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Sistema de lixo no litoral norte entra em colapso
Último aterro da região, em Ubatuba, foi fechado pela Cetesb há uma semana; quatro cidades tentam criar local único
Caminhões percorrem
trajeto de até 210 km para
transportar resíduos; custo
com serviço em Ubatuba
pode ter aumento de 427%
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O sistema de depósito de lixo
no litoral norte de São Paulo
entrou em colapso. Há uma semana, a Cetesb (agência ambiental paulista) interditou o
último local usado para despejar lixo, no Ipiranguinha, em
Ubatuba, pondo fim a um processo que vem se arrastando
desde 2004, quando foi fechado
o depósito de Ilhabela.
Assim, nenhuma das quatro
cidades -São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba- tem local para depositar o
lixo. Juntas, elas geram mensalmente 5.000 t de resíduos,
uma média 166 t ao dia, volume
chega a triplicar no verão.
Sem alternativa, três das cidades recorreram a aterros sanitários em Tremembé, no Vale
do Paraíba, e Santa Isabel, cidade da Grande São Paulo. Ubatuba também será obrigada a seguir o mesmo caminho.
O resultado é que o lixo coletado na praia de Boracéia, por
exemplo, na divisa entre São
Sebastião e Bertioga, passa pelas mãos dos garis, é colocado
em um caminhão de 7 t e transportado por cerca de 60 km até
o centro da cidade, onde há
uma estação de transbordo.
Dessa estação, o lixo é transferido para uma carreta de 30 t,
toma a estrada e vai até Tremembé -um percurso total de
210 km, de Boracéia, passando
pela estreita Rio-Santos e
transpondo a serra do Mar e o
Vale do Paraíba.
Em Ilhabela, a logística é ainda mais complicada. O lixo é coletado e colocado em caminhões, que têm de esperar a
maré favorável para embarcar
na balsa da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.).
Além de congestionar ainda
mais a já complicada Rio-Santos, em que rodar alguns quilômetros pode levar horas durante a temporada -é comum ver
na rodovia grandes filas atrás
de caminhões-, a "exportação"
do lixo para Tremembé encarece ainda mais o sistema.
Em Caraguatatuba, onde o
depósito da fazenda Serramar
foi fechado em 22 de fevereiro
de 2007, a prefeitura gasta
R$ 120 por tonelada somente
para transportar e depositar os
resíduos em Santa Isabel, além
dos R$ 80 da coleta.
O secretário de Obras de
Ubatuba, João Paulo Rolim,
disse que já orçou o custo para
encaminhar o lixo para a mesma cidade. Segundo ele, o custo
por tonelada vai saltar de R$ 37
para até R$ 195.
Rolim vem tentando na Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental)
mais prazo para continuar operando o depósito, mas não há
mais espaço para lixo lá. "Não
dura até o Carnaval", diz.
Segundo Rolim, com a exportação dos dejetos, o custo anual
da operação deve chegar a R$ 5
milhões. Para efeito de comparação, o município tem no Orçamento R$ 1,2 milhão para asfaltar ruas e avenidas.
O secretário de Estado do
Meio Ambiente, Xico Graziano,
afirma que não vai permitir que
sejam criados novos aterros
sem todas as licenças ambientais. "Os locais que foram fechados não vão abrir mais. E
vamos ser rigorosos com os
projetos [de aterros], quaisquer
que sejam", afirma.
Graziano afirma que o Estado não deve interferir em busca
de soluções e que uma alternativa deve ser encontrada pelos
próprios prefeitos.
O advogado Eduardo Hypolito do Rego, que integra o Consema (Conselho Estadual do
Meio Ambiente), afirma que o
colapso é resultado de anos de
descaso com a questão.
"É uma morte anunciada.
Todos sabiam que os antigos
depósitos tinham data para
acabar", diz o ambientalista.
As prefeituras das quatro cidades já chegaram a discutir a
formação de um consórcio para
a construção de um aterro sanitário em Caraguatatuba, considerada única cidade com local
mais apropriado para isso.
O projeto não foi, porém, à
frente. Os prefeitos dessas cidades devem voltar a debater o assunto a partir de janeiro, já que
haverá troca de comando em
três cidades. Somente o democrata Eduardo Cesar, de Ubatuba, conseguiu reeleger-se.
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