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análise
Crise é a maior do governo, mas não a única
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
O inédito movimento de
protesto de coronéis da
Polícia Militar do Rio é a
maior crise enfrentada pelo governador Sérgio Cabral na área de segurança
pública, mas não é a única.
Em julho, com seis meses de governo e às vésperas dos Jogos Pan-Americanos, os policiais civis fizeram uma paralisação de
48 h por aumento salarial,
mas não chegaram ao enfrentamento ocorrido
com os PMs. Como foi interrompido antes dos Jogos, não houve punições.
Mas o maior problema
no Rio continua sendo a
falta de confiança da população na política de segurança. O governo tem a
seu favor a queda de alguns indicadores, como
homicídio -14% em relação a 2006. Mas continua
sendo uma polícia violenta
e pouco eficaz.
A polícia foi responsável, em 2007, por uma em
cada cinco mortes por
agressão, quando estudos
internacionais apontam
para um índice admissível
de no máximo 3%. O número de mortos em confronto com a polícia bateu
o recorde desde o início do
indicador, em 1998: 1.260,
18% a mais do que em
2006. Essa polícia apreendeu, em 2007, menos drogas (-14%) e armas (-22%)
do que em 2006 e fez menos prisões (-17%).
A política de confronto
com criminosos nas favelas não resultou na redução do tráfico em nenhuma delas, apesar do grande
número de mortes de moradores sem envolvimento com o crime.
O movimento dos coronéis é a explosão da insatisfação da PM contida ao
longo dos últimos anos e
tem como principal motor
a reivindicação salarial. Os
oficiais reclamam de três
pontos: perda salarial, falta de isonomia com a Polícia Civil, que tem melhores salários, e o que chamam de política do faz-de-conta do governo sobre o
"bico", o segundo emprego, ilegal, que quase todos
os PMs têm de fazer para
complementar o salário.
A gota d'água para a expansão do movimento entre a alta oficialidade teria
sido a entrevista do secretário José Mariano Beltrame ao jornal "O Dia" no
domingo, na qual questionou a PM: "Essa instituição está dando a resposta a
ponto de merecer o retorno salarial? É confiável?".
A crise explodiu às vésperas do Carnaval e a poucas semanas do maior desafio para um governador
do Rio: implementar com
segurança obras que chegam a R$ 1 bilhão em quatro conjuntos de favelas
dominadas pelo tráfico.
Segundo o governo, o
planejamento da ocupação destas favelas já está
feito e o movimento não
atrasará o início das obras.
Mas não há como falar em
ocupação sem envolvimento total da PM.
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