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VIOLÊNCIA
Apavoradas, mulheres que praticaram furto em hipermercado e denunciaram castigo de traficantes querem deixar o Rio
"O tráfico caça até no inferno", diz ameaçada
FREE LANCE PARA A FOLHA
Andréa Cristina dos Santos, 30,
não consegue explicar como conseguiu fugir dos seguranças do
Carrefour de Jacarepaguá (zona
oeste do Rio) para pedir socorro e
salvar a vida de sua amiga Geni
Ribeiro Barbosa, 27. Teme a vingança dos traficantes chamados
por vigilantes da empresa para
puní-las pelo furto de oito frascos
de protetor solar.
"O tráfico é uma máfia e a máfia
te caça até no inferno", disse Andréa em entrevista ontem à tarde à Folha.
Ela e Geni são moradoras de
uma das favelas que cercam o
bairro da Pavuna (zona norte).
Dividem um barraco de madeira.
Ambas, apavoradas, querem
sair do Rio, mas não sabem como
farão. Evitam a qualquer custo o
contato com jornalistas e fogem
de fotógrafos.
No último sábado, foram protagonistas de um caso que revela a
crise de autoridade do Estado brasileiro. Pegas em flagrante furtando produtos do hipermercado,
foram levadas, a mando do gerente da loja, para uma sala. Os seguranças, segundo o relato das amigas à polícia, em vez de procurarem a polícia, chamaram os "donos da favela" Cidade de Deus para castigá-las pelo crime.
Armados, os traficantes, liderados por um tal de Quinha, teriam levado Geni para a favela e ameaçado espancá-la com pedaços de paus e queimá-la com pneus.
Um dos membros do bando voltou ao Carrefour, segundo Andréa, para levá-la ao encontro de
Geni. Foi nesse momento, que ela
conseguiu escapar e sair gritando
em busca de socorro.
As cenas de sequestro, cárcere
privado e tortura promovidas por
funcionários do Carrefour e bandidos duraram duas horas.
O advogado das duas mulheres,
que se identifica apenas como
Luiz, concorda com Andréa em
relação aos traficantes. "Pobre é
defunto barato. Não quero complicar a vida de ninguém", disse.
Até o final da tarde de ontem,
nenhuma autoridade havia oferecido proteção policial para as
duas desempregadas.
Folha - Como você e sua amiga
Geni estão vivendo?
Andréa Cristina dos Santos - Estamos com muito medo. Estou na
casa de uma amiga porque temo
que me procurem. Geni não sai de
casa e não fala com ninguém.
Folha - O que realmente aconteceu no sábado à tarde?
Andréa - Não quero dar de coitadinha e dizer que eu não fiz nada,
mas tenho medo de contar o que
eles fizeram. Nós mexemos com o
tráfico. O tráfico é uma máfia, e a
máfia te caça até no inferno.
Folha - O que vocês pretendem
fazer agora?
Andréa - Não temos dinheiro.
Tentamos ir para fora do Rio.
Folha - Vocês foram informadas
que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai pedir à Secretaria de Segurança Pública proteção
policial para vocês duas?
Andréa - Seria ótimo. Falaria
mais se houvessem políticos me
protegendo. O que eles fizeram
com a minha amiga pode não ser
a única punição. Por isso meu advogado mandou eu ficar calada.
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