São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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PLANOS DE SAÚDE

Diretor de federação fala em reposição desde 1999, mas nega aumento retroativo, que é considerado ilegal

Reajuste repôs "custos passados", diz Fenaseg

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

As seguradoras de saúde consideraram "custos passados" para calcular os reajustes de até 85% aplicados neste mês aos seguros individuais assinados antes de 1999, disse ontem em São Paulo o diretor-jurídico da Fenaseg (Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização), Salvador Cícero.
"É desde 1999", afirmou, ao ser questionado sobre o período considerado para calcular os aumentos. O diretor, no entanto, negou que se trate de cobrança retroativa àquele ano -procedimento considerado ilegal pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e por órgãos de defesa do consumidor.
As empresas fizeram os aumentos com base em liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal em agosto do ano passado. A medida autorizou as empresas a não seguir, nos contratos feitos antes de 1999, os tetos de aumentos fixados anualmente pelo governo. Os reajustes atingiram mais de 300 mil pessoas.
Nesta semana, o governo obteve liminar que limita os aumentos da Bradesco Saúde, SulAmérica e Itaú a 11,75% -teto deste ano- com base no argumento de que os reajustes baseiam-se em cláusulas nebulosas, que ferem o Código de Defesa do Consumidor.
Segundo a Folha apurou, as empresas, nas defesas que já apresentaram, negam a retroatividade com o argumento de que, na verdade, estão adicionando agora percentuais não autorizados pelo governo nos últimos anos.
Para a Bradesco Saúde, por exemplo, trata-se de aplicar o valor não permitido somente a partir deste mês. A ANS não concorda com a tese.
Cícero e o diretor-adjunto de saúde da Fenaseg, Otelo Correa dos Santos Filho, disseram que a federação não tem proposta de acordo com o governo, mas aceita novas discussões. As declarações foram dadas em encontro entre a Fenaseg e entidades de defesa de consumidores, organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo.
Veja trechos da entrevista com Cícero:
 

Pergunta - Há uma crítica de que as cláusulas são nebulosas.
Salvador Cícero
- São contratos antigos, pode ser que sejam claras, pode ser que não.

Pergunta - Com base em custos (...) de que período [são feitos os aumentos]?
Cícero
- Do período todo acumulado, está repondo os valores que não foram corrigidos.

Pergunta - A tentativa foi de retroatividade?
Cícero
- Apenas está se considerando custos passados. Só a diferença percentual. É diferente.

Pergunta - Como é o nome disso?
Cícero
- Considera-se custos passados para calcular a prestação futura. Porque deveria ter sido cobrado há mais tempo um valor maior. Há um cálculo do que deixou de ser aplicado.

Pergunta - Desde 2000?
Cícero
- Desde 99.

Pergunta - A ANS diz que não se pode recuperar o passado.
Cícero
- A ANS tem uma posição, as seguradoras outra, o tribunal outra. Então vai se discutir.


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