São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2008

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Zeladora enfrentou três grandes enchentes

MOACYR LOPES JUNIOR
ENVIADO ESPECIAL A ITAJAÍ

Na mesma casa da rua Aristide Francisco Palumbo, em Dom Bosco, um dos tantos bairros alagados pela enchente de Itajaí, a zeladora Oudnéia da Silva Alexandre, 43, já passou por três enchentes.
Da primeira, em 1983, quando tinha 18 anos, ela se lembra do trabalho que teve na limpeza pesada. Da outra, no ano seguinte, a mesma recordação.
Hoje, 24 anos depois, o cenário é mais desolador, e o prejuízo, maior.
"Neste ano foi pior, perdemos a metade das nossas coisas. A casa é grande, era de minha mãe que morreu há dois anos", afirma.
A família perdeu três colchões, a mesa da cozinha, roupas e uma TV de 29 polegadas que, recém-comprada a prazo, já não funciona mais, para angústia do marido, Rubens Osmar Alexandre, 45, encarregado de almoxarifado.
Há sete meses no emprego, há sete dias não vai trabalhar: a empresa também está alagada.
Com a água que insistentemente subia, a família deixou a casa para se abrigar no piso de cima, onde mora o irmão mais velho de Oudnéia. Durante a chuva que começou forte no fim de semana passado, eles não acreditavam que a enchente seria tão grave.
Eram quatro adultos e duas crianças. Sem luz, telefone ou bateria de celular. Ilhados, não puderam sair de casa. A distração era ouvir os barcos passando na rua e as conversas dos vizinhos.
Nesses dias de isolamento, a comida era o que tinha na casa do cunhado.
Na quinta-feira, quando a água começou a baixar, desceram para ver os estragos da enchente. "Emocionei-me, mas fiquei feliz de saber que minhas filhas estavam comigo", afirma Oudnéia.
Para limpar a lama, usaram a própria água da chuva. Não havia abastecimento nas torneiras. Foi suficiente apenas para a faxina dos quartos e da frente da casa. A cozinha anexa e um outro cômodo ainda estão de pernas para o ar.
Na sexta, com a família de volta à casa, ainda havia assadeira e talheres na lama. O único colchão que sobrou foi movido para a sala. E mais uma vez a ajuda veio dos parentes, que emprestaram uma TV pequena para a diversão das meninas.
Na casa de três quartos e uma sala grande, o cômodo das filhas Rúbia, 4, e Ana Paula, 3, está vazio. Foi tudo jogado fora.
A maior dificuldade do casal era responder às dúvidas da pequena Rúbia, que, ao ver a água invadir a casa, perguntava: "Mãe, pra que tanta água? Está molhando meus brinquedos".


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