São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

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EPIDEMIA

Notificações da doença no país já chegam a 317,7 mil neste ano, 107,5% a mais do que no primeiro trimestre do ano passado

Casos de dengue dobram e projetam recorde

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Levantamento inédito da Folha mostra que os casos notificados de dengue neste ano no Brasil já são 317.787 -107,5% a mais do que os 153.148 registrados de janeiro a março do ano passado.
Se mantiver o ritmo de crescimento semelhante ao de 2001, o número de 2002 chegará a pelo menos 829 mil até dezembro, superando o recorde histórico de 1998 (559.237 casos). No ano passado houve 399.306 notificações.
Até agora há 59 mortes por dengue confirmadas desde janeiro na Bahia (1), Ceará (2), Espírito Santo (1), Goiás (2), Paraíba (1), Pernambuco (3), Rio de Janeiro (47) e Distrito Federal (2).
Na Bahia (2), Goiás (7), Minas (3), Paraná (1), Rio Grande do Norte (3) e no Distrito Federal (2), outras 18 mortes aguardam confirmação laboratorial para comprovar a dengue como causa.
De 1990 a 2001, de acordo com relatório do Ministério da Saúde, a dengue fez 75 vítimas fatais. O pico da estatística havia sido no ano passado: 28. Já dobrou.
As notificações crescem em 13 Estados e no Distrito Federal, caem em 11 e variam menos de 10% em 2, na comparação com os três primeiros meses de 2001. Há aumento de 486% no Rio, onde ocorre a maior epidemia, e 43% na soma dos demais Estados.
O Estado do Rio, com 129.920, tem 41% dos casos. Os outros Estados, 59%. Há notificações de dengue hemorrágica em 15 unidades da federação -foram 12 no ano passado. No Estado do Rio e em Recife, Campo Grande e Goiânia há epidemias. No Amazonas e no Ceará, a dengue refluiu.
Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, houve crescimento da quantidade de contaminados. Nenhum deles contraiu a doença em seus Estados.
Em São Paulo, há epidemia em Santos e São Vicente.
O superintendente de Saúde do Rio de Janeiro, Oscar Berro, diz que a epidemia no Estado é resultado da descontinuidade de ações antidengue nos anos passados. "Se tudo o que se está fazendo agora tiver continuidade, o número de casos será muito baixo no ano que vem."
O mapa nacional da dengue é resultado de levantamento exclusivo feito pela Folha de segunda-feira a quinta-feira em 26 Estados mais o Distrito Federal.
Foram consultadas 26 secretarias da Saúde. No Amazonas, onde informou-se que os responsáveis pelo combate à doença estariam em viagem, foram considerados os números divulgados dias antes à imprensa local.
A última estatística da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), com os casos notificados de janeiro e fevereiro (190.389), foi divulgada no dia 22 deste mês. Mostrava crescimento de 131% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Desde fevereiro, o órgão não divulga mais a tabela completa ("Total de casos notificados por mês e por unidade federativa"), especificando os dados por Estado. Mostra apenas os números nacionais, do Rio e do pacote dos demais Estados.
A pesquisa da Folha detalha as notificações por local e atualiza as tabelas estaduais disponíveis, não necessariamente já enviadas ao Ministério da Saúde.
Uma das principais limitações das autoridades da saúde para acompanhar doenças endêmicas (com presença contínua em determinadas regiões) como a dengue é a subnotificação.
Há Estados em que a projeção é de dez casos existentes para cada um notificado. Ou seja, é difícil conhecer a quantidade mesmo aproximada de pessoas contaminadas pela dengue, especialmente quando a doença se torna epidêmica (ao superar significativamente a incidência prevista).
O método da Funasa para monitorar a evolução da dengue é comparar as notificações de determinados meses com o mesmo período do ano anterior.
A Folha empregou critério idêntico, apesar de os Estados ainda não terem concluído o balanço de março -os números vão aumentar. A notificação é tão lenta que, em muitas localidades, ainda não foi fechada a estatística de dezembro. Alguns hospitais demoram a informar as secretarias municipais da Saúde, que demoram a informar as estaduais, que demoram a informar o ministério.
A notificação é feita após diagnóstico laboratorial (exame de sangue) ou clínico (dos sintomas do paciente). É como o sistema de saúde se informa sobre a situação de doenças endêmicas.
A confirmação dos casos ocorre de duas maneiras: em exame de sangue laboratorial ou por critérios clínico-epidemiológicos.
Nos primeiros casos numa cidade ou bairro, há obrigatoriamente exame laboratorial. Quando se sabe que há transmissão de dengue na região (critério epidemiológico), basta a análise dos sintomas (critério clínico). É comum a confirmação demorar muitos meses. Em vários Estados, inexistem dados sobre 2002. No Espírito Santo, os laboratórios não enviaram quase nenhum resultado do ano. Na Bahia, a checagem laboratorial é por amostragem -cerca de uma a cada dez notificações.
No Rio, o número de notificações corresponde praticamente ao de confirmações, segundo a Secretaria Estadual da Saúde.
Em São Paulo, conforme o superintendente de controle de endemias, Luiz Jacintho da Silva, quando os casos confirmados chegam ao nível de 300 para cada 100 mil habitantes, o teste laboratorial passa a ser feito por amostragem. É o que já ocorre na Baixada Santista e deve passar a ocorrer em Lins e Birigui.
Professor de infectologia da Unicamp, ele relativiza o aumento de 165% nas notificações neste ano em São Paulo. Diz que os casos confirmados se mantêm no patamar do ano passado.


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