São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011 |
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Tratar dependente à força é melhor que não tentar nada Para o psicólogo Adi Jaffe, não há modelo de tratamento que sirva para todos Ex-viciado, pesquisador diz que profissionais resistem a variar formas de tratar vício e culpam o paciente pelo fracasso IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO Não funcionou para Amy Winehouse, mas deu certo com o psicólogo americano Adi Jaffe, 35, pesquisador da Universidade da Califórnia. Ex-dependente, atua hoje na elaboração de critérios para apurar a qualidade dos tratamentos. Diz que as diferentes formas de combater o vício (psicoterapias, internação, remédios, grupos de apoio mútuo) têm igual eficácia (25% a 30% dos casos). Em entrevista à Folha, Jaffe defende até a controversa internação compulsória que, para ele, é melhor do que não expor o dependente a nenhuma tentativa de tratamento. Folha - O sr. diz que reabilitação funciona melhor do que se imagina. O que deu errado no caso de Amy Winehouse? Adi Jaffe - Obviamente, eu só posso supor. Eu acredito que, se um tipo de tratamento não dá certo, sua melhor aposta é procurar outro. Amy tentou um rehab [programa de reabilitação] que não funcionou e ela deixou claro que não queria aquilo. Aparentemente, em vez de tentarem outro tipo de tratamento, ficaram repetindo a mesma abordagem. Quais são os tratamentos? Temos basicamente três grandes classes. Os medicamentos funcionam de modos diferentes. Alguns minimizam efeitos da abstinência, outros bloqueiam a sensação de prazer causada por álcool. Alguns remédios para depressão e ansiedade também podem ser bastante eficazes. A psicoterapia cognitivo-comportamental ajuda a pessoa a entender o que a leva a beber e a descobrir estratégias para mudar o hábito. Há também técnicas motivacionais, que são uma boa coisa para quem resiste a se tratar. O apoio social, ou ajuda mútua, é basicamente o modelo dos Alcoólicos Anônimos. A ideia, resumidamente, é que não há permissões [às substâncias], apenas dependentes ajudando outros. Qual funciona melhor? A resposta fácil seria dizer uma combinação de todos, mas não é assim na vida real. Uma resposta baseada em evidências é que todos têm mais ou menos as mesmas taxas de sucesso. Dão certo para 25% a 30% das pessoas. Por que tão pouco sucesso? Essa é a porcentagem de cura para casos mais graves. A maioria só vai se tratar quando está muito mal. Imagine se, para medir a eficácia de um remédio para câncer, só contassem os casos de cura da doença no estágio mais avançado. No alcoolismo, só temos doentes em estágio 4. Outro problema é que a qualidade das clínicas ou dos serviços é muito desigual. Como escolher o tratamento? Não dá para prever quem reagirá melhor a um ou outro tipo. Mas temos critérios para saber se aquilo não está funcionando e, nesse caso, trocar o tratamento. Mas quase ninguém faz isso. Por quê? Muitos profissionais tendem a achar que sua linha é a melhor para todos e que, se não deu certo, o problema é o paciente. O sucesso do tratamento depende também do médico, da clínica, de bom senso para rever a estratégia. Quando a pessoa não quer se tratar, vale a pena forçá-la? Muitos afirmam que, sem motivação, nada funciona. Mas minha experiência diz que a exposição a qualquer tratamento, até a reabilitação feita à força, é melhor do que não tentar nada. Foi esse o seu caso? Posso dizer que sim. Aos 21 anos comecei a usar speed (metanfetamina) e, em pouco tempo, a traficar a droga. Passei oito anos nessa vida, até ser preso. Minha escolha era ir para a clínica ou passar um tempo na prisão. Não foi exatamente uma escolha. E funcionou? Passei três meses em uma clínica, até ser expulso por usar drogas. Minha sorte é que me colocaram em outra clínica. Fiquei dez meses internado. E funcionou. Texto Anterior: Santuário em Cotia abriga animais abandonados Próximo Texto: Foco: Camiseta de esquadrão da morte é vendida nos Jardins Índice | Comunicar Erros |
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