São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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STF manda Exército libertar sargento gay

Laci Marinho de Araújo foi preso em junho acusado de deserção após ter dado entrevistas assumindo sua homossexualidade

Para conceder habeas corpus, Gilmar Mendes alega que a prisão contraria jurisprudência do Supremo; militar foi ontem para a casa de uma amiga


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Gilmar Mendes, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu na noite de anteontem um habeas corpus para o sargento Laci Marinho de Araújo, preso havia quase dois meses sob acusação de deserção, após ter dado entrevista à revista "Época" e ao programa "Superpop", da Rede TV!, nas quais afirmou ser gay e morar com o companheiro e atualmente ex-sargento, Fernando Alcântara.
O sargento, no entanto, só foi libertado no final da tarde de ontem, após passar por exame no IML (Instituto Médico Legal) e se apresentar na unidade em que serve -Hospital Geral de Brasília. No início da noite, Araújo chegou à casa de uma amiga do casal.
Ao mandar soltar o sargento, o presidente do STF afirmou que a decisão do STM (Superior Tribunal Militar), de prender Araújo, contrariou a jurisprudência do STF "por assentar o absoluto descabimento de liberdade provisória em processo de deserção". No tempo em que ficou preso, Araújo relatou tortura física e psicológica dentro do batalhão do Exército.
Seu companheiro também sofreu punições da corporação nesse período. Em junho, antes de deixar o Exército, ele foi detido duas vezes sob a alegação de transgressão disciplinar. Alcântara foi punido por viajar sem permissão e aparecer na televisão com a farda inadequada. Ele ficou quatro dias detido (trabalhando normalmente, mas sem poder deixar o alojamento militar e ir para casa) e outros quatro dias na cadeia. Araújo voltará ao serviço hoje, apesar de não ter condições de saúde para trabalhar, afirma seu companheiro.
A defesa do sargento deve apresentar recurso apontando incapacidade de trabalhar por problemas de saúde. Um laudo militar afirmou em junho que Araújo estava apto para o serviço -documento contestado pela defesa.
O sargento responde na Justiça militar por um processo de deserção. Até o julgamento final, ele não pode deixar o Exército por livre vontade. Apesar de liberado pelo habeas corpus, Araújo pode voltar a ser detido por transgressões disciplinares. O Exército não negou a possibilidade e disse que essa decisão será tomada pelo chefe da unidade do sargento.
Movimentos de defesa dos direitos humanos consideraram as prisões retaliações aos dois sargentos. Araújo alega que não abandonou o trabalho e que tinha licença médica. O Exército nega perseguição aos dois por sua homossexualidade.JOHANNA NUBLAT E FELIPE SELIGMAN


Colaborou Folha Online


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