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MOACYR SCLIAR
Futebol e testosterona
Fredinho tinha duas paixões: seu time e Joana. De repente a tragédia, teve que jogar pela equipe rival
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Os pesquisadores britânicos Sandy
Wolfson e Nick Neave analisaram
até que ponto os hormônios secretados pelos jogadores que atuam no
próprio estádio favorecem a equipe
da casa. Medindo os níveis de testosterona dos jogadores que atuam
em casa e dos visitantes, Wolfson e
Neave concluíram que os níveis de
hormônio se elevam mais nos jogadores que competem no próprio estádio.
Folha.com
ALFREDO, o Fredinho, tinha duas
grandes paixões na vida: o pequeno
time interiorano pelo qual torcia
desde criança -no qual fizera carreira como jogador, tornando-se um
respeitado centroavante- e a sua
mulher, chamada Joana. Um bom time e um bom casamento fazem a felicidade de qualquer homem, era o
que proclamava. E a verdade é que
acreditava sinceramente em suas
palavras.
De repente, a tragédia. Um empresário da cidade assumiu a presidência do time. Era um homem voluntarioso, autoritário, que tinha
suas preferências e suas implicâncias. E entre as implicâncias estava
o Fredinho. Achava que, aos 35
anos, o jogador estava em final de
carreira e deveria ser substituído.
De nada adiantaram os apelos de
torcedores e de outros membros da
diretoria. Quando eu decido, está
decidido, disse o arrogante presidente, e o contrato de Fredinho foi
rescindido.
Para o jogador foi um golpe tão
inesperado quanto arrasador. Ele
jamais pensara naquela sombria
possibilidade e, simplesmente, não
sabia o que fazer. Felizmente o desamparo não durou muito tempo;
uma semana depois foi contratado
por um time rival e voltou a jogar.
Mas já não era a mesma coisa. O
seu novo time era muito bom, o presidente e o técnico tratavam-no de
maneira amistosa e gentil, os outros
jogadores respeitavam-no e até lhe
pediam conselhos.
A verdade, porém, é que ele não
se sentia em casa. O desânimo o invadia e disputar uma partida, coisa
que antes fazia com a maior garra,
agora parecia missão impossível.
E não era só no futebol que encontrava problemas. Na vida conjugal
também começou a ter dificuldades.
Seu desempenho na cama sempre
fora impecável, mas agora simplesmente perdera a vontade.
Joana, mulher compreensiva, não
lhe cobrava nada, mas certamente
estava preocupada. Foi então que
leu a notícia sobre o trabalho dos
pesquisadores britânicos acerca da
testosterona em jogadores de futebol. Mulher informada, inteligente,
deu-se conta de que ali poderia estar a solução.
E estava. Por sugestão dela, Fredinho voltou a jogar no estádio de
seu antigo time. Faz isso na calada
da noite, com a cumplicidade do zelador, amigo de longa data. Sob a
luz do luar, ele adentra o gramado,
fardado e com a bola; corre pelo
gramado, sozinho, como se estivesse numa partida de verdade, como
se ouvisse a torcida aplaudindo-o. O
que o emociona até as lágrimas. E
acaba marcando um gol de placa.
Depois, volta para casa, onde
Joana o espera. Testosterona lá em
cima, eles de imediato vão para a
cama. E aí é outro gol de placa.
MOACYR SCLIAR escreve nesta coluna, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias
publicadas no jornal
moacyr.scliar@uol.com.br
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