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Prisão de 2006 já sofre com infra-estrutura
Inaugurado em fevereiro de 2006 pelo governo Aécio Neves, presídio em MG apresenta problemas como rachaduras e infiltrações
Em documento, diretor da unidade diz que "fragilidade da estrutura física é visível"
e que local foi apelidado de "cadeia de algodão-doce"
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Inaugurado pelo governo Aécio Neves (PSDB-MG) em fevereiro de 2006, o Presídio Inspetor José Martinho Drumond,
em Ribeirão das Neves (Grande
BH), já apresenta graves problemas de infra-estrutura, como infiltrações, vazamentos,
pisos danificados, rachaduras e
instalações elétricas aparentes.
A situação é descrita em memorandos do próprio governo,
em relatório da Assembléia Legislativa do Estado e em laudos
do Ministério Público mineiro
acessados pela Folha.
Em ofício de agosto deste
ano, por exemplo, o diretor-geral da unidade, Gáuberte Rocha, informa ao subsecretário
da Administração Prisional,
Genilson Zeferino, que a "fragilidade da estrutura física [do
presídio] é visível" e que infiltrações e vazamentos não haviam sido sanados.
"Há rumores entre os presos
de possível fuga em massa devido à debilidade da unidade,
que recebeu a alcunha de "cadeia de algodão-doce'", diz Rocha no documento. Um preso
fugiu desde a abertura.
O quadro põe em xeque a
qualidade da política de expansão do sistema prisional mineiro empreendida por Aécio. A
criação de 10 mil vagas em presídios em cinco anos -havia
apenas 4.900 antes- é sempre
citada pelo governo em seus informes sobre feitos no setor.
A cadeia, que custou R$ 25,1
milhões, tem capacidade para
820 presos, mas abrigava 1.401
no último dia 2, entre provisórios e condenados. A obra ficou
a cargo da KTM Administração
e Engenharia, de Belo Horizonte, que venceu licitação em
2005. A empresa figura entre
as doadoras de campanha de
Aécio, com R$ 76 mil.
O contrato original da obra,
de R$ 18 milhões, recebeu
acréscimo de 40%. Para o Ministério Público, que apura o
caso, houve irregularidade nos
aditamentos, que superam os
25% previstos em lei.
A condição do presídio é conhecida pelo governo pelo menos desde 2006. Em ofício de
dezembro daquele ano ao Deop
(Departamento Estadual de
Obras Públicas), o subsecretário Zeferino diz que há "claramente perigo para toda a comunidade mineira" por causa
dos problemas. "Os vícios estruturais comprometem, em
diversos pontos, a segurança da
unidade carcerária", diz.
Visita da comissão
Em setembro deste ano, a
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia mineira esteve no presídio. Em relatório,
apontou rachaduras nos muros
que isolam as alas da parte externa da unidade, com "abertura de até seis centímetros de
largura". Citou ainda inundações nos corredores técnicos
-áreas que passam por trás das
celas e comportam as redes de
água, esgoto e energia.
Técnicos do setor de engenharia do Ministério Público
também inspecionaram o presídio em setembro. Constataram problemas como vazamentos na "maior parte" dos
tubos e registros, umidade excessiva em pisos e paredes, piso
da cozinha com danos e infiltrações nas paredes das celas,
entre outros problemas.
Familiares
Vazamentos, rachaduras e
infiltrações não são os únicos
problemas do presídio. Segundo parentes, há também falta
de água, como verificado por
eles em um dia de visitas no início do mês.
"Não tinha água nas descargas, nas celas. Os presos saíram
sem tomar banho para receber
as visitas", disse Aline Andrade,
cujo marido cumpre pena por
porte ilegal de arma.
Margarida Maria da Silva, 56,
disse que era a segunda vez que
chegava ao presídio e a unidade
estava sem água. "Quando chegamos os presos estavam todos
gritando "água'", disse Margarida. "O presídio é novo, mas não
foi bem feito."
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