São Paulo, domingo, 31 de março de 2002

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Funasa diz que é cedo para fazer projeções

DA SUCURSAL DO RIO

A entrada e a expansão no Brasil de um novo sorotipo da dengue, o 3, e o alto nível de infestação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, contribuíram decisivamente para o crescimento do número de pessoas infectadas.
Essa é a opinião do diretor do Centro Nacional de Epidemiologia, órgão da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Jarbas Barbosa. Ele considera prematura a projeção de que o Brasil baterá neste ano o recorde de casos.
"Este ano é de intensa transmissão. Em toda entrada de novo sorotipo há alta epidêmica. Não dá para fazer projeção ainda porque cada verão tem uma curva diferente. O pico da transmissão pode ser abril, março ou fevereiro. Depende de fatores como se as chuvas ocorreram antes ou depois, de como correu a temperatura etc."
"É por isso que em dengue é mais complexo fazer previsão", diz Barbosa. "Nesse verão, nitidamente, há um dado diferente: a epidemia começou muito cedo no Rio de Janeiro. Não é normal começar tão intensa em janeiro. Costuma começar em março. Pode significar que o pico da curva pode se deslocar para antes."
Para Barbosa, "numa doença como a dengue, que tem elevado número de casos, não é tão importante fazer o diagnóstico [laboratorial] caso a caso".
"A não ser em Estados de baixa transmissão. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, onde não há transmissão autóctone [no próprio Estado], é muito importante que o diagnóstico seja feito com extrema precisão, caso a caso, para detectar quando começa a transmissão autóctone."
"Num Estado como a Bahia ou o Rio, todos os casos notificados que não são descartados passam a ser considerados como dengue", afirma. "Na dengue, metade dos casos são assintomáticos [sem sintomas] ou oligossintomáticos [poucos sintomas, levando a vítima a pensar que não teve a doença]. As notificações não registram todos os casos."
A Funasa recomenda que, nos locais onde há alto nível de transmissão do vírus, o diagnóstico da dengue seja feito pelo critério clínico-epidemiológico, considerando os sintomas do paciente e o nível de transmissão do vírus na localidade, sem necessidade do exame de sangue.
"Num bairro em que se sabe que há transmissão, todo caso sintomático que o médico achar que é dengue vai ser registrado como dengue. Há poucos casos que na realidade são de outras viroses. É uma quantidade muito pequena. Quando há intensidade muito grande de transmissão, é muito provável que 90% ou mais dos casos suspeitos sejam mesmo dengue", afirma.
No ano passado, de cada dois casos notificados em São Paulo, só um foi confirmado. "Isso é típico de uma situação epidemiológica muito particular", diz. No resto do país é diferente, afirma.
Na opinião do diretor do centro da Funasa, a estatística sobre dengue, baseada nas notificações, tem como importância maior mostrar a tendência de transmissão da doença. "Esse sistema [de notificação] é o mesmo ao longo dos anos. Não é ultra-específico para determinar o número exato de casos. Mas não é isso o que a gente quer com a dengue. A gente quer detectar tendências."
"Se o sistema pega 30% dos casos, se os números aumentam ou caem num determinado ano, ele é útil para detectar a tendência."
Além da introdução do sorotipo 3 (há quatro tipos do vírus da dengue), Barbosa destaca a ação de um subsorotipo 2, bem mais agressivo. É a principal causa de dengue hemorrágica em Goiás, por exemplo. (MM)


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