São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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Hipermercado será ouvido na 6ª

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A Polícia Federal vai ouvir na sexta-feira representantes do hipermercado Carrefour para que a empresa explique os critérios de contratação de vigilantes. O depoimento acontecerá na sede da PF no Rio, na praça Mauá (zona portuária da cidade). O inquérito será presidido pela delegada titular da Delegacia de Controle da Segurança Privada, Inês Fraga.
No sábado à tarde, dois seguranças e um gerente da filial de Jacarepaguá teriam chamado traficantes da favela Cidade de Deus, próxima ao supermercado, para que punissem duas mulheres suspeitas de furto. Andréa Cristina dos Santos e Geni Ribeiro Barbosa foram flagradas pelos seguranças José Luís de Alcântara Ferreira e Flávio Augusto Grachet roubando oito frascos de protetor solar.
Levadas para uma sala, as duas foram ameaçadas. O gerente de segurança Tadeu Luís Mendonça Pinto teria então autorizado os vigilantes a chamar os traficantes para que punissem as mulheres.
Geni contou em depoimento na 41ª Delegacia de Polícia que foi levada por um traficante chamado Quinha para o interior da favela, espancada por vários homens, e amarrada dentro de uma pilha de pneus que seria incendiada.
A mulher foi salva por sua amiga Andréa, que conseguiu se soltar e pedir socorro a dois policiais que estavam no hipermercado. Em seu depoimento, Andréa contou que, ao perceber que ela havia encontrado os policiais, o segurança Grachet teria corrido até a favela e avisado os traficantes para soltar Geni.
A suspeita da PF é a mesma do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, Chico Alencar (PT). Para Alencar, o episódio mostra que gerentes e diretores dos supermercados do Rio estão cientes de um acordo tácito com o crime organizado para inibir os furtos.
De acordo com policiais da 41ª DP, onde o caso foi registrado, advogados dos seguranças disseram que o supermercado prioriza a contratação de seguranças que "morem e conheçam na região".
Afastados pela direção do Carrefour, o gerente e os seguranças permanecem presos, acusados de sequestro, cárcere privado e formação de quadrilha, crimes inafiançáveis. Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do Carrefour disse que o supermercado só se pronunciará sobre o assunto após a conclusão da sindicância interna e da apuração da polícia.




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