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Expedição revela ruínas de vilarejo submerso
Mergulhadores mapearam vestígios de vila a 15 m de profundidade no interior de MG, inundada em 1970 para construção de represa
Na semana passada, foi encontrada a última peça para identificar o antigo vilarejo: uma balsa no fundo da represa do rio Grande
JOEL SILVA
ENVIADO ESPECIAL A MIGUELÓPOLIS (SP)
"Olha moço, quando você
sente saudade de sua cidade natal, pode pegar um carro e ir visitá-la. No meu caso, não. Minha cidade natal está lá embaixo da represa." Assim diz Maria
Clotilde Tosta, 63, nascida e
criada até os 25 anos no vilarejo
de Quebra-Chifre, às margens
do rio Grande, interior de Minas Gerais.
Hoje, o pequeno vilarejo está
a 15 metros de profundidade,
no fundo da represa do rio
Grande, criada em 1970, após a
construção da usina de Volta
Grande. O rio Grande separa
São Paulo e Minas -Miguelópolis (a 460 km de SP) é a última cidade do lado paulista.
"Éramos felizes. Eu dava aula
e fazia minhas compras do mês
na "venda'", lembra a professora Clotilde, que ensinava em
uma pequena escola a 100 metros da venda.
Ela viu seu passado ser invadido pelas águas pouco a pouco,
depois de 1970. Ela nunca mais
voltou às margens da represa.
Diz que ainda sente falta daquela vida e do lugar -vive,
agora, das recordações de sua
antiga e submersa terra natal.
Hoje, cabos de náilon demarcam a cidade, que foi mapeada
por três mergulhadores, Ricardo Machado, Hugo Ravagnani e
o fazendeiro Manuel Pontes Jr
-que chegou a conhecer a cidade quando era pequeno e que
voltou a matar a saudade.
"Eu estive aqui quando pequeno. Costumava brincar entre o curral de bois. Foi emocionante rever tudo isso", disse,
após um mergulho.
Os três começaram as buscas
das ruínas da cidade, orientados por antigos moradores. Os
trabalhos de localização duraram seis meses. O primeiro casarão encontrado era a antiga
venda. A partir de então, começaram as redescobrir a cidade,
tarefa que demorou três anos.
Na semana passada, a última
peça para que a história dessa
pequena cidade fosse emergida
foi encontrada: a balsa usada
para a travessia de gado entre
Minas Gerais e São Paulo. A expedição, agora, está concluída.
Para se chegar à cidade, uma
pequena garrafa serve como
bóia e indica a localização para
os mergulhadores, que descem
por uma corda até chegar às
ruínas da antiga venda.
Do lado direito, dez metros
adiante, encontra-se ao curral
onde era embarcado o gado para São Paulo. No lado contrário
chega-se ao açougue e, do outro
lado da rua, à caixa d'água.
Na cidade submersa é possível avistar paredes caídas e
uma casa por onde os mergulhadores, ao passar pelos cômodos e janelas, vêem detalhes
-um fogão à lenha ainda inteiro e alguns móveis, como a mesa que servia para cortar carne
no açougue e garrafas de bebida
intactas no interior da venda.
Há, ainda, um casarão de dois
andares, batizado pelos mergulhadores como "castelinho" pelo formato das torres. Uma escada leva ao segundo piso, onde
se vê uma cozinha e janelas. Do
lado de fora, vê-se a cisterna e a
base de concreto do casarão.
Mergulhar pela cidade é uma
volta ao passado para redescobrir a vida do pequeno vilarejo
de Quebra-Chifre.
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