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EPIDEMIA
Notificações da doença no país já chegam a 317,7 mil neste ano, 107,5% a mais do que no primeiro trimestre do ano passado
Casos de dengue dobram e projetam recorde
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Levantamento inédito da Folha
mostra que os casos notificados
de dengue neste ano no Brasil já
são 317.787 -107,5% a mais do
que os 153.148 registrados de janeiro a março do ano passado.
Se mantiver o ritmo de crescimento semelhante ao de 2001, o
número de 2002 chegará a pelo
menos 829 mil até dezembro, superando o recorde histórico de
1998 (559.237 casos). No ano passado houve 399.306 notificações.
Até agora há 59 mortes por dengue confirmadas desde janeiro na
Bahia (1), Ceará (2), Espírito Santo (1), Goiás (2), Paraíba (1), Pernambuco (3), Rio de Janeiro (47)
e Distrito Federal (2).
Na Bahia (2), Goiás (7), Minas
(3), Paraná (1), Rio Grande do
Norte (3) e no Distrito Federal (2),
outras 18 mortes aguardam confirmação laboratorial para comprovar a dengue como causa.
De 1990 a 2001, de acordo com
relatório do Ministério da Saúde,
a dengue fez 75 vítimas fatais. O
pico da estatística havia sido no
ano passado: 28. Já dobrou.
As notificações crescem em 13
Estados e no Distrito Federal,
caem em 11 e variam menos de
10% em 2, na comparação com os
três primeiros meses de 2001. Há
aumento de 486% no Rio, onde
ocorre a maior epidemia, e 43%
na soma dos demais Estados.
O Estado do Rio, com 129.920,
tem 41% dos casos. Os outros Estados, 59%. Há notificações de
dengue hemorrágica em 15 unidades da federação -foram 12 no
ano passado. No Estado do Rio e
em Recife, Campo Grande e Goiânia há epidemias. No Amazonas e
no Ceará, a dengue refluiu.
Em Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul, houve crescimento da quantidade de contaminados. Nenhum deles contraiu a
doença em seus Estados.
Em São Paulo, há epidemia em
Santos e São Vicente.
O superintendente de Saúde do
Rio de Janeiro, Oscar Berro, diz
que a epidemia no Estado é resultado da descontinuidade de ações
antidengue nos anos passados.
"Se tudo o que se está fazendo
agora tiver continuidade, o número de casos será muito baixo
no ano que vem."
O mapa nacional da dengue é
resultado de levantamento exclusivo feito pela Folha de segunda-feira a quinta-feira em 26 Estados
mais o Distrito Federal.
Foram consultadas 26 secretarias da Saúde. No Amazonas, onde informou-se que os responsáveis pelo combate à doença estariam em viagem, foram considerados os números divulgados dias
antes à imprensa local.
A última estatística da Funasa
(Fundação Nacional de Saúde),
com os casos notificados de janeiro e fevereiro (190.389), foi divulgada no dia 22 deste mês. Mostrava crescimento de 131% na comparação com o mesmo período
do ano passado.
Desde fevereiro, o órgão não divulga mais a tabela completa
("Total de casos notificados por
mês e por unidade federativa"),
especificando os dados por Estado. Mostra apenas os números
nacionais, do Rio e do pacote dos
demais Estados.
A pesquisa da Folha detalha as
notificações por local e atualiza as
tabelas estaduais disponíveis, não
necessariamente já enviadas ao
Ministério da Saúde.
Uma das principais limitações
das autoridades da saúde para
acompanhar doenças endêmicas
(com presença contínua em determinadas regiões) como a dengue é a subnotificação.
Há Estados em que a projeção é
de dez casos existentes para cada
um notificado. Ou seja, é difícil
conhecer a quantidade mesmo
aproximada de pessoas contaminadas pela dengue, especialmente
quando a doença se torna epidêmica (ao superar significativamente a incidência prevista).
O método da Funasa para monitorar a evolução da dengue é
comparar as notificações de determinados meses com o mesmo
período do ano anterior.
A Folha empregou critério
idêntico, apesar de os Estados ainda não terem concluído o balanço
de março -os números vão aumentar. A notificação é tão lenta
que, em muitas localidades, ainda
não foi fechada a estatística de dezembro. Alguns hospitais demoram a informar as secretarias municipais da Saúde, que demoram a
informar as estaduais, que demoram a informar o ministério.
A notificação é feita após diagnóstico laboratorial (exame de
sangue) ou clínico (dos sintomas
do paciente). É como o sistema de
saúde se informa sobre a situação
de doenças endêmicas.
A confirmação dos casos ocorre
de duas maneiras: em exame de
sangue laboratorial ou por critérios clínico-epidemiológicos.
Nos primeiros casos numa cidade ou bairro, há obrigatoriamente
exame laboratorial. Quando se sabe que há transmissão de dengue
na região (critério epidemiológico), basta a análise dos sintomas
(critério clínico). É comum a confirmação demorar muitos meses.
Em vários Estados, inexistem dados sobre 2002. No Espírito Santo,
os laboratórios não enviaram
quase nenhum resultado do ano.
Na Bahia, a checagem laboratorial
é por amostragem -cerca de
uma a cada dez notificações.
No Rio, o número de notificações corresponde praticamente
ao de confirmações, segundo a
Secretaria Estadual da Saúde.
Em São Paulo, conforme o superintendente de controle de endemias, Luiz Jacintho da Silva,
quando os casos confirmados
chegam ao nível de 300 para cada
100 mil habitantes, o teste laboratorial passa a ser feito por amostragem. É o que já ocorre na Baixada Santista e deve passar a
ocorrer em Lins e Birigui.
Professor de infectologia da
Unicamp, ele relativiza o aumento de 165% nas notificações neste
ano em São Paulo. Diz que os casos confirmados se mantêm no
patamar do ano passado.
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