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Governo e Congresso vão ignorar início da reforma ortográfica
Executivo e Legislativo não se prepararam para a mudança; textos oficiais continuarão sendo redigidos com base nas regras antigas
Para a Comissão da Língua Portuguesa, acordo vale a partir do dia 1º e as regras deverão ser adotadas
por todos os brasileiros
ANDREZA MATAIS
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se passar a escrever "idéia"
sem acento a partir do dia 1º de
janeiro vai parecer estranho,
pior será a confusão causada
com as novas regras de português e as atuais coexistindo.
O governo federal, o Senado e
a Câmara dos Deputados vão
ignorar o início da vigência do
acordo ortográfico, concebido
para unificar a grafia da língua
por países que falam e escrevem português (Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal).
Apenas o Supremo Tribunal
Federal vai cumprir as novas
regras desde o início. O órgão
passou os últimos três meses
treinando técnicos e revisores
para que todos os documentos
produzidos passem a ser redigidos pela nova norma no primeiro dia de 2009, como está
definido em decreto.
Apesar de terem regulamentado o acordo e o início de sua
vigência para 1º de janeiro, o
Executivo federal e o Congresso não se prepararam para
cumprir imediatamente a sua
própria decisão. O acordo ortográfico foi assinado em 1990,
mas regulamentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
dia 29 de setembro deste ano,
por meio de um decreto.
Na ocasião, Lula defendeu as
mudanças: "É o reencontro do
Brasil com suas raízes mais
profundas. Como avançar sem
fortalecer a língua, como produzir bens culturais e didáticos
sem uniformidade?", disse.
O Executivo entende que não
está descumprindo o acordo
porque há um período de transição de quatro anos, até 31 de
dezembro de 2012, para adoção
obrigatória das novas regras. O
governo não tem ainda nem
perspectiva de quando passará
a usar a nova grafia.
Os funcionários do governo
não foram treinados e todos os
documentos, como leis, decretos, portarias e qualquer outro
tipo de comunicado continuarão sendo emitidos com as regras que começarão a morrer
nesta semana.
A mesma justificativa -a da
transição de quatro anos-foi
apresentada pelo Ministério da
Educação. A única mudança é
que os livros comprados neste
ano já chegam com as novas regras a partir de 2010 -os distribuídos em 2009 ainda terão as
regras anteriores.
Legislativo
A Câmara dos Deputados e o
Senado nem sequer discutiram
o assunto. Ou seja: estão longe
da implantação do acordo.
Para o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do
MEC, Godofredo de Oliveira
Neto, o prazo de quatro anos foi
colocado para as editoras se
adequarem e não pode ser usado como desculpa para adiar o a
aplicação das novas regras. Segundo ele, o acordo vale a partir
de 1º de janeiro, quando as mudanças deverão ser adotadas
por todos os brasileiros.
"O espírito e a letra do acordo
dizem que é para entrar em vigor no dia 1º de janeiro de
2009", enfatizou Oliveira Neto.
Com a medida, a língua portuguesa será alterada em 0,5%
dos vocábulos no Brasil e em
1,3% em Portugal. As novas regras passarão a ser adotadas pela Folha dia 1º de janeiro.
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