São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Transplante custaria R$ 80 mil, diz paciente

Corretor de imóveis já estava anestesiado quando soube que a cirurgia havia sido impedida por causa de irregularidades

Ele afirma que receberia um fígado "marginal", em um transplante particular, após negociar com o grupo do médico Joaquim Ribeiro


DA SUCURSAL DO RIO

Vítima de hepatite C e precisando de um transplante de fígado, o corretor de imóveis de São José dos Campos (interior de SP), Frederico Sattelmayer Júnior, 46, tinha o nome nas listas de espera de São Paulo e do Rio de Janeiro quando recebeu um telefonema animador numa noite de domingo, no ano passado.
Precisava viajar urgentemente para o Rio, onde um órgão "marginal" seria designado para ele. O corretor de imóveis receberia o transplante mediante o pagamento de R$ 80 mil ao médico Joaquim Ribeiro Filho, que foi preso ontem pela Polícia Federal.
Segundo seu pai, ele alugou um táxi aéreo e voou para o Rio, onde foi internado na clínica São Vicente. Anestesiado e pronto para ser operado, recebeu a notícia de que a Central Estadual de Transplantes do Rio impediu a cirurgia, alegando irregularidade. A mulher ainda tentou recorrer à Justiça, mas não teve sucesso.
A seguir, a entrevista de Sattelmayer Júnior à Folha:

 

FOLHA - Por que o sr. não conseguiu ser operado?
FREDERICO SATTELMAYER JÚNIOR -
Ligaram para avisar que havia um órgão marginal no Rio. Quando é assim, sai da lista de transplantes. Mas a coordenadora de transplantes do Rio de Janeiro não deixou, e o fígado foi perdido. O órgão "marginal" é quando não está nas melhores condições, não é 100%. Cheguei a ser anestesiado.

FOLHA - O sr. ficou frustrado quando não conseguiu ser operado?
SATTELMAYER -
Na verdade, foi ótimo, porque não fiz e acabei sendo operado em São Paulo, recebendo um órgão perfeito, doação de um primo, em vida. Na clínica no Rio de Janeiro, peguei infecção. Nem poderia mais fazer.

FOLHA - Como o sr. conheceu Joaquim Ribeiro Filho?
SATTELMAYER -
Fiquei sabendo que ele tinha uma equipe médica no Rio e fiz uma consulta com um médico de seu grupo, aqui em São Paulo, e, depois, com ele, no Rio.

FOLHA - O transplante seria pelo SUS, plano de saúde ou particular?
SATTELMAYER -
Particular.

FOLHA - Quanto custaria?
SATTELMAYER -
O valor não foi acertado, porque não aconteceu, mas era estimado em R$ 80 mil.

FOLHA - E quanto o sr. pagou depois, em São Paulo?
SATTELMAYER -
Foi mais caro, praticamente o dobro, porque tive de pagar para o meu primo, doador, fazer a cirurgia de retirada. Desfiz-me de alguns bens para pagar, mas depois corro atrás disso.

FOLHA - O sr. está bem hoje?
SATTELMAYER -
Estou bem, graças a Deus. Tive recaída em novembro, a hepatite C voltou, com cirrose, mas o tratamento teve bom resultado.


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