o dia 18 de outubro, venda sua carteira de clientes a outra operadora. A alienação compulsória foi a saída encontrada pela ANS diante do grave quadro econômico-financeiro da operadora, que prejudica os usuários.
Alfredo Cardoso, diretor de normas e habilitação da agência, afirmou ontem que tanto a Interclínicas como o órgão governamental apresentarão solução para os usuários "em 48 horas". Ele indicou a quem estiver sem atendimento avisar a ANS pelo 0800-7019656. Ou procurar a Justiça.
Cardoso não quis fornecer dados sobre o endividamento da operadora (alegou ser assunto da empresa). "Não me sinto confortável." A assessoria da Interclínicas disse que não se manifestaria.
Cardoso diz que "os problemas econômicos e financeiros eram de solução impossível", principalmente as dívidas de curto prazo com fornecedores. Segundo o diretor, a empresa ainda não foi liquidada, mas isso poderá ocorrer no curso da análise do órgão.
Cardoso disse que a operadora tem 15 dias para que outra empresa assuma a carteira. Caso isso não ocorra, a agência faz espécie de leilão, compulsoriamente.

Sem atendimento
Segundo a assessoria da ANS, o último processo semelhante ao da Interclínicas ocorreu em 2001, com a Unimed paulistana. Das 2.174 empresas em operação no setor, 29 estão em direção fiscal. A Interclínicas assumiu no mês passado o primeiro lugar no ranking de reclamações recebidas pela agência sobre operadoras de grande porte.
Tradicional no setor, a empresa perdeu 30 mil clientes nos últimos 15 dias, disse Cardoso.
Com diagnóstico de câncer da mama, a aposentada Maria de Lourdes Lacerda, 73, espera há um mês por uma solução. Recebeu recomendação para ser operada imediatamente, pois o tumor já é metástase -ela já havia retirado uma mama há alguns anos. Mas o hospital e o cirurgião disseram não poder fazer a operação porque estão sem receber da Interclínicas, diz a filha de Lacerda, Jorgina Lacerda Silva, 50.
"Sou associada há 23 anos e não me explicaram nada, absolutamente nada", afirma Silva, que mantém a mãe como sua dependente pagando R$ 800 por mês.
A jornalista Renata Noschesi, 30, disse que também não foi avisada sobre o descredenciamento de serviços. Deixou o plano porque nenhum dos três hospitais que usava na zona sul atendem mais a Interclínicas. Relata que ligou várias vezes para a empresa para pedir explicações e nada.
Entidades de defesa do consumidor alertam que o consumidor que quiser mudar de plano de saúde antes da alienação da Interclínicas por uma outra empresa deve verificar junto à ANS se a empresa escolhida não está também sob processo de direção fiscal. É necessário também estar atento ao prazo de carência.
A Interclínicas não pode negar atendimento a quem continuar no plano. Caso isso aconteça, o consumidor deve procurar o Juizado Especial Cível e os órgãos de defesa do consumidor.


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