São Paulo, sábado, 31 de agosto de 2002

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AIDS

Pastoral Carcerária encaminhará ao Ministério Público relatório com denúncia de espancamento na penitenciária de Potim

Preso morre por falta de medicamento

CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

Por falta de medicação adequada para tratamento de Aids, um detento da Penitenciária Compacta 2 de Potim (170 km de São Paulo) morreu na quarta-feira no hospital Sanatorinhos Aparecida. As unidades prisionais de Potim abrigam pelo menos 20 presos com a doença.
A causa da morte está registrada no laudo assinado pelo cirurgião-geral do hospital Celso Teixeira da Silva, de 28 de agosto.
Desde que foi transferido de Iperó (SP) para Potim, há três meses, Marcio Martins Souza, não recebia o coquetel anti-Aids.
O cirurgião-geral do hospital, que atendeu o preso no dia de sua morte, constatou que o quadro de infecção de Souza era avançado porque ele estava sem tomar os medicamentos adequados.
"Fiz uma solicitação para o governo do Estado pedindo que enviasse os remédios ao preso. Tive dificuldades para encontrar a pessoa correta para a situação. Não consegui os medicamentos e ele morreu durante a madrugada", disse o cirurgião.
Souza, que estava preso havia três anos por tráfico de drogas, foi internado no Sanatorinhos com uma infecção no estômago, hipotermia e vômito.
Segundo Leilson de Souza Alfredo, coordenador arquidiocesano da Pastoral Carcerária de Aparecida, o único médico que atende os 1.823 presos das duas unidades de Potim, uma vez por semana, é um voluntário.
"O governo inaugurou as unidades há seis meses e até hoje elas não têm médicos. A partir do momento em que o indivíduo é preso, fica sob a custódia do Estado, o que inclui a responsabilidade do tratamento dos doentes", disse.
De acordo com o cirurgião, o Sanatorinhos não tem estrutura para atender os casos de Aids e outras doenças dos presos.
"Procurei um infectologista para atender o preso [Souza", mas não consegui. É um transtorno para o hospital receber esses pacientes, que têm de estar sempre acompanhados de escolta."
A família de Souza disse que vai entrar com uma ação contra o Estado por negligência no tratamento do preso. O governo não se pronunciou.

Revista
A Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Aparecida encaminhará ao Ministério Público e ao juiz-corregedor das Penitenciárias Compactas de Potim, na próxima semana, um relatório denunciando suposto espancamento de presos e mulheres que estavam fazendo visita, durante a última revista realizada pela Tropa de Choque da Polícia Militar, no dia 17 de agosto.
Segundo Leilson de Souza Alfredo, coordenador da Pastoral Carcerária de Aparecida, pelo menos 50 mulheres foram espancadas pelos policiais. "Ainda estamos apurando as denúncias. Fui informado que uma mulher grávida recebeu socos na barriga."
De acordo com a pastoral, as unidades estão abrigando, atualmente, 1.823 presos, o que indica superlotação.

Outro lado
A Comunicação Social da Polícia Militar do Estado de São Paulo informou ontem que, em nenhum momento, a Tropa de Choque agrediu presos ou visitantes durante a revista realizada nas Penitenciárias Compactas de Potim, no último dia 17.
Segundo o tenente-coronel Eliseu Leite de Moraes, chefe do setor, a revista aconteceu em um dia em que os parentes estavam dentro das unidades porque houve uma denúncia de resgate e "não havia como cancelar as visitas".
A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária informando o teor da reportagem sobre a negligência ao atendimento a um preso com Aids, mas, até o fechamento desta edição, a assessoria não havia ligado de volta.


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