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Funasa diz que é cedo para fazer projeções
DA SUCURSAL DO RIO
A entrada e a expansão no Brasil de um novo sorotipo da dengue, o 3, e o alto nível de infestação do mosquito transmissor, o
Aedes aegypti, contribuíram decisivamente para o crescimento do
número de pessoas infectadas.
Essa é a opinião do diretor do
Centro Nacional de Epidemiologia, órgão da Funasa (Fundação
Nacional de Saúde), Jarbas Barbosa. Ele considera prematura a
projeção de que o Brasil baterá
neste ano o recorde de casos.
"Este ano é de intensa transmissão. Em toda entrada de novo sorotipo há alta epidêmica. Não dá
para fazer projeção ainda porque
cada verão tem uma curva diferente. O pico da transmissão pode
ser abril, março ou fevereiro. Depende de fatores como se as chuvas ocorreram antes ou depois, de
como correu a temperatura etc."
"É por isso que em dengue é
mais complexo fazer previsão",
diz Barbosa. "Nesse verão, nitidamente, há um dado diferente: a
epidemia começou muito cedo
no Rio de Janeiro. Não é normal
começar tão intensa em janeiro.
Costuma começar em março. Pode significar que o pico da curva
pode se deslocar para antes."
Para Barbosa, "numa doença
como a dengue, que tem elevado
número de casos, não é tão importante fazer o diagnóstico [laboratorial] caso a caso".
"A não ser em Estados de baixa
transmissão. No Rio Grande do
Sul e em Santa Catarina, onde não
há transmissão autóctone [no
próprio Estado], é muito importante que o diagnóstico seja feito
com extrema precisão, caso a caso, para detectar quando começa
a transmissão autóctone."
"Num Estado como a Bahia ou
o Rio, todos os casos notificados
que não são descartados passam a
ser considerados como dengue",
afirma. "Na dengue, metade dos
casos são assintomáticos [sem
sintomas] ou oligossintomáticos
[poucos sintomas, levando a vítima a pensar que não teve a doença]. As notificações não registram
todos os casos."
A Funasa recomenda que, nos
locais onde há alto nível de transmissão do vírus, o diagnóstico da
dengue seja feito pelo critério clínico-epidemiológico, considerando os sintomas do paciente e o
nível de transmissão do vírus na
localidade, sem necessidade do
exame de sangue.
"Num bairro em que se sabe
que há transmissão, todo caso
sintomático que o médico achar
que é dengue vai ser registrado
como dengue. Há poucos casos
que na realidade são de outras viroses. É uma quantidade muito
pequena. Quando há intensidade
muito grande de transmissão, é
muito provável que 90% ou mais
dos casos suspeitos sejam mesmo
dengue", afirma.
No ano passado, de cada dois
casos notificados em São Paulo,
só um foi confirmado. "Isso é típico de uma situação epidemiológica muito particular", diz. No resto
do país é diferente, afirma.
Na opinião do diretor do centro
da Funasa, a estatística sobre dengue, baseada nas notificações, tem
como importância maior mostrar
a tendência de transmissão da
doença. "Esse sistema [de notificação] é o mesmo ao longo dos
anos. Não é ultra-específico para
determinar o número exato de casos. Mas não é isso o que a gente
quer com a dengue. A gente quer
detectar tendências."
"Se o sistema pega 30% dos casos, se os números aumentam ou
caem num determinado ano, ele é
útil para detectar a tendência."
Além da introdução do sorotipo
3 (há quatro tipos do vírus da
dengue), Barbosa destaca a ação
de um subsorotipo 2, bem mais
agressivo. É a principal causa de
dengue hemorrágica em Goiás,
por exemplo.
(MM)
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