|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PASQUALE CIPRO NETO
"Sua proposta é idêntica à dos..."
Quem nunca ouviu dizer que nunca ocorre crase antes de palavras masculinas? Ao pé da letra, isso é verdade, mas...
A
ÚLTIMA COLUNA rendeu inúmeras mensagens dos leitores. Não faltaram questionamentos sobre "dicas" e "macetes" a
respeito do assunto (crase), como o
famoso "Se vou a e venho da, crase
há; se vou a e venho de, crase pra
quê?". "Isso funciona, professor?",
perguntaram alguns leitores.
Pode até funcionar, se quem o
emprega não meter os pés pelas
mãos. Para errar a mão, basta
achar, por exemplo, que o fato de
que se volta ou se vem da Holanda
dá a quem escreve o direito de lascar um acento indicador de crase
no "a" de algo como "Visite a Holanda" ou "Conheça a Holanda".
E por que não há acento no "a"
dos dois exemplos que encerram o
parágrafo anterior? Simplesmente
porque não ocorre crase, ou seja,
não há fusão de um "a" com outro.
Os verbos "visitar" e "conhecer"
não regem preposição (ninguém
visita ou conhece a algum lugar,
certo?), portanto o "a" que antecede o substantivo feminino "Holanda" é apenas artigo definido, determinante do referido topônimo.
E para "acertar a mão" no emprego do "Se vou a e venho da..."?
Basta lembrar que isso funciona
com meia dúzia de verbos, ou seja,
com os que indicam idéia de "movimento em direção a" e regem a
preposição "a" ("ir", "levar", "chegar", "dirigir-se" etc.). Mas é sempre bom lembrar que o "piloto automático" pode causar estragos irreparáveis. Melhor mesmo é ter
noção plena do mecanismo e, aí
sim, se for o caso, aplicar algum artifício. Se com a reflexão muitas vezes a coisa é difícil, imagine com as
tais bitolinhas mal empregadas...
Veja o caso das palavras masculinas. Quem é que nunca ouviu a primeira "lei" do emprego do acento
grave, que "determina" que nunca
ocorre crase antes de palavra masculina? Ao pé da letra, isso é verdade, mas quem leva isso a ferro e fogo pode não enxergar o que está subentendido e deixar de acentuar o
"a" em frases como esta: "Sua proposta é idêntica à dos concorrentes". Quem vir o "a" antes da palavra masculina "dos" e não pensar...
Se pensar, verá que entre as palavras "à" e "dos" está subentendida
a palavra "proposta": "Sua proposta é idêntica à (proposta) dos concorrentes". O adjetivo "idêntica"
rege a preposição "a" (se algo é
idêntico, é idêntico a). Essa preposição se funde com o "a" que se refere ao vocábulo "proposta".
A simples troca do substantivo
feminino "proposta" por um masculino similar (eis um belo artifício!) é suficiente para que se perceba o que ocorre em casos como esse: "Seu argumento é idêntico ao
(argumento) dos concorrentes".
Notou? O que no masculino é "ao"
(a + o) no feminino é "à" (a + a).
Bem, como se vê, ninguém escapa
de certos macetes, desde que empregados com a devida atenção.
Outro caso citado pelos leitores é
o do "à" que vem antes do pronome
relativo "que", como o deste exemplo: "Esta camisa é igual à que vimos ontem". Que artifício se pode
usar agora? Mais uma vez, o da troca do substantivo feminino "camisa" por um congênere masculino,
como "vestido", "calção" etc. Surge
"ao", não? Então vamos lá: "Este
vestido é igual ao que vimos ontem"; "Esta camisa é igual à que...".
A coisa ainda vai longe. É isso.
inculta@uol.com.br
Texto Anterior: Loja que "repaginar" fachada terá abatimento de IPTU Próximo Texto: Trânsito: CET monitora tráfego para a Maratona Internacional de SP Índice
|