São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Promotoria investiga se IPT fez laudo para favorecer HC

Parecer apontou cortes em cabos como provável causa do incêndio no Natal de 2007

Ministério Público Estadual questiona o fato de somente engenheiros civis, e não elétricos, terem assinado o documento

ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual investiga se o parecer produzido pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) sobre as causas do incêndio no Hospital das Clínicas de São Paulo na noite do Natal de 2007 foi direcionado para atender aos interesses da direção do HC.
Com o documento, que apontou como provável causa do incêndio cortes em cabos de energia elétrica, a superintendência do hospital sustenta a tese de que o incêndio foi resultado de uma tentativa de furto desses cabos.
Essa versão afastou, em tese, a principal suspeita sobre os motivos do acidente que pairavam até então e vista como prejudicial à direção do HC: de o incêndio ter sido causado por motivos relacionados à falta de manutenção do prédio, inclusive da própria rede elétrica.
O que reforça a suspeita dos promotores são os depoimentos de dois engenheiros elétricos ouvidos no inquérito do Ministério Público. Eles foram unânimes em afastar como causa do incêndio uma eventual tentativa de furto, já que as características dos cortes nos fios e a seqüência da falta de energia não seguem a lógica desse tipo de crime.
"O seccionamento dos fios na diagonal teria uma justificativa diferente daquela a que chegou o IPT. A pessoa também poderia morrer eletrocutada. E outra: no momento que seccionasse um cabo, um fio, o próprio hospital teria alguma sinalização disso. Alguma área do hospital apagaria. O laudo do IPT diz que o apagão se deu quase que simultaneamente, logo em seguida à detecção do incêndio", afirmou o promotor José Carlos Freitas (Habitação), um dos responsáveis pela investigação.
A principal indagação da Promotoria é por que o IPT usou na investigação do incêndio apenas engenheiros civis, e não um engenheiro elétrico, já que um problema na rede seria uma possível linha de apuração.
Os técnicos e a direção do IPT terão de dar explicações sobre isso. Os dois engenheiros que assinaram o parecer devem ser chamados já na próxima semana. "O Ministério Público não vai fazer nenhum juízo de valor agora, mas acha estranho que engenheiro civil faça um laudo também abarcando questões de engenharia elétrica", disse o promotor Freitas.
"Quando o laudo tratou de análise química, essa parte do laudo foi encaminhada para os engenheiros químicos. No que diz respeito à parte elétrica, isso não foi feito. Essa dúvida nós vamos colocar aos engenheiros do IPT para esclarecerem. Por que houve essa análise por profissionais que não são da área?", disse.
"Nós imaginamos que o laudo tenha pelo menos uma lacuna, que é essa investigação de causas fora do âmbito do conhecimento de engenheiro civil", afirmou Freitas.


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