São Paulo, quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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análise

Crise é a maior do governo, mas não a única

MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

O inédito movimento de protesto de coronéis da Polícia Militar do Rio é a maior crise enfrentada pelo governador Sérgio Cabral na área de segurança pública, mas não é a única.
Em julho, com seis meses de governo e às vésperas dos Jogos Pan-Americanos, os policiais civis fizeram uma paralisação de 48 h por aumento salarial, mas não chegaram ao enfrentamento ocorrido com os PMs. Como foi interrompido antes dos Jogos, não houve punições.
Mas o maior problema no Rio continua sendo a falta de confiança da população na política de segurança. O governo tem a seu favor a queda de alguns indicadores, como homicídio -14% em relação a 2006. Mas continua sendo uma polícia violenta e pouco eficaz.
A polícia foi responsável, em 2007, por uma em cada cinco mortes por agressão, quando estudos internacionais apontam para um índice admissível de no máximo 3%. O número de mortos em confronto com a polícia bateu o recorde desde o início do indicador, em 1998: 1.260, 18% a mais do que em 2006. Essa polícia apreendeu, em 2007, menos drogas (-14%) e armas (-22%) do que em 2006 e fez menos prisões (-17%).
A política de confronto com criminosos nas favelas não resultou na redução do tráfico em nenhuma delas, apesar do grande número de mortes de moradores sem envolvimento com o crime.
O movimento dos coronéis é a explosão da insatisfação da PM contida ao longo dos últimos anos e tem como principal motor a reivindicação salarial. Os oficiais reclamam de três pontos: perda salarial, falta de isonomia com a Polícia Civil, que tem melhores salários, e o que chamam de política do faz-de-conta do governo sobre o "bico", o segundo emprego, ilegal, que quase todos os PMs têm de fazer para complementar o salário.
A gota d'água para a expansão do movimento entre a alta oficialidade teria sido a entrevista do secretário José Mariano Beltrame ao jornal "O Dia" no domingo, na qual questionou a PM: "Essa instituição está dando a resposta a ponto de merecer o retorno salarial? É confiável?".
A crise explodiu às vésperas do Carnaval e a poucas semanas do maior desafio para um governador do Rio: implementar com segurança obras que chegam a R$ 1 bilhão em quatro conjuntos de favelas dominadas pelo tráfico.
Segundo o governo, o planejamento da ocupação destas favelas já está feito e o movimento não atrasará o início das obras. Mas não há como falar em ocupação sem envolvimento total da PM.


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