São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

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Jockey Club quer se tornar mais clube e menos jockey

De olho em clientela AAA, nova diretoria pretende atrair jovens empreendedores

Ideia é reduzir área de apostas transformando salões nobres na sede de um clube de lazer e negócios para sócios

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Com olhos grudados no monitor de TV, Eurico Dias, 85, acompanha o segundo páreo disputado na tarde da última quinta-feira no Hipódromo do Cristal em Porto Alegre (RS).
Ele assiste em tempo real o seu favorito, Hiper Genial, chegar à frente. Divide com dois amigos uma mesa na cafeteria quase vazia do Hipódromo Cidade Jardim do Jockey Club de São Paulo.
Eurico apostou R$ 10, embolsou R$ 32. De quinta à segunda, a rotina do aposentado é tentar a sorte nos cavalos, sua paixão há 78 anos.
Jogadores como Eurico são uma clientela fiel que a nova diretoria do Jockey pretende confinar em uma área hoje abandonada por falta de público: a chamada arquibancada especial, que fica entre a social e a geral.
Em toda a zona que dá acesso à arquibancada social, onde estão os salões mais nobres do Jockey, passaria a funcionar a sede social de um clube de lazer e negócios restrito aos sócios.
A ideia de abrigar um clube é antiga. A novidade é o foco nos engravatados. "Vamos transformar a área, que é tombada, no clube mais requintado de São Paulo", diz Eduardo da Rocha Azevedo, que assumiu a presidência do Jockey Club de São Paulo há quatro meses. "Queremos atrair uma clientela AAA."

MODELO ESTRANGEIRO
Segundo Azevedo, para tirar o Jockey do buraco é preciso investir no modelo dos clubes de negócios europeus e norte-americanos. A ideia é oferecer a executivos e empresas comodidades e serviços que vão de salas de reunião a suítes e heliponto.
Pelo projeto, orçado em R$ 30 milhões, a área de lazer do Jockey seria incrementada com spa, academia de ginástica, pista de cooper ao ar livre e piscinas maiores. "A solução para o Jockey é o clube. Cavalo é prejuízo", afirma Azevedo, que tem 20 animais de corrida nas cocheiras.
A equação menos Jockey mais clube é vista com desconfiança pelos frequentadores assíduos.
"Deixar o Jockey mais elitista pode ser um caminho, mas antes de empurrar o público fiel para outra área é preciso fazer uma reforma completa", defende Thomas Weda, 46, turfista que mantém um cavalo no Jockey.
Os sinais de decadência estão por todos os lados -no mobiliário quebrado dos banheiros, nos estofados de couro puídos e nas ruas esburacadas da Vila Hípica.
Em busca do glamour perdido, quando o Jockey era ponto de encontro de banqueiros e industriais, a diretoria mira jovens empreendedores como sócios. Um atrativo é o valor do título: R$ 5 mil, mais R$ 25 mil de taxa de transferência. Bem menos que o de clubes de elite, como o Harmonia e o Pinheiros.
Entre os 40 novos candidatos a sócios está José Auriemo Neto, diretor presidente do grupo JHSF, do shopping Cidade Jardim. "Estou me associando para recuperar o prestígio do clube."

TERAPIA
Enquanto os novos sócios não chegam e os antigos não voltam a dar as caras, seu Eurico garante sobrevida ao local. "Se não tiver Jockey, não tem vida pra mim. Aqui encontro amigos, bebo cerveja e faço meu joguinho. É terapia", diz o aposentado.
O volume de apostas, que gira em torno de R$ 100 milhões por ano, é insuficiente para manter o Jockey. No entanto, mantém acessa a esperança do aposentado de ganhar novamente um prêmio acumulado de R$ 70 mil, como fez há 12 anos.


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