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URBANIDADE
Cidade deficiente
GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL
Designado por Marta
Suplicy para melhorar a
paisagem da cidade, Maurício
Faria descobriu pela pior maneira possível como é difícil a vida urbana de quem depende de uma
cadeira de rodas.
"Só sentindo mesmo na pele para entender o suplício e a discriminação", comenta Faria, novo
presidente da Emurb (Empresa
Municipal de Urbanismo), forçado a locomover-se numa cadeira
de rodas. Em 27 de agosto do ano
passado, ele dormiu na direção
do automóvel, acidentou-se e
quebrou o fêmur. Submetido a
tratamento, imaginou que não
tardaria a voltar a andar.
Não foi o que aconteceu. Viu-se
obrigado a abandonar sua terapia preferida: passear a pé. Quando era vereador na Câmara Municipal de São Paulo e batia a ansiedade, embrenhava-se pelas
ruas do centro, para desanuviar o
espírito e recuperar o equilíbrio
psicológico. "Conhecemos de verdade uma cidade quando a vivenciamos a pé."
Para chegar à sede da Emurb,
no edifício Martinelli, primeiro
arranha-céu de São Paulo, pede
ajuda; muitas vezes é carregado.
Ao aventurar-se sozinho no
centro, descobriu que havia no
chão um sistema de ventilação
em formato de grelha. Quase uma
armadilha que, por pouco, não
prendeu as rodas de sua cadeira,
deixado-o imobilizado na rua.
Percebeu o que significam as
calçadas curtas, irregulares, esburacadas e sem rebaixamento. Vivenciou a dificuldade de entrar
em prédios, teatros, cinemas, lojas
e restaurantes.
"Fui ao cinema e me certifiquei
se havia acesso especial. Havia
um elevador. Só que, depois do filme, o equipamento estava quebrado. Tive de sair carregado.
Hoje, vivo apenas em espaços fechados. Nem mesmo os parques
estão dotados de recursos para os
portadores de deficiência."
O aprendizado transformou-o
num militante a favor dos portadores de deficiência. Com uma diferença: poder de influir nas decisões urbanas.
Como presidente da Emurb, ele
decidiu articular um lobby nas
várias esferas da prefeitura para
obrigar a garantia de acesso especial -a começar dos parques e
áreas públicas. "Vou ordenar, vigiar e cobrar", diz, ainda sem saber quando vai conseguir voltar a
andar sem ajuda.
E-mail: gdimen@uol.com.br
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