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CRÔNICA DO DESESPERO
Sem movimento e fala e respirando por aparelhos, garoto de 4 anos tem doença degenerativa irreversível
Pai vai pedir à Justiça a eutanásia do filho
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Alegando estar "cansado de sofrer" e após ter conhecimento de
que o quadro de saúde de seu filho de quatro anos é irreversível, o
recepcionista Jeson de Oliveira,
35, de Franca (interior de São
Paulo), afirmou que vai à Justiça
pedir autorização para realizar
eutanásia na criança.
Internado há quatro meses no
CTI (Centro de Terapia Intensiva)
do hospital Unimed, Jhéck Breener de Oliveira tem uma rara
doença degenerativa do sistema
nervoso central, segundo o diretor clínico e chefe do CTI infantil
do hospital, Luís Fernando Peixe.
Não há chance de recuperação.
Para o pai, somente a eutanásia
-prática proibida no país pela
qual se busca abreviar a vida de
um doente incurável sem dor ou
sofrimento- resolverá a dor do
filho. A mãe do menino, R.S.S.
(ela não quer ter seu nome e sua
foto divulgados), 22, é contra. O
caso foi revelado ontem pelo jornal "Comércio da Franca".
O pai já tentou invadir duas vezes o CTI para desligar os aparelhos, mas foi contido por seguranças do hospital. Agora, quer usar
como argumento para conseguir
a autorização o caso da norte-americana Terri Schiavo, 41, que
neste ano teve desligados os aparelhos que a mantinham viva,
após batalha judicial entre o marido dela e os pais.
"Ninguém sabe o que passo. É
um sofrimento que não tem fim.
Sei que a eutanásia é proibida no
Brasil, mas vou até o fim porque
não agüento ver meu filho sem
sorrir, brincar ou caminhar", afirmou o pai, que não visita o filho
há três meses, por "não suportar
vê-lo naquela situação".
A síndrome metabólica degenerativa paralisou o corpo da criança e, por isso, há quatro meses ela
não deixa o hospital, onde deve
continuar até o fim da vida.
O garoto, que completará cinco
anos em 21 de setembro, é alimentado por meio de sonda e respira
com o auxílio de aparelhos. Jhéck
não enxerga, não fala e não movimenta o pescoço, as pernas ou os
braços. O quadro é irreversível, de
acordo com o diretor do CTI.
Peixe explicou que a criança
nasceu com deficiência de uma
enzima, que não deixa o cérebro
funcionar corretamente. "Como
falta a enzima, as células vão enfraquecendo e degenerando. E a
doença só se manifestou com
quase dois anos [de idade]. É uma
doença rara."
"Não tenho mais fé em Deus
nem forças para ver o meu filho.
Não o visito não é porque não
quero, é porque não consigo vê-lo
jogado numa cama de hospital."
Segundo o advogado de Oliveira, Marcos Antônio Diniz, o pedido judicial deve ser protocolado
em no máximo 15 dias. "Precisamos só de um documento do hospital de Franca e de um outro hospital." Para Oliveira, se o marido
de Terri Schiavo conseguiu o seu
objetivo nos EUA, é possível que
ele consiga no Brasil.
Colaborou KATIUCIA MAGALHÃES, da
Folha Ribeirão
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