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Alunos brasileiros ficam entre os últimos em ciências
Brasil ficou em 52º lugar entre 57 países em ranking que compara qualidade de ensino
País ficou à frente apenas de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão; Finlândia teve o melhor desempenho
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma comparação da qualidade da educação em 57 países
mostrou que o desempenho
médio dos estudantes brasileiros de 15 anos é suficiente apenas para colocar o país na 52ª
posição do ranking que mede o
aprendizado em ciências.
O resultado foi divulgado ontem pela OCDE (Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que,
de três em três anos, aplica o Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação
de Alunos) com o objetivo de
comparar a qualidade da educação em diversos países. No
ano passado, a ênfase da prova
-que já focalizou as áreas de
leitura e matemática em anos
anteriores- foi em ciências.
O relatório completo do Pisa
só será conhecido na terça-feira, mas ontem a OCDE divulgou os primeiros rankings, que
mostram a Finlândia com o
melhor desempenho, seguida
de Hong Kong e Canadá. O Brasil ficou à frente apenas de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão,
Qatar e Quirguistão, o pior.
No entanto, como há um coeficiente de variação das médias
em cada país, a posição brasileira pode variar entre a 50ª, no
cenário mais positivo, e a 54ª,
no mais negativo. Por causa
disso, o Brasil está tecnicamente empatado com Indonésia,
Argentina, Colômbia e Tunísia.
Apenas seis países da América Latina fazem parte do Pisa.
O mais bem colocado na lista
foi o Chile (40ª posição), seguido de Uruguai (43ª) e México
(49º). Todos, no entanto, ficaram abaixo da média dos membros da OCDE (que congrega
30 países, em sua maioria europeus e da América do Norte).
Como o programa é de livre
adesão, Índia, China e quase todos os países africanos, por
exemplo, não participam.
Para o presidente do Inep
(instituto de avaliação do Ministério da Educação), Reynaldo Fernandes, a posição do
Brasil "não é boa", mas era esperada, já que os outros países,
na maioria, são desenvolvidos e
porque outras avaliações já haviam apontado baixo desempenho dos estudantes brasileiros
em outras áreas. "Não é um caso específico de ciência."
Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação
Tecnológica Latino-Americana
e ex-representante da Unesco
no Brasil, diz que os resultados
expõem a necessidade de investir no ensino de ciências desde
cedo nas escolas públicas.
"A imensa maioria das escolas públicas de ensino fundamental no Brasil não tem ensino de ciências, nem professor
capacitado para isso. É por isso
que poucos alunos chegam ao
ensino médio interessados e
com bom desempenho nas disciplinas dessa área", afirma.
Para ele, o resultado não pode ser considerado aceitável.
"Lamentavelmente, mais uma
vez aparecemos atrás de países
da América Latina e muito defasados em relação aos países
desenvolvidos. Ontem, ao ler [o
jornal espanhol] "El País", vi que
eles consideram inaceitável a
31ª posição da Espanha. Se é
inaceitável para eles, tem de ser
para nós também."
O presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Marco Antonio Raupp, afirma que há
uma disparidade entre o desempenho dos estudantes jovens e os rankings mundiais de
produção científica.
No último, produzido pela
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o Brasil ficou na
15ª posição -a lista, porém,
tem apenas 30 países. "Foi feito
um grande esforço [do governo
federal], com agências voltadas
à pós-graduação, mas nada
comparável foi realizado em relação ao ensino fundamental."
Ele apontou como um dos
problemas a falta de professores qualificados para o ensino
de ciência -relatório recente
do Conselho Nacional de Educação apontou que apenas 9%
dos docentes de física da rede
pública têm formação específica; em química, apenas 13%.
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