São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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CRÔNICA DO DESESPERO

Sem movimento e fala e respirando por aparelhos, garoto de 4 anos tem doença degenerativa irreversível

Pai vai pedir à Justiça a eutanásia do filho

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Alegando estar "cansado de sofrer" e após ter conhecimento de que o quadro de saúde de seu filho de quatro anos é irreversível, o recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de Franca (interior de São Paulo), afirmou que vai à Justiça pedir autorização para realizar eutanásia na criança.
Internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed, Jhéck Breener de Oliveira tem uma rara doença degenerativa do sistema nervoso central, segundo o diretor clínico e chefe do CTI infantil do hospital, Luís Fernando Peixe. Não há chance de recuperação.
Para o pai, somente a eutanásia -prática proibida no país pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável sem dor ou sofrimento- resolverá a dor do filho. A mãe do menino, R.S.S. (ela não quer ter seu nome e sua foto divulgados), 22, é contra. O caso foi revelado ontem pelo jornal "Comércio da Franca".
O pai já tentou invadir duas vezes o CTI para desligar os aparelhos, mas foi contido por seguranças do hospital. Agora, quer usar como argumento para conseguir a autorização o caso da norte-americana Terri Schiavo, 41, que neste ano teve desligados os aparelhos que a mantinham viva, após batalha judicial entre o marido dela e os pais.
"Ninguém sabe o que passo. É um sofrimento que não tem fim. Sei que a eutanásia é proibida no Brasil, mas vou até o fim porque não agüento ver meu filho sem sorrir, brincar ou caminhar", afirmou o pai, que não visita o filho há três meses, por "não suportar vê-lo naquela situação".
A síndrome metabólica degenerativa paralisou o corpo da criança e, por isso, há quatro meses ela não deixa o hospital, onde deve continuar até o fim da vida.
O garoto, que completará cinco anos em 21 de setembro, é alimentado por meio de sonda e respira com o auxílio de aparelhos. Jhéck não enxerga, não fala e não movimenta o pescoço, as pernas ou os braços. O quadro é irreversível, de acordo com o diretor do CTI.
Peixe explicou que a criança nasceu com deficiência de uma enzima, que não deixa o cérebro funcionar corretamente. "Como falta a enzima, as células vão enfraquecendo e degenerando. E a doença só se manifestou com quase dois anos [de idade]. É uma doença rara."
"Não tenho mais fé em Deus nem forças para ver o meu filho. Não o visito não é porque não quero, é porque não consigo vê-lo jogado numa cama de hospital."
Segundo o advogado de Oliveira, Marcos Antônio Diniz, o pedido judicial deve ser protocolado em no máximo 15 dias. "Precisamos só de um documento do hospital de Franca e de um outro hospital." Para Oliveira, se o marido de Terri Schiavo conseguiu o seu objetivo nos EUA, é possível que ele consiga no Brasil.


Colaborou KATIUCIA MAGALHÃES, da Folha Ribeirão

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