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Sotaque estrangeiro domina turismo em Jeri
Donos de estabelecimentos têm diversas nacionalidades e decidiram mudar para o local após realizar várias visitas
Cardápios e avisos da vila no Ceará são escritos em outras línguas que não o português; até o prefeito do município é espanhol
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JERICOACOARA
(CE)
O litoral cearense abriga um
território quase estrangeiro,
onde italianos, espanhóis, franceses, canadenses, norte-americanos e pessoas de outras nacionalidades são a maioria entre os turistas e os donos de
equipamentos turísticos: a vila
de Jericoacoara, conhecido paraíso tropical quase isolado, a
320 km de Fortaleza.
No lugar da comida típica
cearense, da peixada e da carne
de sol, há dezenas de restaurantes que oferecem massas, crepes, churrasco argentino, comida francesa e até sushi.
No cardápio e na portaria dos
estabelecimentos, a língua que
predomina não é o português,
mas as demais.
Os nativos são difíceis de encontrar. Vendedora de uma loja
de suvenires, Rosana Lima, 23,
poucas vezes saiu da vila e nunca deixou o Ceará. Mas o sotaque pouco lembra o cearense.
"É que a gente fala com tanta
gente, mas eu "ser" daqui mesmo", disse.
Até o prefeito municipal é estrangeiro, um espanhol que está no cargo desde 1993.
Dos brasileiros presentes, a
maioria é do Sudeste ou Sul.
A explicação para essa invasão estrangeira vem do windsurfe. Há dez anos, o gaúcho
Fábio Nobre, 40, teve a idéia de
inserir Jericoacoara no circuito
mundial de praias onde se pratica o esporte -o que conseguiu há cinco anos. Desde então, o maior fluxo turístico é para velejar.
Hoje, ele tem um negócio, o
Club Ventos, onde se pode
aprender windsurfe, alugar
equipamentos, comer e se
orientar sobre a direção dos
fortes ventos da praia. "Pegamos o turista no aeroporto e
depois o levamos de volta. Ele
só vem ao Ceará para vir a Jeri",
disse. Todos os seus funcionários têm de falar pelo menos
um pouco de inglês. Na recepção, uma sueca e um brasileiro
fluente em inglês trabalham
para orientar os clientes.
Apaixonados
A história dos estrangeiros
que chegam a Jericoacoara para ficar e abrir um negócio é
sempre muito parecida. Visitam a praia uma vez, voltam em
seguida, mais uma vez, e, por
fim, decidem largar tudo e investir em alguma coisa lá.
Com euros ou dólares, moedas mais valorizadas que o real,
conseguem abrir empreendimentos bonitos e bem cuidados
e mantê-los mesmo no período
de baixa estação, de fevereiro a
junho, quando chove e pouca
gente aparece.
"Não dá para um brasileiro se
sustentar nesse período. Os
custos fixos ficam altos demais", disse Edmila Barbosa
Vasconcelos, 23, nascida em Jijoca de Jericoacoara, sede do
município, e dona de uma pousada na vila. Para sobreviver,
ela arrenda o local para estrangeiros, sempre que aparecem
interessados.
Recém-chegado a Jericoacoara, o espanhol Pedro Toríbio, 38, já era chef de cozinha
em Bilbao quando decidiu se
mudar para a praia e abrir o
próprio negócio. O restaurante,
Toro, serve churrascos e massas. "Já tinha estado em Jericoacoara outras quatro vezes e
me apaixonei. Aqui, não trabalho tanto como lá, tenho o dia
na praia, uma tranqüilidade
maior e segurança", disse.
Para os turistas, estar em um
local com tanta diversidade de
idiomas e culturas é também
uma forma de se sentir um pouco em casa.
"Tinha uma grande preocupação em vir, por causa da violência que se ouve falar do Brasil, e da falta de infra-estrutura,
mas tive essa grande surpresa
quando cheguei. Espero voltar
logo", disse a francesa Christelle Lorraine, 25.
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