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AIDS
Pastoral Carcerária encaminhará ao Ministério Público relatório com denúncia de espancamento na penitenciária de Potim
Preso morre por falta de medicamento
CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
Por falta de medicação adequada para tratamento de Aids, um
detento da Penitenciária Compacta 2 de Potim (170 km de São
Paulo) morreu na quarta-feira no
hospital Sanatorinhos Aparecida.
As unidades prisionais de Potim
abrigam pelo menos 20 presos
com a doença.
A causa da morte está registrada
no laudo assinado pelo cirurgião-geral do hospital Celso Teixeira da
Silva, de 28 de agosto.
Desde que foi transferido de
Iperó (SP) para Potim, há três meses, Marcio Martins Souza, não
recebia o coquetel anti-Aids.
O cirurgião-geral do hospital,
que atendeu o preso no dia de sua
morte, constatou que o quadro de
infecção de Souza era avançado
porque ele estava sem tomar os
medicamentos adequados.
"Fiz uma solicitação para o governo do Estado pedindo que enviasse os remédios ao preso. Tive
dificuldades para encontrar a pessoa correta para a situação. Não
consegui os medicamentos e ele
morreu durante a madrugada",
disse o cirurgião.
Souza, que estava preso havia
três anos por tráfico de drogas, foi
internado no Sanatorinhos com
uma infecção no estômago, hipotermia e vômito.
Segundo Leilson de Souza Alfredo, coordenador arquidiocesano da Pastoral Carcerária de Aparecida, o único médico que atende
os 1.823 presos das duas unidades
de Potim, uma vez por semana, é
um voluntário.
"O governo inaugurou as unidades há seis meses e até hoje elas
não têm médicos. A partir do momento em que o indivíduo é preso, fica sob a custódia do Estado, o
que inclui a responsabilidade do
tratamento dos doentes", disse.
De acordo com o cirurgião, o
Sanatorinhos não tem estrutura
para atender os casos de Aids e
outras doenças dos presos.
"Procurei um infectologista para atender o preso [Souza", mas
não consegui. É um transtorno
para o hospital receber esses pacientes, que têm de estar sempre
acompanhados de escolta."
A família de Souza disse que vai
entrar com uma ação contra o Estado por negligência no tratamento do preso. O governo não se
pronunciou.
Revista
A Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Aparecida encaminhará ao Ministério Público e ao juiz-corregedor das Penitenciárias
Compactas de Potim, na próxima
semana, um relatório denunciando suposto espancamento de presos e mulheres que estavam fazendo visita, durante a última revista realizada pela Tropa de Choque da Polícia Militar, no dia 17 de
agosto.
Segundo Leilson de Souza Alfredo, coordenador da Pastoral
Carcerária de Aparecida, pelo
menos 50 mulheres foram espancadas pelos policiais. "Ainda estamos apurando as denúncias. Fui
informado que uma mulher grávida recebeu socos na barriga."
De acordo com a pastoral, as
unidades estão abrigando, atualmente, 1.823 presos, o que indica
superlotação.
Outro lado
A Comunicação Social da Polícia Militar do Estado de São Paulo
informou ontem que, em nenhum momento, a Tropa de Choque agrediu presos ou visitantes
durante a revista realizada nas Penitenciárias Compactas de Potim,
no último dia 17.
Segundo o tenente-coronel Eliseu Leite de Moraes, chefe do setor, a revista aconteceu em um dia
em que os parentes estavam dentro das unidades porque houve
uma denúncia de resgate e "não
havia como cancelar as visitas".
A Folha entrou em contato com
a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Administração
Penitenciária informando o teor
da reportagem sobre a negligência ao atendimento a um preso
com Aids, mas, até o fechamento
desta edição, a assessoria não havia ligado de volta.
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