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Associação no litoral paga sobrevoo contra barracos
Proprietários de casas em São Sebastião fiscalizam desmatamento e ocupação irregular
Fiscalização será ampliada em fevereiro e abrange casas de alto padrão; identificação é feita com ajuda de fotografias aéreas
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS
Proprietários de casas de veraneio em praias da costa sul de
São Sebastião (litoral norte de
São Paulo) estão fiscalizando,
por conta própria, o desmatamento e a ocupação irregular
de áreas protegidas na região.
Com a ajuda de fotografias
aéreas tiradas por um piloto de
paramotor (uma espécie de paraquedas motorizado), eles
identificam a destruição da mata ou a construção ilegal de casas, principalmente barracos, e
denunciam à prefeitura para
que seja feita a demolição.
A fiscalização começou no
semestre passado na praia da
Baleia, onde estão algumas das
casas de veraneio mais caras da
região. A iniciativa foi da Sabaleia, associação que reúne donos de casas naquela praia.
Entre julho e dezembro, o
paramotor sobrevoou semanalmente a região da Baleia e
da praia vizinha, Barra do Sahy,
em busca de sinais de invasão.
Com base nas fotos, a associação fez denúncias à prefeitura
que resultaram, até agora, na
demolição de cinco barracos.
Pelo serviço, a Sabaleia pagou cerca de R$ 1.500 mensais
ao piloto do paramotor.
A partir de fevereiro, a vigilância aérea deve abranger toda
a região da costa sul de São Sebastião, onde estão praias como Maresias, Juqueí, Barra do
Una, Camburi e Paúba.
O projeto será financiado pela Federação Pró-Costa Atlântica, que reúne associações de
veranistas de 16 praias.
Presidente da Sabaleia e
idealizador do projeto de fiscalização, Marcos Penteado, dono há cerca de 45 anos de uma
casa na Baleia, disse que espera
que a fiscalização ajude a prefeitura a frear a ocupação irregular e a preservar a mata.
Ele apontou, porém, que o
objetivo principal do projeto é
evitar danos à praia da Baleia.
Um dos problemas gerados pela ocupação irregular é o despejo de esgoto nos rios da região,
que acabam poluindo as praias.
"A preservação da praia é o
que mais interessa e é o mais
importante. Isso aí quem está
pagando é a Sabaleia, que representa 90% das casas [na
praia]", disse Penteado.
De acordo ele, a fiscalização
não tem como foco apenas os
barracos de moradores de baixa renda. Ele citou exemplo de
uma casa de alto padrão demolida na região em 2009 após denúncia da associação.
O presidente da Federação
Pró-Costa Atlântica, Sérgio Pereira de Souza, disse que ainda
neste semestre todo o trecho
entre as praias de Baraqueçaba,
ao norte, e Boraceia, ao sul, vai
ser coberto pela fiscalização. "O
nosso objetivo é deter a invasão, a ocupação irregular. E, para isso, estamos oferecendo
subsídios à prefeitura", disse.
Debate
Souza diz que, sem uma política que ofereça uma solução de
moradia a famílias de baixa
renda da cidade, a tendência é
que as pessoas flagradas na fiscalização acabem invadindo
outras áreas, menos vigiadas.
De acordo com ele, as associações estão dispostas a discutir projetos habitacionais. "Por
enquanto, nós temos capacidade de tentar intervir nessa área
[fiscalização e denúncia]. Mas
se formos chamados para participar das discussões sobre o
plano diretor, por exemplo, nós
vamos", disse.
A secretária de Meio Ambiente de São Sebastião, Traud
Rossi, chamou de "fantástico" o
trabalho das associações. "A secretaria não tem estrutura suficiente para atuar em todo o
município, que tem 110 km."
Para ela, a fiscalização feita
pelas associações "é geral", ou
seja, não focaliza apenas invasões feitas por pessoas de baixa
renda. O trabalho, diz, tem o
mérito de preservar a vida de
pessoas em áreas de risco.
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