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Zeladora enfrentou três grandes enchentes
MOACYR LOPES JUNIOR
ENVIADO ESPECIAL A ITAJAÍ
Na mesma casa da rua Aristide Francisco Palumbo, em
Dom Bosco, um dos tantos
bairros alagados pela enchente
de Itajaí, a zeladora Oudnéia da
Silva Alexandre, 43, já passou
por três enchentes.
Da primeira, em 1983, quando tinha 18 anos, ela se lembra
do trabalho que teve na limpeza pesada. Da outra, no ano seguinte, a mesma recordação.
Hoje, 24 anos depois, o cenário é mais desolador, e o prejuízo, maior.
"Neste ano foi pior, perdemos a metade das nossas coisas. A casa é grande, era de minha mãe que morreu há dois
anos", afirma.
A família perdeu três colchões, a mesa da cozinha, roupas e uma TV de 29 polegadas
que, recém-comprada a prazo,
já não funciona mais, para angústia do marido, Rubens Osmar Alexandre, 45, encarregado de almoxarifado.
Há sete meses no emprego,
há sete dias não vai trabalhar: a
empresa também está alagada.
Com a água que insistentemente subia, a família deixou a
casa para se abrigar no piso de
cima, onde mora o irmão mais
velho de Oudnéia. Durante a
chuva que começou forte no
fim de semana passado, eles
não acreditavam que a enchente seria tão grave.
Eram quatro adultos e duas
crianças. Sem luz, telefone ou
bateria de celular. Ilhados, não
puderam sair de casa. A distração era ouvir os barcos passando na rua e as conversas
dos vizinhos.
Nesses dias de isolamento, a
comida era o que tinha na casa
do cunhado.
Na quinta-feira, quando a
água começou a baixar, desceram para ver os estragos da enchente. "Emocionei-me, mas
fiquei feliz de saber que minhas
filhas estavam comigo", afirma
Oudnéia.
Para limpar a lama, usaram a
própria água da chuva. Não havia abastecimento nas torneiras. Foi suficiente apenas para
a faxina dos quartos e da frente
da casa. A cozinha anexa e um
outro cômodo ainda estão de
pernas para o ar.
Na sexta, com a família de
volta à casa, ainda havia assadeira e talheres na lama. O único colchão que sobrou foi movido para a sala. E mais uma vez a
ajuda veio dos parentes, que
emprestaram uma TV pequena
para a diversão das meninas.
Na casa de três quartos e uma
sala grande, o cômodo das filhas Rúbia, 4, e Ana Paula, 3, está vazio. Foi tudo jogado fora.
A maior dificuldade do casal
era responder às dúvidas da pequena Rúbia, que, ao ver a água
invadir a casa, perguntava:
"Mãe, pra que tanta água? Está
molhando meus brinquedos".
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