São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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Sotaque estrangeiro domina turismo em Jeri

Donos de estabelecimentos têm diversas nacionalidades e decidiram mudar para o local após realizar várias visitas

Cardápios e avisos da vila no Ceará são escritos em outras línguas que não o português; até o prefeito do município é espanhol

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JERICOACOARA (CE)

O litoral cearense abriga um território quase estrangeiro, onde italianos, espanhóis, franceses, canadenses, norte-americanos e pessoas de outras nacionalidades são a maioria entre os turistas e os donos de equipamentos turísticos: a vila de Jericoacoara, conhecido paraíso tropical quase isolado, a 320 km de Fortaleza.
No lugar da comida típica cearense, da peixada e da carne de sol, há dezenas de restaurantes que oferecem massas, crepes, churrasco argentino, comida francesa e até sushi.
No cardápio e na portaria dos estabelecimentos, a língua que predomina não é o português, mas as demais.
Os nativos são difíceis de encontrar. Vendedora de uma loja de suvenires, Rosana Lima, 23, poucas vezes saiu da vila e nunca deixou o Ceará. Mas o sotaque pouco lembra o cearense. "É que a gente fala com tanta gente, mas eu "ser" daqui mesmo", disse.
Até o prefeito municipal é estrangeiro, um espanhol que está no cargo desde 1993.
Dos brasileiros presentes, a maioria é do Sudeste ou Sul.
A explicação para essa invasão estrangeira vem do windsurfe. Há dez anos, o gaúcho Fábio Nobre, 40, teve a idéia de inserir Jericoacoara no circuito mundial de praias onde se pratica o esporte -o que conseguiu há cinco anos. Desde então, o maior fluxo turístico é para velejar.
Hoje, ele tem um negócio, o Club Ventos, onde se pode aprender windsurfe, alugar equipamentos, comer e se orientar sobre a direção dos fortes ventos da praia. "Pegamos o turista no aeroporto e depois o levamos de volta. Ele só vem ao Ceará para vir a Jeri", disse. Todos os seus funcionários têm de falar pelo menos um pouco de inglês. Na recepção, uma sueca e um brasileiro fluente em inglês trabalham para orientar os clientes.

Apaixonados
A história dos estrangeiros que chegam a Jericoacoara para ficar e abrir um negócio é sempre muito parecida. Visitam a praia uma vez, voltam em seguida, mais uma vez, e, por fim, decidem largar tudo e investir em alguma coisa lá.
Com euros ou dólares, moedas mais valorizadas que o real, conseguem abrir empreendimentos bonitos e bem cuidados e mantê-los mesmo no período de baixa estação, de fevereiro a junho, quando chove e pouca gente aparece.
"Não dá para um brasileiro se sustentar nesse período. Os custos fixos ficam altos demais", disse Edmila Barbosa Vasconcelos, 23, nascida em Jijoca de Jericoacoara, sede do município, e dona de uma pousada na vila. Para sobreviver, ela arrenda o local para estrangeiros, sempre que aparecem interessados.
Recém-chegado a Jericoacoara, o espanhol Pedro Toríbio, 38, já era chef de cozinha em Bilbao quando decidiu se mudar para a praia e abrir o próprio negócio. O restaurante, Toro, serve churrascos e massas. "Já tinha estado em Jericoacoara outras quatro vezes e me apaixonei. Aqui, não trabalho tanto como lá, tenho o dia na praia, uma tranqüilidade maior e segurança", disse.
Para os turistas, estar em um local com tanta diversidade de idiomas e culturas é também uma forma de se sentir um pouco em casa.
"Tinha uma grande preocupação em vir, por causa da violência que se ouve falar do Brasil, e da falta de infra-estrutura, mas tive essa grande surpresa quando cheguei. Espero voltar logo", disse a francesa Christelle Lorraine, 25.


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